terça-feira, 7 de junho de 2011

É por eles que eu rogo (Jo 17,9)

Jesus prepara-se para entregar a sua vida ao Pai, mas antes centra a sua atenção naqueles que o acompanharam desde sempre, os seus companheiros e discípulos. E se num primeiro momento se lhes dirige directamente, preparando-os para o que dentro de pouco sucederá e para o dom do Espírito que lhes será oferecido, num segundo momento dirige-se ao Pai intercedendo por aqueles que estavam com ele mas ainda não estavam verdadeiramente preparados para o que se passaria e o dom que lhes seria oferecido.
É um gesto de atenção da parte de Jesus, um gesto do seu amor fraterno, mas também uma manifestação da realidade da sua missão. Ele tinha vindo do Pai, tinha recebido os homens, e aqueles homens em particular, e agora devolvia-os ao Pai e ao seu cuidado, porque de facto não eram dele mas do Pai, eram suas criaturas, sua propriedade eleita, seus filhos em adopção.
Jesus nada tem e nada quer para si, tudo remete ao Pai e tudo refere ao Pai, verdadeiro Senhor e verdadeira fonte de toda a sua missão. É o despojamento total, o abandono de tudo e de todos na mão do Pai, a verdadeira liberdade para poder vencer o mundo, porque só um homem livre pode vencer o mundo.
Contudo, esta liberdade e este despojamento não impedem nem inviabilizam o cuidado pelos outros, essa atenção de rogar ao Pai por aqueles que lhe foram entregues, para que não fiquem abandonados. A liberdade não se opõe ao amor, pelo contrário complementam-se e crescem juntos, porque só ama quem é livre e quanto mais se ama mais se deseja a liberdade do outro.
A oração de Jesus ao Pai pelos seus discípulos é para nós um conforto, um motivo de confiança e paz, porque também ela é feita por nós, por cada um de nós. E se naquele momento histórico, situado no tempo e no espaço, ela foi significativa, quanto mais não é agora em que essa prece se apresenta constante e eternamente diante de Deus Pai.
O Filho subido ao céu apresentou-se diante do Pai com a sua oferta de amor, com a vitória sobre a morte do seu amor obediente, e nele apresentou-se toda a nossa humanidade resgatada da infidelidade e do desconhecimento do amor de Deus.
Como esta oferta nos deveria deixar tranquilos, confiantes, dispostos a acolher generosamente o dom do amor de Deus e a vivê-lo sem medos nem peias.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Acabei de ler esta maravilhosa partilha do Evangelho de São João,que partilhou connosco,que muito gostei,vem ao nosso encontro e como nos diz o Frei José Carlos,como esta oferta nos deveria deixar tranquílos,confiantes,dispostos a acolher generosamente o dom do amor de Deus e a vivê-lo sem medos nem peias.
    Com as nossas fragilidades humanas,nem sempre procuramos viver este dom do amor de Deus.
    Muito grata por esta partilha tão profunda que me ajudou muito.Bem haja Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  2. Frei José Carlos,

    Ao recordar-nos o Evangelho do dia (Jo 17,9) , salienta-nos que “Jesus antes de entregar a sua vida ao Pai, centra a sua atenção naqueles que o acompanharam desde sempre, os seus companheiros e discípulos”, como “gesto do seu amor fraterno, mas também uma manifestação da realidade da sua missão”. Mas Frei José Carlos lembra-nos igualmente que …”a oração de Jesus ao Pai pelos seus discípulos é para nós um conforto, um motivo de confiança e paz, porque também ela é feita por nós, por cada um de nós, de forma mais significativa, porque “agora essa prece se apresenta constante e eternamente diante de Deus Pai.”…
    Obrigada pela partilha deste texto profundo que nos toca e nos exorta a aceitar ..”o dom do amor de Deus e a vivê-lo sem medos nem peias.” Bem haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva
    P.S. Permita-me, Frei José Carlos que partilhe uma Oração extraída do livro “ UM DEUS QUE DANÇA”, Itinerários para a Oração, Padre José Tolentino, Maio de 2011.
    XXXVI

    O CAMINHO PARA A LIBERDADE

    Tu sabes , Senhor, que o caminho para a liberdade não é um caminho fácil.
    Libertarmo-nos da opacidade do nosso egoísmo,
    sacudirmos a teia ambígua das nossas dependências, buscar a verdade em todas as situações e confrontar-se com ela, não se faz sem luta interior, sem sofrimento.
    Muitas vezes nos sentimos a atravessar desertos que se prolongam.
    Não faltarão mesmo momentos em que a vontade pesa, quase a ponto de desistir.
    Mas faltar à chamada da liberdade é romper a aliança com a plenitude
    para a qual incessantemente nos convocas.

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