Celebramos neste domingo, o primeiro do ano novo, a solenidade da Epifania do Senhor, a festa da sua manifestação aos homens. E para melhor compreendermos este mistério e o vivermos espiritualmente, a Liturgia da Palavra através do Evangelho de São Mateus apresenta-nos a visita dos reis magos a Jerusalém e a posterior adoração do menino em Belém.
A vinda destes reis do Oriente, a par da adoração em primeiro lugar dos pastores, dá à natureza extraordinária dos acontecimentos uma outra dimensão ainda mais extraordinária e inusitada. Os primeiros adoradores faziam parte do grupo dos marginalizados do povo, dos excluídos, e agora a eles juntam-se uns reis que nem sequer fazem parte do povo, uns estrangeiros excluídos pela mesma aliança de Deus com o povo escolhido.
Com estes grupos de adoradores, a manifestação de Deus encarnado revela-se como não dirigida a um grupo especial, a um grupo predilecto, mas bem pelo contrário a todos os homens e mulheres, aos que faziam parte do povo da promessa e aos outros, aos que se consideravam incluídos e aos que eram considerados excluídos. São Paulo na Carta ao Efésios sublinha e confirma esta mesma realidade ao dizer que os gentios recebem a mesma herança que os judeus e portanto pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa.
Contudo, e para que a manifestação de Deus aconteça hoje para nós temos que tomar algumas atitudes na nossa vida, temos que nos colocar em processo de acolhimento e abertura, temos que seguir o exemplo dos reis, que caminham desde o Oriente, e abandonar as atitudes dos escribas e de Herodes que se encontram em Jerusalém.
Ao ver a estrela despontar na noite escura das suas buscas os reis do Oriente puseram-se a caminho, iniciaram um processo de caminhada, orientado pela estrela, mas cujo final desconheciam. Também nós, na nossa busca de sentido para a vida e para muitos dos acontecimentos que se nos fazem incompreensíveis, caminhamos na noite escura. Muitas vezes pouco mais vemos que um palmo diante dos olhos e ainda quando a estrela procura brilhar custa-nos levantar a cabeça para o alto e ver o seu brilho e o caminho novo que nos indica. Na nossa busca olhamos muitas vezes, demasiadas vezes, para os nossos pés chagados e doridos, e esquecemos que sobre nós paira não só um céu de estrelas, mas a verdadeira estrela que nos pode iluminar e orientar na caminhada.
Como os reis do Oriente necessitamos lançar-nos na noite escura sem medo e com os olhos bem elevados para o céu, para essa estrela que é o Espírito Santo e nos conduz e pode conduzir até ao encontro com o Deus menino feito carne da nossa carne.
Nesta busca temos que passar inevitavelmente por Jerusalém, que no relato evangélico desconhece a estrela e o nascimento de que ela é sinal e presença. Mas tal acontece porque aqueles que se consideravam guardiães da lei e da revelação estavam ensimesmados em si próprios, nas suas tradições, no convencimento e arrogância da sua autoridade enquistada. Por aquilo que sabiam da lei e dos profetas consideravam-se senhores e detentores da revelação, senhores de Deus, esquecendo-se que Deus era imprevisível e indomável, incapaz de se condicionar aos nossos esquemas pequeninos e humanos.
Os escribas de Jerusalém estavam tão convencidos da sua verdade, do conhecimento que tinham, que não estavam abertos nem disponíveis para a criatividade e surpresa de Deus. E apesar da profecia de Isaías e de verem o seu cumprimento, nesses reis orientais que chegavam em busca do Messias prometido, não foram capazes de ver a luz que nascia para eles nem de fazer a festa a que Deus os convidava nessa mesma profecia. Pela sua própria cegueira se impossibilitaram de ver a beleza que despontava na aurora da nova humanidade.
Na nossa busca de Deus, nesse nosso caminhar na noite escura podemos também cometer o erro dos escribas e habitantes de Jerusalém, podemos encerrar-nos nos nossos conhecimentos e convencimentos e não abrir os olhos para uma nova luz que desponta na aurora. Podemos cometer ainda um erro mais grave, que é o de nos encontrarmos com os escribas convencidos da sua verdade, e de a partir desse encontro nos recusarmos a buscar mais na noite escura a luz que será a nossa salvação. Quantos encontros com os escribas, ou não, da nossa Igreja nos têm retirado o alento para continuar a busca, nos têm decepcionado e feito mergulhar na noite ainda mais escura do descrédito e da descrença.
Se tal aconteceu, se tal acontece, ou pode acontecer, os reis do Oriente deixam-nos um exemplo a seguir. Em Jerusalém encontraram a resposta exacta para o lugar do nascimento do menino, mas ainda assim foi a estrela que voltaram a seguir quando abandonaram a cidade. Tinha sido importante para eles a palavra e o conhecimento dos escribas, mas a estrela era o seu guia e era a ela que seguiam e continuaram a seguir. Também para nós a estrela deve ser o nosso guia e mesmo nos momentos de passagem por Jerusalém e de desencontro com os escribas da lei não devemos nunca deixar de olhar a estrela e seguir as suas indicações.
Se o fizermos, mais tarde ou mais cedo encontrar-nos-emos com o menino e sua mãe santíssima e poderemos oferecer-lhe os nossos presentes, que não serão mais que os frutos da nossa caminhada na noite silenciosa e escura, o ouro do nosso trabalho feito com justiça e verdade, o incenso das nossas preces feitas com fé e esperança, a mirra da nossa solidariedade e fraternidade vividas na caridade.
E depois do encontro e das ofertas, da adoração pela felicidade alcançada, partiremos inevitavelmente para regressar por outro caminho. Continuará certamente ainda a ser um caminho feito na noite, mas um caminho que é iluminado não só pela estrela que nos guiou, que brilhará com mais intensidade transfigurando a noite, mas também pela luz da presença memorável do Menino Deus no nosso coração.
Importa assim metermos os pés ao caminho e fixar os olhos na estrela que nos pode guiar. Façamo-lo com a confiança de que ainda que atravessemos vales tenebrosos o Senhor é nosso guia e companheiro.
A vinda destes reis do Oriente, a par da adoração em primeiro lugar dos pastores, dá à natureza extraordinária dos acontecimentos uma outra dimensão ainda mais extraordinária e inusitada. Os primeiros adoradores faziam parte do grupo dos marginalizados do povo, dos excluídos, e agora a eles juntam-se uns reis que nem sequer fazem parte do povo, uns estrangeiros excluídos pela mesma aliança de Deus com o povo escolhido.
Com estes grupos de adoradores, a manifestação de Deus encarnado revela-se como não dirigida a um grupo especial, a um grupo predilecto, mas bem pelo contrário a todos os homens e mulheres, aos que faziam parte do povo da promessa e aos outros, aos que se consideravam incluídos e aos que eram considerados excluídos. São Paulo na Carta ao Efésios sublinha e confirma esta mesma realidade ao dizer que os gentios recebem a mesma herança que os judeus e portanto pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa.
Contudo, e para que a manifestação de Deus aconteça hoje para nós temos que tomar algumas atitudes na nossa vida, temos que nos colocar em processo de acolhimento e abertura, temos que seguir o exemplo dos reis, que caminham desde o Oriente, e abandonar as atitudes dos escribas e de Herodes que se encontram em Jerusalém.
Ao ver a estrela despontar na noite escura das suas buscas os reis do Oriente puseram-se a caminho, iniciaram um processo de caminhada, orientado pela estrela, mas cujo final desconheciam. Também nós, na nossa busca de sentido para a vida e para muitos dos acontecimentos que se nos fazem incompreensíveis, caminhamos na noite escura. Muitas vezes pouco mais vemos que um palmo diante dos olhos e ainda quando a estrela procura brilhar custa-nos levantar a cabeça para o alto e ver o seu brilho e o caminho novo que nos indica. Na nossa busca olhamos muitas vezes, demasiadas vezes, para os nossos pés chagados e doridos, e esquecemos que sobre nós paira não só um céu de estrelas, mas a verdadeira estrela que nos pode iluminar e orientar na caminhada.
Como os reis do Oriente necessitamos lançar-nos na noite escura sem medo e com os olhos bem elevados para o céu, para essa estrela que é o Espírito Santo e nos conduz e pode conduzir até ao encontro com o Deus menino feito carne da nossa carne.
Nesta busca temos que passar inevitavelmente por Jerusalém, que no relato evangélico desconhece a estrela e o nascimento de que ela é sinal e presença. Mas tal acontece porque aqueles que se consideravam guardiães da lei e da revelação estavam ensimesmados em si próprios, nas suas tradições, no convencimento e arrogância da sua autoridade enquistada. Por aquilo que sabiam da lei e dos profetas consideravam-se senhores e detentores da revelação, senhores de Deus, esquecendo-se que Deus era imprevisível e indomável, incapaz de se condicionar aos nossos esquemas pequeninos e humanos.
Os escribas de Jerusalém estavam tão convencidos da sua verdade, do conhecimento que tinham, que não estavam abertos nem disponíveis para a criatividade e surpresa de Deus. E apesar da profecia de Isaías e de verem o seu cumprimento, nesses reis orientais que chegavam em busca do Messias prometido, não foram capazes de ver a luz que nascia para eles nem de fazer a festa a que Deus os convidava nessa mesma profecia. Pela sua própria cegueira se impossibilitaram de ver a beleza que despontava na aurora da nova humanidade.
Na nossa busca de Deus, nesse nosso caminhar na noite escura podemos também cometer o erro dos escribas e habitantes de Jerusalém, podemos encerrar-nos nos nossos conhecimentos e convencimentos e não abrir os olhos para uma nova luz que desponta na aurora. Podemos cometer ainda um erro mais grave, que é o de nos encontrarmos com os escribas convencidos da sua verdade, e de a partir desse encontro nos recusarmos a buscar mais na noite escura a luz que será a nossa salvação. Quantos encontros com os escribas, ou não, da nossa Igreja nos têm retirado o alento para continuar a busca, nos têm decepcionado e feito mergulhar na noite ainda mais escura do descrédito e da descrença.
Se tal aconteceu, se tal acontece, ou pode acontecer, os reis do Oriente deixam-nos um exemplo a seguir. Em Jerusalém encontraram a resposta exacta para o lugar do nascimento do menino, mas ainda assim foi a estrela que voltaram a seguir quando abandonaram a cidade. Tinha sido importante para eles a palavra e o conhecimento dos escribas, mas a estrela era o seu guia e era a ela que seguiam e continuaram a seguir. Também para nós a estrela deve ser o nosso guia e mesmo nos momentos de passagem por Jerusalém e de desencontro com os escribas da lei não devemos nunca deixar de olhar a estrela e seguir as suas indicações.
Se o fizermos, mais tarde ou mais cedo encontrar-nos-emos com o menino e sua mãe santíssima e poderemos oferecer-lhe os nossos presentes, que não serão mais que os frutos da nossa caminhada na noite silenciosa e escura, o ouro do nosso trabalho feito com justiça e verdade, o incenso das nossas preces feitas com fé e esperança, a mirra da nossa solidariedade e fraternidade vividas na caridade.
E depois do encontro e das ofertas, da adoração pela felicidade alcançada, partiremos inevitavelmente para regressar por outro caminho. Continuará certamente ainda a ser um caminho feito na noite, mas um caminho que é iluminado não só pela estrela que nos guiou, que brilhará com mais intensidade transfigurando a noite, mas também pela luz da presença memorável do Menino Deus no nosso coração.
Importa assim metermos os pés ao caminho e fixar os olhos na estrela que nos pode guiar. Façamo-lo com a confiança de que ainda que atravessemos vales tenebrosos o Senhor é nosso guia e companheiro.
Que o Espírito Santo nos dê a lucidez de oferecermos os frutos da nossa caminhada com perseverança.
ResponderEliminar"Tu és o meu refúgo e a minha fortaleza;
por amor do teu nome, guia-me e conduz-me."
Salmo 30
GVA
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNa realidade, levados por acontecimentos pessoais, mundiais, institucionais, somos tentados a mergulhar na noite escura, a abandonar, ... e que também ilustra ..." Também nós, na nossa busca de sentido para a vida e para muitos dos acontecimentos que se nos fazem incompreensíveis, caminhamos na noite escura. Muitas vezes pouco mais vemos que um palmo diante dos olhos e ainda quando a estrela procura brilhar custa-nos levantar a cabeça para o alto e ver o seu brilho e o caminho novo que nos indica." ..."Na nossa busca de Deus, nesse nosso caminhar na noite escura podemos também cometer o erro dos escribas e habitantes de Jerusalém, podemos encerrar-nos nos nossos conhecimentos e convencimentos e não abrir os olhos para uma nova luz que desponta na aurora. Podemos cometer ainda um erro mais grave, que é o de nos encontrarmos com os escribas convencidos da sua verdade, e de a partir desse encontro nos recusarmos a buscar mais na noite escura a luz que será a nossa salvação. Quantos encontros com os escribas, ou não, da nossa Igreja nos têm retirado o alento para continuar a busca, nos têm decepcionado e feito mergulhar na noite ainda mais escura do descrédito e da descrença." Obrigada por ajudar-nos a compreender e interpretar o mistério da homília de hoje e a exortar-nos para que a "manifestação de Deus aconteça hoje". Bem haja pelas palavras assertivas e pela confiança que nos transmite que "o Senhor é nosso guia e companheiro". Bem haja. MJS
Quais os bens para Deus receber e para a humanidade cultivar:
ResponderEliminar«o ouro do nosso trabalho feito com justiça e verdade, o incenso das nossas preces feitas com fé e esperança, a mirra da nossa solidariedade e fraternidade vividas na caridade.»
Um abraço fraterno,
Domingos Mesias.
Boa tarde, Frei José Carlos
ResponderEliminarQue a celebração do Nascimento do Menino Deus, tenha sido para si e a sua comunidade, um momento de muita paz e intimidade com tão grande Mistério. As suas reflexões continuam a ser um especial suplemento para a minha meditação durante estes dias, marcados por acontecimentos tão cheios de significado e sentido. Que Deus me ajude a colaborar com Ele.Frei José Carlos, o meu reconhecimento por tudo. FL