terça-feira, 10 de novembro de 2009

A estrela de São Domingos

Qualquer imagem para ser reconhecível e identificável necessita de signos, de sinais identificadores únicos e inequívocos. Nas imagens religiosas tal facto nem sempre é possível, pois há signos e elementos identificadores, os chamados atributos iconográficos que se repetem e por isso geram muita confusão no momento de identificação da imagem.
Relativamente a São Domingos, à sua imagem e atributos iconográficos, temos que ter presente que eles foram fixados muito cedo, de uma forma muito rápida e pouco depois da morte do santo. São atributos que acompanharam a imagem no evoluir dos séculos e aos quais se acrescentaram outros conforme o tempo e o lugar em que a imagem era produzida.
Um desses atributos iconográficos é a estrela que se lhe apresenta na fronte, um atributo bastante precoce e que aparece ligado aos primeiros relatos hagiográficos.
Contudo, e ainda antes desses relatos terem sido redigidos, podemos ver que na carta que o Papa Gregório IX dirige em 1233 aos comissários de Bolonha, para que impulsionem o processo de canonização de São Domingos, se refere a este mesmo comparando-o com uma estrela.
Com razão se alegram muitos no nosso tempo por terem visto em pleno dia uma estrela, ainda quando recordam ter contemplado inumeráveis durante o decorrer da noite.”[1]
A partir dali todas as fontes identificaram São Domingos com esse símbolo, a estrela, inserindo-a nos relatos dos prodígios que rodearam o nascimento de Domingos ou do seu baptizado. Podemos encontrar em Constantino de Orvieto e em Pedro Ferrando as referências mais precisas e denunciadoras desta utilização.
Outro sinal que antecipa o futuro encontra-se na visão que teve uma senhora, nobre tanto pela sua honradez como pelas suas raízes, e que tinha retirado da pia baptismal a São Domingos. Viu como o menino Domingos tinha sobre a sua fronte uma estrela muito brilhante que iluminava toda a terra. Divinos presságios! A tocha e a estrela prefiguravam que Domingos seria como Elias.”[2]
Deus quis antecipar o que seria aquele menino e para tal serviu-se da sua madrinha, a qual, em sonhos teve a seguinte visão. Pareceu-lhe que o menino tinha na fronte uma estrela cuja luz iluminava toda a terra. Com isso dava a entender que seria luz das gentes e que iluminaria os que vivem nas trevas e nas sombras da morte. Quem teve esta visão era uma dama da nobreza, a qual estupefacta pelo que tinha contemplado, cheia de gozo, não deixou de o comunicar à mãe do menino.”[3]
Iconograficamente uma das primeiras representações deste atributo encontra-se numa das miniaturas dum livro de coro do Convento de Santa Maria Novela de Florença, um Antifonário composto por volta de 1275, e nela podemos ver o aparecimento da estrela na fronte de São Domingos no momento do seu baptismo.
A partir de então, relacionada com a representação deste momento da vida do Santo ou isoladamente, a estrela aparece como um dos atributos mais significativos de São Domingos.

[1] GREGÓRIO IX, Papa, Carta aos Comissários de Bolonha, in GALMES, Lorenzo e GOMEZ, Vito, Santo Domingo de Guzman Fuentes para su conocimiento. Madrid, BAC, 1987, 143.
[2] ORVIETO, Constantino de, Narração sobre São Domingos, in GALMES, Lorenzo e GOMEZ, Vito, Santo Domingo de Guzman Fuentes para su conocimiento. Madrid, BAC, 1987, 253.
[3] FERRANDO, Pedro, Narração sobre São Domingos, in GALMES, Lorenzo e GOMEZ, Vito, Santo Domingo de Guzman Fuentes para su conocimiento. Madrid, BAC, 1987, 223.

1 comentário:

  1. Que interessante saber estas coisas!
    São os Dominicanos homens de muito saber, o que se atesta pelas suas publicações. Que bom deve ser ter acesso a estas informações e ficar-se em contemplação, porque o Frei José Carlos é realmente um contemplativo mesmo no bulício de todas as suas actividades.
    Um seguidor

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