Ao iniciarmos a nossa
celebração rapidamente nos damos conta de que há algo diferente, o presidente
da celebração aparece hoje vestido com um paramento diferente, com uma casula
cor-de-rosa. Esta cor, que recorda a aurora, quando o dia começa a despontar,
interpela-nos na dimensão do que estamos a celebrar, vai ao encontro do convite
formulado pelo profeta Isaías na leitura que escutámos: alegrai-vos pois a
vossa salvação está próxima.
A meio da caminhada do
Advento somos convidados a alegrar-nos, a tomar uma atitude diferente daquela
que possivelmente temos tomado, somos convidados a retomar a esperança com
paciência, a acreditar que é possível, a fortalecer as mãos cansadas e a
robustecer os joelhos vacilantes. Afinal já fizemos uma boa parte do caminho e
vislumbra-se já o final da jornada, o Natal aparece quase ao virar da esquina.
Este domingo, chamado “gaudete”
pelo convite à alegria, é uma oportunidade para pararmos, para aferirmos de
como temos vivido o nosso Advento, de como nos temos preparado para viver o
Natal do Senhor. E ao fazer este balanço podemos deparar-nos com a nossa inconstância,
com os nossos fracassos, com os propósitos que estabelecemos e ainda estão
longe de serem concretizados, podemos verificar que mudámos muito pouco, que
nos temos descuidado na preparação para a celebração do Natal.
Diante destes resultados
e cenário é possível que nos questionemos sobre a validade do que nos
propusemos, do esforço que despendemos e será necessário ainda despender e
podemos por isso soçobrar desanimadamente. Valerá qualquer esforço quando mudo
tão pouco ou quase nada na minha vida?
Esta questão da
validade do que fazemos está subjacente ao episódio do Evangelho que escutámos,
pois também João tinha acreditado em Jesus, tinha criado uma expectativa e por
causa dela não se considerava digno de levar as sandálias daquele que
considerava como Messias, como escutámos no Evangelho do domingo passado. Contudo,
e já na prisão, aquilo que ouve dizer de Jesus está bem longe dessas
expectativas, da esperança que tinha acalentado, e por isso sente necessidade
de enviar os seus discípulos para que lhe possam confirmar a esperança e a
validade do realizado por aquele Jesus.
Jesus responde com
imagens e promessas messiânicas que podemos encontrar no profeta Isaías, mas
mais importante que as curas e os milagres que possam testemunhar da opção acertada
de João quando acreditou em Jesus, o anúncio da boa nova aos pobres é o que
marca a diferença, é o que deve levar João a não ter qualquer dúvida
relativamente a Jesus. Afinal também ele desde o primeiro momento se encontrava
na sua pregação na lógica desta boa nova.
Para nós, também este
anúncio da boa nova deve ser a marca da diferença, a realidade que nos alimenta
na caminhada e nos faz ver com outros olhos aqueles que podemos considerar num
primeiro momento como fracassos. Diante daquilo que não fomos capazes de fazer,
que apenas tentámos, não houve um qualquer anúncio de boa nova? Não houve um
toque que fez a diferença, que nos faz sentir mais dolorosamente a incapacidade
ou infidelidade?
Em cada Advento, em cada
Quaresma, de cada vez que nos lançamos num processo de conversão, a Boa Nova do
Reino é anunciada à pobreza do nosso ser, das nossas forças, e até da nossa fé
vacilante. Afinal, e bem no fundo dos nossos propósitos, estamos conscientes de
que Deus vem, que vem para fazer justiça, que caminha connosco para nos salvar
e portanto cada tentativa, cada esforço aplicado, é uma aproximação de Deus, é
um apelo lancinante à nossa coragem para não temermos nem desanimarmos da
aproximação.
Tal como nos diz São
Tiago na leitura que escutámos temos que ser agricultores da fé, temos que
semear na esperança, temos que acreditar na colheita, e pacientemente esperar
que o fruto germine, cresça, floresça e dê fruto. Há todo um processo, um
tempo, e como diz Coelet um tempo próprio para cada coisa. A nós, a cada um de
nós, compete-nos fazer o devido a cada tempo, pois é por essa dedicação e fidelidade
que seremos julgados nos frutos que produzirmos.
Assim, que esta cor
festiva dos paramentos que vestimos, que o convite de Isaías a alegrar-nos, o
apelo de Tiago a esperarmos com paciência, e a afirmação de Jesus que o menor
no Reino dos Céus é maior que João, nos ajudem a retomar a nossa caminhada com
mais afinco e coragem, com um espirito mais dinâmico e confiante. Deus vem ao
nosso encontro nos passos que damos em sua direcção.
“São João Baptista apresentando Jesus”, de Bartolomé Esteban Murillo, Art Institut of Chicago.
Sem comentários:
Enviar um comentário