Iniciamos o ano civil com a celebração da solenidade de Santa Maria Mãe de Deus. Para nós hoje, e depois de tantos séculos de história, esta pode ser uma invocação mariana e uma verdade de fé sem qualquer problema, inquestionável, mas na história da Igreja nem sempre foi assim, foi necessário que a Igreja se reunisse em Concílio em Éfeso, no ano de 431, para que se chegasse a este consenso e dogma de fé de Maria ser a Mãe de Deus.
A problemática que está subjacente a este consenso, e às polémicas a que ele procura dar resposta, está patente, de alguma forma, na leitura que escutámos do Evangelho de São Lucas. O encontro dos pastores com o menino deitado na manjedoura, com Maria e José, transporta consigo e encerra em si a grande questão da divindade, porque o que os pastores encontraram naquela gruta foi apenas mais um menino, um menino recém-nascido como tantos outros e uma mãe como tantas outras mães.
No encontro dos pastores com o menino estamos perante o encontro da humanidade com a humanidade de Deus, com o mistério da encarnação, mistério que se torna apenas compreensível se tivermos presentes as palavras que antes tinham sido proclamadas pelos anjos. Foram os anjos que no seu anúncio, de que naquela noite nascia o Salvador e era aquele menino, que deram a chave da interpretação do que humanamente era possível contemplar. A Palavra que desde toda a eternidade habitava em Deus tinha-se feito palavra encarnada, mas só era perceptível e compreensível se iluminada ou descodificada por uma outra palavra, a palavra do anúncio, que neste caso tinha sido feito pelos anjos.
Para nós crentes do século vinte e um e ao iniciarmos um novo ano esta realidade torna-se por demais significativa e interpelante, uma vez que à luz deste encontro e episódio só podemos pensar o encontro com Deus, na sua divindade e humanidade, com base na palavra. É a palavra escutada, é a palavra proclamada, é a palavra feita vida que pode mostrar presente entre nós a presença de Deus e construir o seu reino. Como cristãos não nos podemos calar, não nos podemos remeter ao silêncio, bem pelo contrário somos interpelados por Deus a proferir a palavra, a sua e a nossa, a sua da revelação e a nossa da fé.
Os mesmos pastores que visitaram o menino e o encontraram deitado numa manjedoura nos deixam o exemplo, porque quando chegaram junto da família de Nazaré contaram tudo o que lhes tinha sido anunciado e depois partiram contando o que tinham visto e louvando a Deus. Depois da experiência do encontro foram inconscientemente os primeiros apóstolos, pois acreditaram na palavra que lhes tinha sido anunciada pelos anjos, acreditaram que o que humanamente viam era o cumprimento do anunciado e depois louvaram a Deus por isso e partiram anunciando-o a outros. O grupo dos apóstolos que mais tarde Jesus escolherá fará a mesma experiência e seguirá os mesmos passos e nós somos convidados a seguir o seu exemplo.
Contudo, para que a nossa palavra e o nosso anúncio tenha um sentido, esteja pleno de sentido e verdade, temos que assumir a atitude de Maria que também neste encontro nos é apresentada. São Lucas diz-nos que Maria conservava todos os acontecimentos e os meditava em seu coração, e nós, para que a nossa palavra tenha sentido, não podemos deixar de fazer o mesmo, não podemos deixar de olhar para a nossa vida e os seus acontecimentos e meditar no coração o que Deus nos revela através deles e à luz da sua Palavra.
É urgente que o façamos, não só para tomarmos consciência do volume de graças e bens com que Deus nos vai cumulando ao longo dos dias e dos anos, mas também para tomarmos consciência de como Deus nos chama a servi-lo, a amá-lo, a anunciá-lo naquilo que somos e vivemos. Muitas vezes sofremos da grande tentação de querermos servir a Deus, de o amar e o anunciar quando formos bons, irrepreensíveis, super-homens ou super cristãos. Nesta tentação limitamos a acção de Deus, a forma como ele tem agido ao longo da história da salvação e esquecemos de maneira desastrosa que Deus tem escolhido o fraco e o muitas vezes inaceitável para realizar a sua obra de salvação.
Os pastores eram simples homens, rudes, quase excluídos da sociedade do seu tempo pela tarefa que exerciam de guardar os rebanhos. No entanto foi a eles que os anjos se dirigiram e antes de mais o menino se revelou como presença de Deus entre nós. Hoje é a nós, nas nossas circunstâncias humanas e sociais que Deus se dirige como revelação e desejo de presença viva. Permitamos que se nos revele.
A problemática que está subjacente a este consenso, e às polémicas a que ele procura dar resposta, está patente, de alguma forma, na leitura que escutámos do Evangelho de São Lucas. O encontro dos pastores com o menino deitado na manjedoura, com Maria e José, transporta consigo e encerra em si a grande questão da divindade, porque o que os pastores encontraram naquela gruta foi apenas mais um menino, um menino recém-nascido como tantos outros e uma mãe como tantas outras mães.
No encontro dos pastores com o menino estamos perante o encontro da humanidade com a humanidade de Deus, com o mistério da encarnação, mistério que se torna apenas compreensível se tivermos presentes as palavras que antes tinham sido proclamadas pelos anjos. Foram os anjos que no seu anúncio, de que naquela noite nascia o Salvador e era aquele menino, que deram a chave da interpretação do que humanamente era possível contemplar. A Palavra que desde toda a eternidade habitava em Deus tinha-se feito palavra encarnada, mas só era perceptível e compreensível se iluminada ou descodificada por uma outra palavra, a palavra do anúncio, que neste caso tinha sido feito pelos anjos.
Para nós crentes do século vinte e um e ao iniciarmos um novo ano esta realidade torna-se por demais significativa e interpelante, uma vez que à luz deste encontro e episódio só podemos pensar o encontro com Deus, na sua divindade e humanidade, com base na palavra. É a palavra escutada, é a palavra proclamada, é a palavra feita vida que pode mostrar presente entre nós a presença de Deus e construir o seu reino. Como cristãos não nos podemos calar, não nos podemos remeter ao silêncio, bem pelo contrário somos interpelados por Deus a proferir a palavra, a sua e a nossa, a sua da revelação e a nossa da fé.
Os mesmos pastores que visitaram o menino e o encontraram deitado numa manjedoura nos deixam o exemplo, porque quando chegaram junto da família de Nazaré contaram tudo o que lhes tinha sido anunciado e depois partiram contando o que tinham visto e louvando a Deus. Depois da experiência do encontro foram inconscientemente os primeiros apóstolos, pois acreditaram na palavra que lhes tinha sido anunciada pelos anjos, acreditaram que o que humanamente viam era o cumprimento do anunciado e depois louvaram a Deus por isso e partiram anunciando-o a outros. O grupo dos apóstolos que mais tarde Jesus escolherá fará a mesma experiência e seguirá os mesmos passos e nós somos convidados a seguir o seu exemplo.
Contudo, para que a nossa palavra e o nosso anúncio tenha um sentido, esteja pleno de sentido e verdade, temos que assumir a atitude de Maria que também neste encontro nos é apresentada. São Lucas diz-nos que Maria conservava todos os acontecimentos e os meditava em seu coração, e nós, para que a nossa palavra tenha sentido, não podemos deixar de fazer o mesmo, não podemos deixar de olhar para a nossa vida e os seus acontecimentos e meditar no coração o que Deus nos revela através deles e à luz da sua Palavra.
É urgente que o façamos, não só para tomarmos consciência do volume de graças e bens com que Deus nos vai cumulando ao longo dos dias e dos anos, mas também para tomarmos consciência de como Deus nos chama a servi-lo, a amá-lo, a anunciá-lo naquilo que somos e vivemos. Muitas vezes sofremos da grande tentação de querermos servir a Deus, de o amar e o anunciar quando formos bons, irrepreensíveis, super-homens ou super cristãos. Nesta tentação limitamos a acção de Deus, a forma como ele tem agido ao longo da história da salvação e esquecemos de maneira desastrosa que Deus tem escolhido o fraco e o muitas vezes inaceitável para realizar a sua obra de salvação.
Os pastores eram simples homens, rudes, quase excluídos da sociedade do seu tempo pela tarefa que exerciam de guardar os rebanhos. No entanto foi a eles que os anjos se dirigiram e antes de mais o menino se revelou como presença de Deus entre nós. Hoje é a nós, nas nossas circunstâncias humanas e sociais que Deus se dirige como revelação e desejo de presença viva. Permitamos que se nos revele.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNa homília de hoje interpela-nos e convida-nos de novo a passar da palavra à vivência, à acção. Para tal, passo a citar algumas passagens ..."É a palavra escutada, é a palavra proclamada, é a palavra feita vida que pode mostrar presente entre nós a presença de Deus e construir o seu reino. Como cristãos não nos podemos calar, não nos podemos remeter ao silêncio, bem pelo contrário somos interpelados por Deus a proferir a palavra, a sua e a nossa, a sua da revelação e a nossa da fé.". ..."Hoje é a nós, nas nossas circunstâncias humanas e sociais que Deus se dirige como revelação e desejo de presença viva. Permitamos que se nos revele".Que Deus me ajude a ser íntegra e humilde para que tal aconteça. Bem haja. MJS
Bom dia Frei José Carlos,
ResponderEliminarEsta manhã dizia a alguém que o nosso Natal tinha sido diferente, com um sentido muito especial.O desenrolar dos acontecimentos levou-nos a perceber quanta coisa errada, quanta palavra mal pronunciada e quanta vontade de mudança no nosso coração. Sentimos a presença do Pai na força, na serenidade, nas oportunidades deparadas, na compreensão mútua, no acolhimento generoso. E rezo para que Deus feito menino que se revelou muito especialmente a nós nesta quadra com tanta ternura e tanta misericórdia, continue presente e nos mostre o caminho para O seguirmos sempre.
GVA