terça-feira, 21 de julho de 2020

Registo do Óbito de Frei António de Santa Catarina Vellez OP


Registo do óbito de Frei António de Santa Catarina Vellez, que foi Superior do Convento de São Domingos de Évora, Procurador do Mosteiro da Saudação de Montemor-o-Novo, e após a exclaustração de 1834 Pároco de São Marcos da Abóbada, em Évora.

Aos vinte e oito dias do mês de Janeiro de mil oitocentos cinquenta e nove faleceu nesta freguesia da Santa Sé o Reverendo António de Santa Catarina Vellez, Presbitero Egresso da extinta Ordem dos Pregadores. Tinha setenta e cinco anos. Recebeu os sacramentos que se administram aos enfermos; fez testamento; e jaz no cemitério público. Do que fiz este termo. Ano ut supra. 
O Presentado Francisco Luís Vargas

domingo, 19 de julho de 2020

Homilia XVI Domingo do Tempo Comum - Ano A



Caríssimos Irmãos

O Evangelho de São Mateus que escutámos, apresenta-nos três parábolas, na continuidade da parábola que escutámos no domingo passado, e que nos falava do semeador que saía a semear em vários tipos de terrenos.
Continuamos, assim, nesta simbólica da semente, da sementeira e da colheita a abordar a fecundidade da semente, da palavra de Deus, dos filhos de Deus, do Reino de Deus. Há uma força inata em cada uma destas realidades capaz de transformar as situações de ameaça e de perigo, de adversidade, e que encontramos claramente expressa na pequenez da semente de mostarda, que se transforma na maior das plantas da horta, e no fermento que leveda três medidas de farinha.
A parábola do trigo e do joio, mais complexa e elaborada com outras questões, parte da mesma convicção; a semente, os filhos de Deus no mundo, têm poder para crescer, para se desenvolver, dar fruto e até um fruto mais abundante que o produzido pelo joio, pelas obras do mal. Para tal é necessário vigilância, tempo, paciência e trabalho pessoal com a ajuda da graça de Deus.
Assim, e como ponto de partida para o desenvolvimento deste processo temos de assumir que tudo o que Deus criou, o que Deus semeia, é bom; são uma fé e uma confiança que devem alicerçar todas as nossas realidades. Contudo, existe o mal, há um inimigo que semeia na noite, desconhecido, e que não deixa de semear paralelamente à sementeira de Deus. Está aí, um mistério incompreensível, o mal que vamos vivendo cada dia e para o qual tantas vezes não temos resposta nem explicação.
E assim como acontece com os servos do semeador na parábola, também nós queremos e propomos de uma forma radical arrancar esse mal; no entanto, o que acontece é que esse mal já cresceu, ao ser visível já conquistou espaço, ganhou raízes, arrancá-lo é uma tarefa perigosa e que exige atenção e precisão. Quantos de nós no jardim ao tentar arrancar uma erva daninha não arrancámos também a planta que queríamos proteger?
A resposta do semeador, de Jesus, que deixemos crescer as plantas do bem e do mal, é igualmente radical, e até desconcertante, mas parte de uma fé profunda na capacidade do homem de trabalhar a terra, o seu coração, e da confiança total na fecundidade da semente do bem, da semente divina.
Uma vez mais, Jesus revela-nos a confiança de Deus no homem, a indulgência e bondade de que nos falava a leitura do Livro da Sabedoria, mas igualmente a paciência de Deus, capaz de esperar, de nos dar tempo, mas sobretudo de aguardar que a fecundidade escondida na semente seja desenvolvida de modo a aniquilar as plantas do mal que vão coabitando. O tempo que Deus nos dá é para que sejamos capazes de purificar o mal que habita em nós através da força que nos vem do seu amor e da sua palavra.
A resposta negativa do semeador, de Jesus, à proposta de se arrancar o joio, encerra igualmente uma outra realidade que para nós, homens e mulheres frágeis e titubeantes no caminho da vida, é uma gratificante fonte de esperança, de paz de coração, pois é-nos dito que há uma época de colheita que não nos pertence, que é de Deus, e assim somos libertos dessa carga constrangedora de ter que fazer a destrinça entre o que é bom e é mau, ou melhor, quais os bons frutos e os maus frutos. Na nossa vida e na nossa caminhada eles andam frequentemente entrelaçados.
Assim nos recorda São João Clímaco, um monge sírio do século quinto, que nos diz que mesmo quando trabalhamos as virtudes acabamos por satisfazer imperceptivelmente alguns vícios, a gula pode misturar-se com a hospitalidade, a luxuria com o amor, a astúcia com o discernimento, a malícia com a prudência, a preguiça com a prudência. Este santo monge diz-nos que quando lançamos o balde ao poço muitas vezes a água traz os limos e, portanto, torna-se necessário repetir o gesto até que a água venha limpa, torna-se necessário esse trabalho de purificação, que nos compete realizar.
O tempo que é dado ao campo, para que as plantas se desenvolvam até ao tempo da colheita, é assim este tempo que nos é dado a cada um de nós para atentos ao pequeno, ao ínfimo, à alquimia criadora que se se insere nas nossas vidas, nada perdermos, para que atentamente não deixemos crescer a semente do joio, cuidando e alimentado as sementes do trigo.
Confiantes da força e fecundidade da palavra de Deus, da vida divina que nos habita, não podemos deixar-nos vencer pelo medo, mas bem pelo contrário devemos invocar o Espírito Santo para que venha em auxílio da nossa fraqueza, como nos recordava São Paulo na leitura da Carta aos Romanos. Afinal ele habita já os nossos corações e a nossa vida, apenas devemos deixá-lo ser mais fecundo, mais forte e mais iluminador, dispondo-nos a acolher o seu processo germinal em cada um de nós.

Ilustração:
1 – Parábola do Semeador. Ícone grego moderno.
2 – Enquanto o semeador dormia, ilustração, Christ’s Object Lesson, by Ellen Gould Harmon White.


Registo de Óbito de Frei Ambrósio Metella Villa Lobos OP

Registo do Óbito de Frei Ambrósio Metella Villa Lobos, penúltimo Prior Provincial da Província Portuguesa da Ordem dos Pregadores antes da extinção das Ordens Religiosas em 1834.

Em o mesmo sétimo dia do mês de Setembro de mil oitocentos e cinquenta e um, no cemitério desta freguesia de São Miguel de Machede, termo da cidade de Évora, se sepultou o corpo do Reverendo Padre Ambrósio Metella Villa Lobos, Prior desta freguesia, de idade de setenta e dois anos, o qual recebeu somente a Extrema Unção em consequência de um ataque de apoplexia que logo o privou de todos os sentidos. Tinha feito testamento. Em fé de que fiz este termo que assinei. Era ut supra. O Cura José Maria Ribeiro