quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Feliz és tu, Simão, filho de Jonas! (Mt 16,17)

Jesus aproveita a passagem por Cesareia de Filipe para interrogar os seus discípulos sobre a sua pessoa. A terra helenizada, mais ou menos estrangeira e pagã, serve assim de quadro ou reserva ecológica a uma pergunta fundamental. Quem dizem os homens que eu sou?
Apresentadas as várias respostas possíveis e imaginárias, Jesus interroga directamente os discípulos, pois também eles devem saber dar uma resposta, devem saber dizer quem é Aquele que seguem.
É Pedro que toma a palavra para dizer em seu nome e possivelmente como porta-voz do grupo que Jesus é “Cristo, o filho do Deus Vivo”. Resposta correcta e que Jesus confirma, ressalvando no entanto, que não tinha sido a carne nem o sangue que lhe tinham dado aquele conhecimento mas o Pai que está nos Céus.
Esta ressalva de Jesus, o conhecimento dado pelo Pai do Céu, confronta-se no entanto com a forma como Jesus trata Pedro, ou mais correctamente, Simão o filho de Jonas. Uma vez mais Jesus relaciona-se com Pedro tendo presente a sua condição humana, a sua identidade terrestre, manifestando a distância e a proximidade em que se encontram.
E o mais surpreendente deste tratamento, desta nomeação, é que Jesus afirma a felicidade de Simão, filho de Jonas. Parece haver assim uma contradição entre a forma como Jesus trata Pedro, referindo-se à felicidade na sua natureza carnal, e o conhecimento divino que não é dado pela carne ou pelo sangue.
Este paradoxo das palavras de Jesus é ultrapassado quando assumimos que é na nossa condição humana que podemos e devemos buscar a verdade do conhecimento divino, conhecimento e verdade que nunca chegaremos a alcançar na nossa limitação e finitude humanas, mas que nos serão revelados pelo próprio Deus na carne e no sangue.
A felicidade encontra-se assim na nossa humanidade e nesse desejo de conhecimento, nessa busca árdua feita na carne e no sangue, nessa adesão à humanidade de Jesus que nos conduz à natureza e ao conhecimento divinos.
Simão, filho de Jonas, é feliz porque na sua condição humana e nas suas limitações se encontra com Jesus, segue Jesus, e em Jesus se encontra com a verdade que lhe é revelada pelo Pai do Céu de que ele é o Filho Amado.
Para nós podermos dar esta resposta necessitamos também seguir Jesus, encontrar-nos na nossa humanidade com a sua humanidade, e passar algumas vezes por essa terra estrangeira ou pagã, em que nos é colocada a pergunta, “e tu quem dizes que eu sou?”
Esta pergunta de Jesus obriga-nos a uma resposta, uma resposta que por não ser verdadeiramente nossa, porque é dada pelo Espirito, nos perturba, nos desinstala, nos faz avançar por outros caminhos, nos interpela a um outro compromisso mais fiel e verdadeiro.
Alegremo-nos pela interpelação e pela resposta transfigurante que o Espirito faz nascer em nós.

 
Ilustração: “São Pedro pregando”, de Masolino da Panicale, Capela Brancacci, Florença.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Li e reli o texto da Meditação que teceu envolto para mim nalguma complexidade mas aparentemente claro quando penso na questão colocada por Jesus aos discípulos e que se dirige a cada um de nós e que recolocamos nos momentos e nas situações mais imprevistas porque não está resolvida.
    Como nos lembra para podermos dar a resposta de Simão, filho de Jonas, ...” necessitamos também seguir Jesus, encontrar-nos na nossa humanidade com a sua humanidade, e passar algumas vezes por essa terra estrangeira ou pagã, em que nos é colocada a pergunta, “e tu quem dizes que eu sou?””

    Recordando (Mateus 28,30), Jesus disse “Vinde a Mim, todos os que andais cansados e deprimidos, e Eu vos aliviarei.Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve”.E para o encontro com este Amor que nos ultrapassa, que nos segura nas nossas fragilidades, que nos dá coragem para continuar a caminhada, o bom combate falta, por vezes, um pequeno e grande passo que vamos adiando, Frei José Carlos.

    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, pela reflexão a que nos conduz, por salientar-nos que ...” Esta pergunta de Jesus obriga-nos a uma resposta, uma resposta que por não ser verdadeiramente nossa, porque é dada pelo Espirito, nos perturba, nos desinstala, nos faz avançar por outros caminhos, nos interpela a um outro compromisso mais fiel e verdadeiro.”
    Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Que a nossa resposta à pergunta de Jesus, mesmo tendo que passar por "terras estrangeiras", seja sempre na alegria, na fidelidade e na disponibilidade. E.C.

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