Estamos a celebrar a Solenidade
de Cristo Rei, o último domingo do Ano Litúrgico e também o encerramento do Ano
Santo da Misericórdia. No próximo domingo iniciaremos o Advento e com ele um
novo ano litúrgico.
As leituras que
escutámos nesta celebração solene e de modo particular o Evangelho de São Lucas
colocam diante de nós o significado da realeza de Jesus Cristo, e a forma de a
vivermos também nós que desde o baptismo e por Jesus Cristo somos sacerdotes,
profetas e reis.
Neste sentido é de
todo conveniente olhar as palavras proferidas pelos chefes dos judeus, pelos
soldados romanos e pelo ladrão que injuria Jesus. Cada um, e fazendo eco da sua
concepção do poder real, reclama que Jesus se salve a si próprio, que desça da
cruz e dessa forma mostre que é Messias, que é verdadeiramente rei ao estilo do
imperador, que tal como um chefe de bando de salteadores ou rebeldes é capaz de
se libertar pelas suas forças e artimanhas.
Contudo, a solicitação
de cada um destes observadores e interpeladores de acção acarreta consigo uma
impossibilidade, uma impossível resposta de Jesus, pois se Jesus realizasse o
que cada um deles pedia estaria apenas a salvar-se a si próprio, e desenvolver o
seu egoísmo e orgulho, estaria a negar toda a sua palavra e missão até ali
realizadas. O salvar-se a si mesmo contradizia tudo o que até ali Jesus tinha realizado,
não revelaria a sua realeza.
A sua realeza
manifesta-se e realiza-se nas palavras do chamado bom ladrão, quando este lhe
pede que Jesus se lembre dele quando vier na sua realeza, ou seja quando tiver
realizado a sua missão de salvar os homens, de o salvar a ele pobre condenado
justamente pelos seus crimes. A realeza de Jesus manifesta-se nessa salvação
dos outros, nessa entrega da vida pelos outros.
A realeza de Jesus é
assim a misericórdia, esse mistério de sair de si mesmo para ir ao encontro do
outro, para o resgatar na sua condição de pecado e sofrimento e o levar a partilhar
a glória divina. E é desta forma que podemos viver a nossa condição real
adquirida no baptismo, é desta forma que podemos construir e colaborar na
instauração do Reino de Deus, sendo tal como Jesus misericordiosos.
A realeza de Jesus
Cristo e o seu reinado não se desenvolvem assim no mundo segundo as formulas a
que estamos habituados, não se trata de poder ou força para ser maior, para ser
capaz de fazer coisas extraordinárias, não se trata de dominar o outro, de
construir um império para satisfação orgulhosa do ego. Quando os cristãos o
tentaram displicentemente em contradição com o projecto de Jesus os resultados
foram desastrosos.
Contudo, quando na
humildade, na verdade, no amor e na justiça os cristãos procuraram colocar o
outro em primeiro lugar, procuraram a salvação do outro, o Reino de Deus foi-se
desenvolvendo, a realeza de Jesus foi-se tornando visível. Quando se colocaram
as forças e capacidades ao serviço do outro, num espirito de confiança mútua,
num espirito de aliança, quando os cristãos não tiveram medo de perder a sua
vida por Aquele que é o Caminho, a Verdade e Vida, o reinado e a realeza de
Jesus tornou-se actual, presente, poderíamos dizer palpável.
Assim, se queremos
honrar Jesus Cristo como nosso Rei, se ao estilo medieval lhe queremos prestar
a nossa vassalagem, não podemos deixar de nos colocar ao serviço do outro, não
podemos deixar de procurar a salvação do outro, mais que a nossa, pois é salvando
os outros que assumimos a salvação que nos foi alcançada em Jesus Cristo.
Que nos lembremos
sempre dos outros e do Outro, que é Deus e habita em cada um deles, para podermos
todos juntos partilhar a glória real e divina do Paraíso.
“Jesus Salvador do Mundo”, de El Greco, Museu El Greco, Toledo.
Obrigado pela homilia, que me sensibilizou e comoveu. Por tudo e até pelo apelo magnífico à nossa capacidade e exigência de misericórdia.Inter pars
ResponderEliminarObrigada,Frei José Carlos pela maravilhosa Homilia da Solenidade da Festa de Cristo Rei do Universo,muito profunda para nossa Meditação.Desejo-lhe uma boa semana.
ResponderEliminarUm abraço.
AD