segunda-feira, 3 de junho de 2013

O alimento da confiança

 
A confiança não se alimenta de perfeição ou do orgulho que a priva do suporte dos outros. Mas pelo contrário da compaixão e da simplicidade.
Geneviéve de Taisne

Ilustração: Alunos Maristas a caminho de Fátima a pé na mata do Convento de Cristo em Tomar.

domingo, 2 de junho de 2013

Homília da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

Celebramos hoje de modo solene e festivo o mistério da Eucaristia, o mistério da presença real do corpo e sangue de Jesus nas espécies eucarísticas do pão e do vinho transubstanciadas pela acção do Espirito Santo, celebramos a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.
A Igreja sempre teve consciência desta presença, deste mistério, mas só no século treze e com as visões de Santa Juliana Cornillon se instituiu uma festa particular para comemorar e venerar este mistério, festa para a qual contribuiu anos mais tarde São Tomás de Aquino ao compor os textos e hinos para a celebração.
Das leituras que escutámos, a leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios coloca-nos diante do acontecimento instituidor do mistério que celebramos, a última ceia de Jesus com os apóstolos e o mandato de comemoração daquele gesto que antecipava a entrega de vida de Jesus.
Tal como diz São Paulo aos Coríntios é um gesto, é uma memória, que perpetua no tempo o sacrifício de Jesus, a sua paixão, morte e ressurreição, a sua vida entregue por amor para redenção dos homens. Mas é igualmente a memória do acolhimento por parte de Deus Pai desse dom do Filho, acolhimento expresso na ressurreição ao terceiro dia.
Ao festejarmos o Mistério do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo festejamos e entramos na lógica da presença de Deus juntos dos homens, nessa alegria que a Sabedoria manifestou quando disse que as suas delícias eram habitar com os homens, partilhar as suas vidas.
O Mistério do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo coloca-nos face à habitação de Deus, Trindade Santa, junto dos homens, face à proximidade de Deus que se deixa tocar, que se faz alimento, que se faz presença viva visível.
Neste sentido, não podemos deixar de ter presentes a primeira leitura do Livro do Génesis e a acção de Melquisedec, sacerdote e rei, e a invocação de Jesus sobre os cinco pães e os dois peixes da leitura do Evangelho de São Lucas. Se Jesus pronuncia a bênção sobre o pão para que ele possa alimentar cinco mil pessoas, Melquisedec pronuncia a bênção sobre Abraão para que Deus esteja com ele na vitória sobre os inimigos.
O corpo e o sangue de Cristo presentes nas espécies do pão e do vinho são assim também para cada um de nós uma bênção, uma fonte de fecundidade para a frutificação dos nossos dons e das nossas vidas, assim como uma protecção contra os nossos inimigos, uma força no combate contra o mal pela fidelidade ao bem de Deus.
Assim a Eucaristia, o mistério da presença do Corpo e Sangue de Cristo, não só nos alcança o mistério da nossa salvação como também nos integra nele, nos assume como parte integrante.
E esta integração processa-se de uma forma activa, de uma forma participativa, respondendo ao propósito de Jesus para com os discípulos quando lhes mandou dar de comer à multidão que os rodeava. Também nós hoje somos convidados por Jesus a dar de comer aos nossos irmãos.
Tarefa que passa pela solidariedade com aqueles que não tem nada, com a partilha do pão físico, mas também pela tarefa da bênção, de alimentar tantos homens e mulheres aos quais não falta o pão mas falta o sentido para a vida, uma orientação face a tantos escolhos e solicitações divergentes.
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo e todos os gestos de veneração e adoração a que somos convidados neste dia, como as procissões ou a adoração do Santíssimo, devem conduzir-nos a essa consciência da presença de Deus, da veneração que lhe é devida, mas igualmente à veneração que é devida aos nossos irmãos e irmãs, verdadeiros templos do Espirito Santo, outras presenças vivas e reais de Deus e aos quais somos convidados a alimentar pelo próprio alimento divino que tomamos.
Nós que tudo recebemos cada vez que comemos deste Pão e bebemos deste Vinho, que recebemos a bênção de Deus nesta presença real, somos convidados a transubstanciar essa mesma presença fazendo-nos presença real junto dos outros.
Que o Espirito Santo nos transforme e transubstancie em pão vivo e de vida junto de todos os nossos irmãos e irmãs que necessitam e esperam famintos.
 
Ilustração: Vitral da Última Ceia na Capela dos Macabeus na Catedral de São Pedro em Genebra.  

O gosto da oração

 
A oração ajuda-nos a permanecer na presença de Jesus, a deixar tomar todo o seu lugar em nós. Gosto de rezar em silêncio, de manhã cedo, na minha cama. Sinto-me unido a todos aqueles que fizeram já a sua passagem para o céu e que me esperam lá.
Jean Vanier

Ilustração: Campo de papoilas entre oliveiras na Serra de Aire.

sábado, 1 de junho de 2013

As palavras que fecundam e embelezam

 
A fecundidade e a beleza de uma vida ultrapassam tudo o que podemos imaginar. Deus não nos engana. Ele tem palavras de vida.
Cardeal Jean-Marie Lustiger

Ilustração: Reflexo do sol no mural da Basílica da Santíssima Trindade em Fátima.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Mais um Soneto de Fernanda de Castro

Deixamos aqui o segundo Soneto de Fernanda de Castro encontrado no baú dos velhos papéis e que certamente serviu a algum frade dominicano para um momento de oração, meditação ou actividade lúdica.

Mas, se não te contenta a forma pura,
Se aspiras à parcela de infinito,
Que torna a passageira criatura
Eterna como um bloco de granito,

 
Expia a tua dor como um delito,
Saboreia a volúpia da amargura,
Sofre, transpira sobre a terra dura,
Não soltes uma queixa nem um grito,

 
Procura ser humilde e sobre-humano,
Rasga o teu peito como o pelicano
E não desejes nunca a paz e a calma,

 
Pois só então, regada a fel e a pranto,
Há-de florir, frutificar teu canto,
Presa a raiz à tua própria alma.

 
Ilustração: Árvore com neve no jardim Eaux Vives em Genebra.


Vigilante para contemplar

 
Está lá, completamente vigilante, com atenção, com plena receptividade e aceitação, porque sabe que todas as coisas, por mais pequenas que sejam, trarão qualquer revelação de Deus. Um olhar simples que é necessário para ver e para que a nossa alma chegue a contemplá-lo através de todos os poros.
Carta da irmã Maria Inês do Sarmento a Paul Claudel

Ilustração: Anjo Gabriel de alabastro em uma das capelas laterais da Catedral de Burgos.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Soneto de Fernanda de Castro

Mais um poema encontrado nos baús velhos. Este está identificado como sendo da poetisa Fernanda de Castro.
 
Canta. Busca na vida o que é perfeito.
Olha o Sol e não queiras outro guia.
Sonha com a noite e absorve, aspira o dia,
Como uma flor que te florisse no peito.
 
Da terra maternal faz o teu leito.
Respira a terra e bebe o luar. Confia.
Faz de cada pena uma alegria
E um bem de cada mal insatisfeito.
 
Colhe todas as flores do jardim,
Todos os frutos do pomar e, enfim,
Colhe todos os sonhos do Universo.
 
Procurar eternizar cada momento.
Fecha os olhos a todo o sofrimento
- E terás feito a carne do teu verso.
 
Ilustração: Jardins do Convento de Cristo em tomar ao final do dia.