terça-feira, 5 de junho de 2012

Mestre, sabemos que és sincero. (Mc 12,14)

Alguns fariseus e partidários de Herodes aproximam-se de Jesus com intenção de lhe armarem uma cilada, de o apanharem de modo a poderem acusá-lo e dar-lhe a morte.
Aproximam-se com segundas intenções, com a mentira no coração, mas apesar disso com a verdade nos lábios.
Aproximam-se reconhecendo não só Jesus como Mestre, mas sobretudo que vive na verdade, que é sincero e não se deixa influenciar nem faz acepção de pessoas.
Ainda que armadilhada a afirmação não deixa de ser um grande elogio para Jesus, não deixa de ser a confirmação daquilo que Jesus dirá de si próprio “eu sou o caminho, a verdade e a vida”.
Tal como estes homens também nós algumas vezes nos aproximamos de Jesus com palavras suaves, com uma segunda intenção no coração, uma vez que não é fácil enfrentar a verdade e a sinceridade de Jesus, a verdade e a sinceridade que nos pede.
Quantas vezes a nossa concepção do seguimento de Jesus não se deixa obscurecer por uma fuga das exigências desse mesmo seguimento, enquanto que outras vezes está no lado oposto do que verdadeiramente significa seguir Jesus.
E neste sentido, temos que ter presente que a moeda que Jesus pede àqueles fariseus, e a referência à imagem nela cunhada, nos convida a um sentido verdadeiro do seguimento, a uma compreensão mais perfeita do que significa ser cristão.
De facto, o que está em causa é a verdade da imagem, porque estamos chamados a ser verdadeira imagem de Deus, a desenvolver em nós um coração grande e misericordioso como o de Deus Pai, uma sinceridade pura que permita reconhecer a verdade dos outros enquanto imagens de Deus.
Tal como nos diz São João na sua Primeira Carta (5,20) “em Cristo Jesus nós estamos naquele que é a verdade”, o verdadeiro, e por isso todo o nosso esforço desse consistir em permanecer nele.
Que o Espírito Santo nos ilumine o coração e nos fortaleça nesse desejo de permanecer sempre em perfeita união com Deus e com os irmãos.

Ilustração: “O tributo a César”, de Jacek Malczewsli, pintor simbolista polaco.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Leio e fico a reflectir na Meditação que teceu e partilha. Jesus disse: «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Como nos afirma no texto (…) ”temos que ter presente que a moeda que Jesus pede àqueles fariseus, e a referência à imagem nela cunhada, nos convida a um sentido verdadeiro do seguimento, a uma compreensão mais perfeita do que significa ser cristão.
    De facto, o que está em causa é a verdade da imagem, porque estamos chamados a ser verdadeira imagem de Deus, a desenvolver em nós um coração grande e misericordioso como o de Deus Pai, uma sinceridade pura que permita reconhecer a verdade dos outros enquanto imagens de Deus.”…
    Como nos salienta a armadilha tecida a Jesus não deixa de ser a confirmação …” daquilo que Jesus dirá de si próprio “eu sou o caminho, a verdade e a vida”….
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, que ilustrou de forma tão bela, que nos faz reflectir nas nossas incoerências , no significado de ser cristão, deixando-nos um convite para “permanecer sempre em perfeita união com Deus e com os irmãos”.
    Que o Senhor o ilumine e o abençõe.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva


    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP


    faz voltar os nossos desejos



    Deus, nós te procuramos/para além da espera permitida/e do que ao corpo é dado suportar//

    faz-nos voltar dos nossos desertos/dos nossos circos de cera/e dos discursos delirantes//

    faz voltar os nossos desejos/e que os navios da tua ternura/acolham o nosso canto de pobre//


    (In, “O Nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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