A leitura do Evangelho deste primeiro domingo do Advento é mais um trecho da secção apocalíptica do Evangelho de São Lucas. Depois de afirmada a conquista e destruição de Jerusalém afirma-se a destruição do mundo, porque na concepção apocalíptica judaica uma destruição era inerente à outra. Sendo destruída Jerusalém, como centro do mundo, era inevitavelmente destruído também o mundo.
Esta concepção simplista, automática, da mentalidade apocalíptica judaica enquadra o texto de São Lucas, mas não mais que isso, porque a mensagem de Jesus que encontramos nestas palavras não é uma mensagem de destruição ou aniquilação, mas uma mensagem de salvação, uma mensagem de esperança, “levantai as vossas cabeças”. Mais do que um fim do mundo estamos perante o anúncio de um novo mundo, uma nova realidade e por isso a Igreja coloca este texto na liturgia da Palavra do primeiro domingo do Advento, assinalando essa novidade e mundo novo que somos convidados a procurar.
A imagem que Jesus nos apresenta da vinda do Filho do Homem com grande poder e glória sobre a nuvem não representa o fim, não é o último acontecimento da história, mas um movimento constante, um devir que está a acontecer na mesma história e portanto exige uma necessidade de atenção e de sabedoria para ser tornar perceptível e real. É esse convite e recomendação a estarmos vigilantes, atentos, para que o nosso coração não se torne pesado e não sermos surpreendidos quando comparecermos diante de Deus.
Mas o que significa estar vigilantes? Como podemos estar vigilantes em todo o momento? Colocar esta interrogação não é de todo descabido, porque se num primeiro momento podemos intuir vários sentidos para o que significa vigiar, é de todo importante sabermos como fazê-lo verdadeira e correctamente, como nos contratos que socialmente assinamos, em que lemos as rubricas das responsabilidades a que nos obrigamos. A que nos obriga o estado de vigilância cristã? Vamos tentar uma resposta.
Hoje podemos dizer que o nosso computador vigia quando hiberna. Para não gastar energia auto suspende-se e aguarda vigilante que a um pequeno toque nosso volte à actividade. O computador vigia, aguarda, mas não vai além disso. É esta a nossa vigilância? Aguardar que algo se passe!
Podemos também considerar que uma noitada de trabalho, uma directa, ou até uma saída à noite com os amigos, é uma vigilância. Muitas vezes uma vigilância até bastante organizada em que aparecem alguns químicos para não cairmos no sono e na desconexão do grupo. Vigiamos, mas para não nos perdermos; vigiamos mas centrados em nós e nas nossas necessidades.
A mãe que aguarda impaciente a chegada dos filhos, ou a família que espera pacientemente na sala do hospital faz também a sua vigilância, aguarda em expectativa uma notícia, uma presença que não é já a sua. Podemos não fazer nada, por vezes perdemos a paciência, mas estamos vigilantes e estamos por alguém, por um outro a que aguardamos ou desejamos.
Por fim temos também a vigilância daquele que se assume como responsável, a vigilância daquele que se encarrega de que não falte nada, de que a obra chegue a bom termo e sem prejuízo, a vigilância daquele que diz “deixa que eu tomarei conta”. Esta é a vigilância cristã, é a vigilância que nos é solicitada neste início de advento, uma vigilância activa e participativa, uma vigilância responsável e coerente.
Contudo, se o Advento nos solicita esta atitude de vigilância temos que perceber a sua total dimensão e realidade, porque de facto a expectativa da espera prende-se e relaciona-se com um acontecimento que já ocorreu na história, um acontecimento que tem já dois mil anos, o nascimento do Filho de Deus entre nós. Assim, como podemos vigiar e esperar algo que já ocorreu?
A resposta para esta questão é-nos dada pelo complemento da recomendação a vigiar, “orai em todo o tempo” e pelas palavras de São Paulo aos Tessalonicenses “o Senhor vos faça crescer na caridade uns para com os outros”. A caridade que manifestamos uns aos outros é esse vigiar activo e participativo, é esse actualizar constante e num eterno devir do acto de caridade e amor que se deu de forma plena na encarnação do Filho de Deus. O nosso vigiar deve traduzir-se no actualizar desse amor, no fazer com que no mundo e na história dos homens não tenha fim essa expectativa do amor e da felicidade. Para isso tomamos conta, arregaçamos as mangas e metemos mãos à obra.
E porque sabemos que muitas vezes nos deixamos subjugar pelas preocupações da vida, pelas armadilhas do mal, porque perdemos a esperança, a oração a que Jesus nos convida apresenta-se-nos como a sentinela que nãos nos permite adormecer nem deixar de vigiar. A oração liberta-nos de nós próprios e coloca-nos num estado de atenção aos outros, aos problemas, à própria intervenção de Deus na nossa história e na história dos homens nossos companheiros. A oração pode e deve ser a sentinela da nossa vigilância.
Até ao Natal, à festa do nascimento do nosso Salvador, temos quatro semanas para procurarmos viver esta expectativa da vinda de Deus até nós na nossa condição humana. Procuremos viver mantendo a nossa caridade e fraternidade activas e a nossa oração como uma sentinela vigilante que espera a aurora.
Esta concepção simplista, automática, da mentalidade apocalíptica judaica enquadra o texto de São Lucas, mas não mais que isso, porque a mensagem de Jesus que encontramos nestas palavras não é uma mensagem de destruição ou aniquilação, mas uma mensagem de salvação, uma mensagem de esperança, “levantai as vossas cabeças”. Mais do que um fim do mundo estamos perante o anúncio de um novo mundo, uma nova realidade e por isso a Igreja coloca este texto na liturgia da Palavra do primeiro domingo do Advento, assinalando essa novidade e mundo novo que somos convidados a procurar.
A imagem que Jesus nos apresenta da vinda do Filho do Homem com grande poder e glória sobre a nuvem não representa o fim, não é o último acontecimento da história, mas um movimento constante, um devir que está a acontecer na mesma história e portanto exige uma necessidade de atenção e de sabedoria para ser tornar perceptível e real. É esse convite e recomendação a estarmos vigilantes, atentos, para que o nosso coração não se torne pesado e não sermos surpreendidos quando comparecermos diante de Deus.
Mas o que significa estar vigilantes? Como podemos estar vigilantes em todo o momento? Colocar esta interrogação não é de todo descabido, porque se num primeiro momento podemos intuir vários sentidos para o que significa vigiar, é de todo importante sabermos como fazê-lo verdadeira e correctamente, como nos contratos que socialmente assinamos, em que lemos as rubricas das responsabilidades a que nos obrigamos. A que nos obriga o estado de vigilância cristã? Vamos tentar uma resposta.
Hoje podemos dizer que o nosso computador vigia quando hiberna. Para não gastar energia auto suspende-se e aguarda vigilante que a um pequeno toque nosso volte à actividade. O computador vigia, aguarda, mas não vai além disso. É esta a nossa vigilância? Aguardar que algo se passe!
Podemos também considerar que uma noitada de trabalho, uma directa, ou até uma saída à noite com os amigos, é uma vigilância. Muitas vezes uma vigilância até bastante organizada em que aparecem alguns químicos para não cairmos no sono e na desconexão do grupo. Vigiamos, mas para não nos perdermos; vigiamos mas centrados em nós e nas nossas necessidades.
A mãe que aguarda impaciente a chegada dos filhos, ou a família que espera pacientemente na sala do hospital faz também a sua vigilância, aguarda em expectativa uma notícia, uma presença que não é já a sua. Podemos não fazer nada, por vezes perdemos a paciência, mas estamos vigilantes e estamos por alguém, por um outro a que aguardamos ou desejamos.
Por fim temos também a vigilância daquele que se assume como responsável, a vigilância daquele que se encarrega de que não falte nada, de que a obra chegue a bom termo e sem prejuízo, a vigilância daquele que diz “deixa que eu tomarei conta”. Esta é a vigilância cristã, é a vigilância que nos é solicitada neste início de advento, uma vigilância activa e participativa, uma vigilância responsável e coerente.
Contudo, se o Advento nos solicita esta atitude de vigilância temos que perceber a sua total dimensão e realidade, porque de facto a expectativa da espera prende-se e relaciona-se com um acontecimento que já ocorreu na história, um acontecimento que tem já dois mil anos, o nascimento do Filho de Deus entre nós. Assim, como podemos vigiar e esperar algo que já ocorreu?
A resposta para esta questão é-nos dada pelo complemento da recomendação a vigiar, “orai em todo o tempo” e pelas palavras de São Paulo aos Tessalonicenses “o Senhor vos faça crescer na caridade uns para com os outros”. A caridade que manifestamos uns aos outros é esse vigiar activo e participativo, é esse actualizar constante e num eterno devir do acto de caridade e amor que se deu de forma plena na encarnação do Filho de Deus. O nosso vigiar deve traduzir-se no actualizar desse amor, no fazer com que no mundo e na história dos homens não tenha fim essa expectativa do amor e da felicidade. Para isso tomamos conta, arregaçamos as mangas e metemos mãos à obra.
E porque sabemos que muitas vezes nos deixamos subjugar pelas preocupações da vida, pelas armadilhas do mal, porque perdemos a esperança, a oração a que Jesus nos convida apresenta-se-nos como a sentinela que nãos nos permite adormecer nem deixar de vigiar. A oração liberta-nos de nós próprios e coloca-nos num estado de atenção aos outros, aos problemas, à própria intervenção de Deus na nossa história e na história dos homens nossos companheiros. A oração pode e deve ser a sentinela da nossa vigilância.
Até ao Natal, à festa do nascimento do nosso Salvador, temos quatro semanas para procurarmos viver esta expectativa da vinda de Deus até nós na nossa condição humana. Procuremos viver mantendo a nossa caridade e fraternidade activas e a nossa oração como uma sentinela vigilante que espera a aurora.
"A oração liberta-nos de nós próprios e coloca-nos num estado de atenção aos outros, aos problemas, à própria intervenção de Deus na nossa história e na história dos homens nossos companheiros. A oração pode e deve ser a sentinela da nossa vigilância."
ResponderEliminarDo teor apelativo da sua homilia sobressaem para mim estas suas palavras, Frei José Carlos,dando mais sentido à oração,envolvendo-me nela como se de um regaço protector se tratasse.Então,refeita e fortificada,terei um olhar mais lúcido sobre os outros.
GVA
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNeste I Domingo do Advento na sua homilia explica-nos "como" e convida-nos a estar em "vigilância cristã". Tomo a liberdade de transcrever um excerto que me fez reflectir particularmente: ..."E porque sabemos que muitas vezes nos deixamos subjugar pelas preocupações da vida, pelas armadilhas do mal, porque perdemos a esperança, a oração a que Jesus nos convida apresenta-se-nos como a sentinela que nãos nos permite adormecer nem deixar de vigiar. A oração liberta-nos de nós próprios e coloca-nos num estado de atenção aos outros, aos problemas, à própria intervenção de Deus na nossa história e na história dos homens nossos companheiros. A oração pode e deve ser a sentinela da nossa vigilância." Bem haja por esta partilha, por este apelo à oração libertadora e vigilante. MJS
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNa sua homilia lembra-nos os valores, mais importantes, a viver no Advento, por cada um de nós, para que haja verdadeiro Natal de Jesus.
Agradeço o seu alerta!...I. F. L.