Meus Queridos Irmãos
Celebramos hoje, neste
primeiro dia do novo ano civil, a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e com
esta solenidade colocamos um ponto final na Oitava do Natal, nesta semana em
que a Igreja nos convida a viver de forma mais intensa e mais profunda o
mistério do nascimento do nosso Salvador, o mistério da Incarnação do Verbo de
Deus.
Para além de ser a
primeira festa do ano é também a mais venerável e sublime das festas da Virgem
Maria, uma vez que celebramos o mistério da maternidade, a realização no tempo
da sua colaboração livre e comprometida no projecto salvífico de Deus.
Depois de uma noite de
folia, de passagem de ano, de “réveillon”,
em que não se esperou a vinda de ninguém, mas apenas a passagem do ponteiro do
relógio de um ponto para outro ponto, podemos interrogar-nos se estamos em
condições de celebrarmos um mistério tão carregado de intimidade, tão discreto,
como é o da maternidade de Maria.
Muitos dos nossos
irmãos, cansados da noite perdida, não terão sequer a oportunidade de se
aperceber da beleza deste dia e do mistério que celebramos, da bênção de Deus
que veio e vem ao nosso encontro sempre e quando nos colocamos em atitude de
acolhimento. Peçamos por isso e desde já ao Deus Menino por todos eles e por
nós aqui reunidos para celebrar com alegria a Virgem Mãe.
Esta oração é
extremamente importante, uma vez que realiza a recomendação que encontramos no
Livro dos Números dirigida a todos os filhos de Israel. Também nós somos
chamados a proferir a bênção sobre os nossos irmãos, a desejar que a bênção de
Deus venha sobre eles, porque dessa forma a mesma bênção de Deus nos alcança.
E temos ainda mais
razões para pedir esta bênção, para a desejar para todos, na medida em que
temos consciência de que somos filhos, de que não somos escravos de um deus
menor, como nos diz São Paulo na Carta aos Gálatas.
Celebrar a maternidade
de Maria no primeiro dia do ano coloca-nos no interior do mistério da acção de Deus,
desse mistério de Deus que se fez menino para vir habitar entre os homens, que possibilita
que possamos chamar a Deus nosso pai.
A maternidade de Maria
é um acontecimento que deriva do facto de ela se ter considerado filha, de se
ter deixado ser filha e por essa razão pôde ser mãe, pôde acolher o dom de
Deus, o próprio Deus, em si própria. Maternidade singular que se oferece a cada
um de nós, e que podemos levar a cabo na medida da nossa consciência filial, do
nosso abraço como filhos ao pai que é Deus.
No entanto, e para que
tal vá acontecendo nas nossas limitações humanas, na nossa condição de frágeis
pecadores, necessitamos da atitude diligente dos pastores e da contemplação
silenciosa e humilde de Maria.
Face ao anúncio do
nascimento do Salvador, ao conhecimento do mistério da Incarnação do Verbo de
Deus, não podemos deixar de partir em direcção aos outros para o partilhar e
anunciar por palavras e por gestos.
Trata-se da construção
da paz, ou melhor, da partilha da paz que o mistério da Incarnação nos trouxe e
alcançou. Pacificados com Deus, connosco próprios na certeza da adopção filial,
não podemos deixar de estar ou tentar estar em paz com os outros homens nossos
irmãos.
Paralelamente, e para
que a paz seja profundamente transformante, necessitamos não perder a
contemplação humilde e a meditação silenciosa de todas as realidades que nos
rodeiam e nos desafiam nesse mesmo testemunho da paz. Tal como Maria, face a
tudo o que nos rodeia, não podemos deixar de olhar a partir do coração e do
mistério divino em que estamos envolvidos.
Apresentemos pois a
Deus neste primeiro dia do novo ano civil as nossas esperanças, as nossas
expectativas, bem como as nossas forças e fraquezas, para que pela acção do
Altíssimo, pelo Espirito Santo, sejam cobertas de graça e gerem uma presença
nova e gloriosa de Deus em nós e entre nós.
Ilustração: “Virgem
Maria com o Menino”, de Ferenc Innocent, Colecção Privada.
Caro Frei José Carlos,
ResponderEliminarO primeiro dia do ano civil, que se inicia e se prolonga silencioso, por diferentes razões, em que celebramos a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, é como nos afirma …”Para além de ser a primeira festa do ano é também a mais venerável e sublime das festas da Virgem Maria”… É um dia de alegria, em que nos reunimos para celebrar a Virgem Mãe, o mistério da maternidade e permanecer a contemplar Maria e o Deus Menino. E, se ontem à noite pareciamos dispensar-Te, Senhor, hoje, estamos à espera, com humildade, para pedir que a Tua benção alcance a todos, para Te falarmos das nossas angústias, dos nossos receios, dos nossos desejos, ainda que saibamos que não és um Deus feito à nossa medida, mas que estás connosco, que nos escutas, que nos acompanhas e que o encontro pode estar ao virar da esquina. Afinal, a luz que o homem descobriu na natureza e de que se serve na efémera passagem de ano já se extinguiu e Tu, Jesus, Filho de Deus, és a verdadeira Luz que aquece os nossos corações, nos transforma e ilumina os nossos caminhos.
Como nos salienta …”Celebrar a maternidade de Maria no primeiro dia do ano coloca-nos no interior do mistério da acção de Deus, desse mistério de Deus que se fez menino para vir habitar entre os homens, que possibilita que possamos chamar a Deus nosso pai.(…) e
(…) Pacificados com Deus, connosco próprios na certeza da adopção filial, não podemos deixar de estar ou tentar estar em paz com os outros homens nossos irmãos.”…
Grata, Frei José Carlos, por partilhar connosco o texto da Homília, profunda e bela na forma como a teceu, maravilhosamente ilustrada. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o proteja.
Continuação de um bom dia de Ano Novo.
Um abraço fraterno e amigo,
Maria José Silva