quinta-feira, 15 de novembro de 2012

D. João Xavier de Sousa e Trindade, Dominicano da India

Uma das questões que habitualmente se coloca quando nos debruçamos sobre a exclaustração das Ordens Religiosas é o que aconteceu aos frades e religiosos que de um dia para o outro se viram obrigados a abandonar os seus conventos.
Muitos passaram ao anonimato, desapareceram quase sem deixar história, outros no entanto envolveram-se na história e hoje podemos fazer um pequeno retracto das suas vidas. Nestas circunstâncias encontra-se frei João Xavier de Sousa e Trindade, certamente desconhecido de muitos de nós, mas que por mero acaso me veio parar às mãos.
Segundo o que se encontra na grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira João Xavier de Sousa e Trindade nasceu em 1801 em Assagão de Bardez, India. Bramane de nascimento foi educado na fé católica e ainda bastante jovem entrou no convento de São Domingos de Goa.
Ali e no Colégio de São Tomás teria realizado a sua formação e começado a sua carreira, pois como diz num discurso parlamentar em 1840 estudou e ensinou filosofia e teologia, tendo alcançado os graus de Mestre e Doutor
Em 1825 e 1827 assina como Prior os termos de abertura dos Livros de Rendas e Receitas do Colégio de São Tomás de Goa, o que a fazer fé na data de nascimento teria ocupado os lugares de governo muito jovem.
Em 1836 encontra-se em Macau há já alguns anos, e por uma refutação que faz devido a críticas da sua administração do Convento de São Domingos de Goa e do Colégio publicadas no jornal Crónica de Macau, percebemos que teria ocupado também aquele lugar de governo.
Com a extinção das Ordens e encerramento dos conventos frei João Xavier regressa a Goa, onde em Abril de 1839 é eleito deputado às Cortes pelo Estado da India. No ano seguinte está em Lisboa e a 25 de Março ocupa o seu lugar na bancada parlamentar do partido do governo ao lado do advogado António Caetano Pacheco, enquanto os outros representantes do estado da India se sentavam na bancada da oposição.
A sua participação na Assembleia Legislativa teve alguma importância na medida em que não só defendeu o envio da informação legislativa para todas as câmaras das colónias, mas também a constituição de Códigos legislativos que tivessem em conta as particularidades de cada colónia e seus habitantes.
Nesta passagem por Lisboa frei João Xavier é apresentado para bispo e assim quando D. Maria II o nomeia Conselheiro Real em 1843 é já tratado por D. João Xavier na Carta de Mercê. Em 1844 a mesma rainha apresenta-o para Bispo de Malaca.
Com a conclusão dos trabalhos do Parlamento D. frei João Xavier regressa a Goa onde novamente se envolve na política através do partido do Conde de Tomar, o que o traz pela segunda vez a Lisboa como representante do Estado da India às Cortes.
Em 1848 não é reeleito como deputado, apesar das suas expectativas e da Comenda da Ordem de Cristo entregue pela rainha. Contudo, não regressa a Goa e mantém-se em Lisboa onde publica um pequeno opúsculo em 1849 intitulando-se bispo de Malaca, Solor e Timor.
Em 1856 é nomeado prelado para Moçambique, mas não parte de Lisboa, pois encontra-se a residir na Travessa da Pereira à Graça em 1861 de acordo com o Almanaque do Clero do Patriarcado desse mesmo ano.
Até à sua morte, ocorrida a 22 de Janeiro de 1864, pouco mais sabemos da sua vida, mas deve certamente ter continuado a frequentar os círculos políticos pois é sócio da Associação Marítima e Colonial de Lisboa, onde publica alguns artigos no Boletim da Associação.
Fica assim um pouco mais conhecida a história dos egressos dominicanos portugueses e da India.    

Ilustração: Capela de Nossa Senhora do Monte em Goa.  

3 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Foi com interesse que li o texto que elaborou sobre D.João Franscisco Xavier de Sousa e Trintade, Dominicano da India, o desempenho relevante que teve relativamente “às particularidades de cada colónia e seus habitantes”, entre outras contribuições. A questão que coloca “sobre a exclaustração das Ordens Religiosas e o que aconteceu aos frades e religiosos que de um dia para o outro se viram obrigados a abandonar os seus conventos” é pertinente. São sempre momentos conturbados e de muito sofrimento e alguns de nós conhecemos situações vividas em períodos mais recentes, no século passado, com a implantação da I República, nos momentos mais radicais do pós 25 de Abril. Se me permite, este texto levou-me a pensar noutras situações em que os frades e religiosos de forma livre decidem deixar a vida religiosa em que a “integração” na sociedade é bem sucedida e como as duas faces de uma moeda, noutros casos, de forma problemática. Todos conhecemos particularmente no período pós-Concílio Vaticano II e provavelmente na actualidade exemplos das várias situações.
    O importante é a coerência dos princípios e dos actos. O receio do desconhecido é sempre mau conselheiro. Nas diversas opções de vida que fazemos, há para alguns de nós, momentos de dúvida. Jesus Cristo, como Frei José Carlos, tem-nos recordado não obriga, convida, o encontro ou o reencontro com Jesus pode sempre acontecer. Buscamos o Filho de Deus, mas Jesus está sempre vigilante. A fé, a confiança, a perseverança são determinantes.
    Que o Senhor nos ilumine e nos ajude a escolher os melhores caminhos. Que o Senhor o abençoe e proteja.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Excelente texto apesar de não considerar Goa como Índia e sim como Índia Portuguêsa. Os Goeses são portugueses.

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  3. "D. Fr. João Xavier da Trindade e Sousa" foi eleito Deputado "pelos Eleitores do collegio eleitoral da província destas ilhas se Timor e Solor", conforme acta "Dada nesta Praca de Delly, capital das referidas ilhas, em 26 de Abril de 1844".

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