Chegar a um sítio, para o qual se foi convidado, e deparar-se com uma multidão incontável, vinda de todos os povos e tribos, falando todas as línguas, não é muito agradável. É necessário ter um espírito muito cosmopolita e uma boa dose de à vontade para enfrentar esta multidão e sentir-se em casa e entre amigos.
Ora a leitura do livro do Apocalipse que nós escutámos nesta Festa de Todos os Santos é um convite a este espírito cosmopolita, não só para o momento do juízo final, mas sobretudo para o nosso dia a dia, para o nosso quotidiano e para a construção do reino de Deus neste mundo em que nos encontramos.
Porque de facto a grande multidão de que fala o autor do Apocalipse é a mesma multidão que povoa a terra e o mundo que habitamos, é a mesma multidão que se cruza connosco todos os dias na vida familiar, no trabalho, nos caminhos das cidades ou do campo. E como no juízo final vêm de todos os lados, falam línguas diferentes, são de povos e nações diferentes, têm outros valores, defendem outros princípios, lutam por outros direitos, podem até acreditar em um Deus outro.
Mas estão aí e como nós procuram viver a misericórdia, procuram ajudar o próximo, procuram a implantação da justiça e da paz, procuram o bem comum e a felicidade de um número cada vez maior de homens e mulheres. Podemos não acreditar, podemos até não querer, mas são bem-aventurados e para eles está também reservado o reino dos céus, a presença nessa grande assembleia que louva o Senhor.
O ancião do Apocalipse, face ao desconhecimento de João relativamente à razão da presença de tão numerosa assembleia, diz-lhe que todos aqueles que estão vestidos de túnicas brancas são os que vieram da grande tribulação e lavaram as suas túnicas no sangue do cordeiro. Ora o sangue do cordeiro foi derramado pela salvação dos homens, é o resultado de um crime violento contra um projecto de amor e de paz, que o Filho de Deus veio trazer aos homens seus irmãos. Desta forma todos aqueles que no seu viver se assemelham a este projecto, que derramam o seu sangue, fazem essa lavagem da sua túnica no sangue do Cordeiro e tornam-se dignos de participar na grande assembleia.
Ao falarmos de derramamento de sangue podemos limitar-nos apenas aos mártires, às vítimas mais violentas do ódio e da injustiça. Tal forma de pensar é restritiva e deixa de fora muitos outros homens e mulheres que não derramando o seu sangue, não sendo vítimas de violência, mesmo assim, não deixam de purificar a sua túnica no sangue do cordeiro.
Podemos e devemos pensar nas mães de família, nos enfermeiros e guardas prisionais, no irmão mais velho que protege o irmão mais novo, nas crianças que são deixadas abandonadas sem o carinho de um pai ou de uma mãe, podemos e devemos pensar em todos aqueles que sofrem, quer no corpo ou no espírito. Todos eles lavam as suas túnicas no sangue do Cordeiro, pois esse sangue foi derramado por todos e para salvação de todos.
Num mundo de imagens, em que uma imagem vale mais que mil palavras, esta realidade pode aparecer-nos como suspeita, como uma ilusão, como um ópio para alimentar a servidão e o sofrimento do povo. Face a essa suspeita não podemos deixar de ter presente as palavras da Carta de São João que escutámos, ou seja que neste momento ainda não se manifestou o que havemos de ser, que ainda não é visível ao nossos olhos, mas que no dia em que se manifestar veremos não só essas realidades tais como são mas também o próprio Deus tal como é.
A esperança dessa visão, e o agir de acordo com essa esperança através de gestos de bem e de verdade, leva-nos como diz São João a essa purificação. Temos já o meio da nossa purificação e por isso o importante é ir agindo, é ir realizando no mundo as acções que tornam essa purificação actuante e actual, realidade em nós e nos outros que nos rodeiam.
Celebramos hoje a festa de todos os santos, mas a verdade é que pouco lhes adianta a nossa celebração, uma vez que eles estão já purificados e contemplam a visão de Deus em toda a sua pureza. Esta celebração adianta-nos a nós, a nós que ainda caminhamos na esperança e na necessidade de nos irmos purificando através das obras de misericórdia. Os santos que celebramos, conhecidos e desconhecidos, dão-nos o exemplo de que é possível, de que está ao nosso alcance, com a graça de Deus e com a nossa esperança, esse processo de purificação para a contemplação final de Deus. Peçamos-lhes a sua intercessão para não desanimarmos e não perdermos a esperança.
Ora a leitura do livro do Apocalipse que nós escutámos nesta Festa de Todos os Santos é um convite a este espírito cosmopolita, não só para o momento do juízo final, mas sobretudo para o nosso dia a dia, para o nosso quotidiano e para a construção do reino de Deus neste mundo em que nos encontramos.
Porque de facto a grande multidão de que fala o autor do Apocalipse é a mesma multidão que povoa a terra e o mundo que habitamos, é a mesma multidão que se cruza connosco todos os dias na vida familiar, no trabalho, nos caminhos das cidades ou do campo. E como no juízo final vêm de todos os lados, falam línguas diferentes, são de povos e nações diferentes, têm outros valores, defendem outros princípios, lutam por outros direitos, podem até acreditar em um Deus outro.
Mas estão aí e como nós procuram viver a misericórdia, procuram ajudar o próximo, procuram a implantação da justiça e da paz, procuram o bem comum e a felicidade de um número cada vez maior de homens e mulheres. Podemos não acreditar, podemos até não querer, mas são bem-aventurados e para eles está também reservado o reino dos céus, a presença nessa grande assembleia que louva o Senhor.
O ancião do Apocalipse, face ao desconhecimento de João relativamente à razão da presença de tão numerosa assembleia, diz-lhe que todos aqueles que estão vestidos de túnicas brancas são os que vieram da grande tribulação e lavaram as suas túnicas no sangue do cordeiro. Ora o sangue do cordeiro foi derramado pela salvação dos homens, é o resultado de um crime violento contra um projecto de amor e de paz, que o Filho de Deus veio trazer aos homens seus irmãos. Desta forma todos aqueles que no seu viver se assemelham a este projecto, que derramam o seu sangue, fazem essa lavagem da sua túnica no sangue do Cordeiro e tornam-se dignos de participar na grande assembleia.
Ao falarmos de derramamento de sangue podemos limitar-nos apenas aos mártires, às vítimas mais violentas do ódio e da injustiça. Tal forma de pensar é restritiva e deixa de fora muitos outros homens e mulheres que não derramando o seu sangue, não sendo vítimas de violência, mesmo assim, não deixam de purificar a sua túnica no sangue do cordeiro.
Podemos e devemos pensar nas mães de família, nos enfermeiros e guardas prisionais, no irmão mais velho que protege o irmão mais novo, nas crianças que são deixadas abandonadas sem o carinho de um pai ou de uma mãe, podemos e devemos pensar em todos aqueles que sofrem, quer no corpo ou no espírito. Todos eles lavam as suas túnicas no sangue do Cordeiro, pois esse sangue foi derramado por todos e para salvação de todos.
Num mundo de imagens, em que uma imagem vale mais que mil palavras, esta realidade pode aparecer-nos como suspeita, como uma ilusão, como um ópio para alimentar a servidão e o sofrimento do povo. Face a essa suspeita não podemos deixar de ter presente as palavras da Carta de São João que escutámos, ou seja que neste momento ainda não se manifestou o que havemos de ser, que ainda não é visível ao nossos olhos, mas que no dia em que se manifestar veremos não só essas realidades tais como são mas também o próprio Deus tal como é.
A esperança dessa visão, e o agir de acordo com essa esperança através de gestos de bem e de verdade, leva-nos como diz São João a essa purificação. Temos já o meio da nossa purificação e por isso o importante é ir agindo, é ir realizando no mundo as acções que tornam essa purificação actuante e actual, realidade em nós e nos outros que nos rodeiam.
Celebramos hoje a festa de todos os santos, mas a verdade é que pouco lhes adianta a nossa celebração, uma vez que eles estão já purificados e contemplam a visão de Deus em toda a sua pureza. Esta celebração adianta-nos a nós, a nós que ainda caminhamos na esperança e na necessidade de nos irmos purificando através das obras de misericórdia. Os santos que celebramos, conhecidos e desconhecidos, dão-nos o exemplo de que é possível, de que está ao nosso alcance, com a graça de Deus e com a nossa esperança, esse processo de purificação para a contemplação final de Deus. Peçamos-lhes a sua intercessão para não desanimarmos e não perdermos a esperança.
Bom dia Frei José Carlos,
ResponderEliminarEsta manhã, ao terminar o Ofício das Laudes, ficou-me este excerto de Tiago 2, 12-13 que foi como que uma preparação para a sua homilia acabada de ler:"Falai e procedei como pessoas que devem ser julgadas segundo a lei da liberdade.Porque o juízo será sem misericórdia para quem não usou de misericórdia. Mas a misericórdia triunfa do juízo."
Estes dois escritos são um bom incentivo para iniciar um novo dia. Desejo que o seu seja bom e muito proveitoso. Muito obrigada.
A mesma amiga
Olá, Frei José Carlos
ResponderEliminarCom a leitura da sua homilia do Dia de Todos os Santos, senti-me mais inquieta e sensível há situação de tantos adolescentes e jovens que só ouvem falar de Deus na escola. Que incentivo nos dá, Frei Carlos para não desanimar-mos na nossa missão. Que Deus o anime muito pelo bem que faz. Francisca Lebre, op
Frei José Carlos, boa noite
ResponderEliminarAssim como a Lua Nova não deixa de estar iluminada, nem deixa de influênciar as marés, mas não se vê na noite! Também nós ficamos ocultos quando Deus quer, sem perder as qualidades!
Por vezes estamos de um lado e não sabemos o que se passa no outro, mas não deixa de se passar. Somos muitos e um só, somos presença e não deixamos de influênciar e ajudar quem nos procura, mesmo na fase menos vista.
Tudo tem o seu tempo.
Obrigada!
Com amizade
LR