O Evangelho de São Lucas que escutámos neste terceiro domingo do Tempo Comum apresenta-nos a passagem de Jesus pela sinagoga de Nazaré sua aldeia de adopção e vida até à idade adulta.
É uma passagem importante para Jesus porque no Evangelho de São Lucas é o momento da viragem na sua vida, o momento do aparecer socialmente, o momento no qual Jesus assume a sua missão e digamos até identidade ao dizer que naquele dia se cumpria o prometido no livro do profeta Isaías que tinha acabo de ler.
Para nós é também uma passagem significativa porque desenvolve a dimensão testemunhal a que estamos intimados pela nossa fé, uma dimensão assente no que se vê e no que está para além do que se vê, e assente na palavra do outro que nos ilumina e abre os olhos para as realidades.
O texto do Evangelho diz-nos que todos os olhos estavam postos em Jesus, embora não se nos diga nem se perceba muito bem porquê. Para os participantes daquela assembleia Jesus não era um estranho, era um deles, um conhecido e pelo que nos diz o evangelista, Jesus também não fez nada de extraordinário, bem pelo contrário segundo o seu costume leu um texto do profeta na sinagoga.
Assim sendo, se os olhos se fixaram em Jesus e esperavam alguma coisa é porque os assistentes tinham a possibilidade de ver mais do que lhes era permitido ver pelos olhos, podiam ver com os olhos da fé. Por esta razão e indo ao seu encontro é que Jesus termina o silêncio, após a leitura, com a afirmação do cumprimento daquilo que tinha sido lido. Aqueles homens e mulheres eram os cegos de que falava a profecia de Isaías e Jesus estava ali presente, no meio deles, para lhes abrir os olhos, para os trazer para a luz, para que integrassem o ano de graça que se iniciava.
Era necessário no entanto dar um salto, ultrapassar as razões do que se via, do conhecido e comum para se entrar na outra dimensão da visão, na dimensão da fé que lhes permitiria ver quem de facto era aquele que eles conheciam desde a infância. Os acontecimentos posteriores testemunham-nos que não foram capazes, que não foram capazes dessa fé e por isso Jesus teve que abandonar a sua terra sem ter feito nenhum milagre nem nenhuma cura porque eles não tinham tido fé. O que os olhos lhes tinham permitido ver tinha-lhes impossibilitado a verdadeira visão.
É para colmatar estar falta, para ultrapassar a limitação da visão que, como o próprio nos diz, Lucas começou a escrever o seu Evangelho. Para tal, e para informar e formar a fé de Teófilo, Lucas procura como um detective exigente encontrar os relatos e histórias das testemunhas oculares. Mas não fica apenas por aí, por esse dado empírico e experiencial, ele procura e procurou também os testemunhos dos ministros da palavra, os testemunhos daqueles que souberam ver para além do que os olhos e os sentidos lhes permitiam captar. Desta forma e com ambos os testemunhos Lucas podia verdadeiramente fornecer um conhecimento seguro.
Para nós, e a exemplo dos homens e mulheres da sinagoga de Nazaré e do próprio Teófilo para quem Lucas escreve, é importante e fundamental perceber e ver o que está para lá do que os nossos olhos nos permitem ver. Temos que ver com os olhos e com o coração, ou alma, para nos encontrarmos com a verdade da revelação.
Podemos e devemos realizar este processo de visão através do contacto com a Sagrada Escritura, da visão da Palavra de Deus plasmada em histórias de encontros e desencontros humanos. Contudo, não nos podemos fixar apenas aí, não podemos olhar e ler com os olhos do corpo, necessitamos ultrapassar essa limitação e ler a história com os olhos dos ministros da palavra, daqueles que ao contrário dos habitantes de Nazaré foram capazes de ver o cumprimento das promessas, foram capazes de ver o Filho de Deus naquele filho de homem que era o carpinteiro de Nazaré. Deus escreve em linhas e letras humanas a sua história na nossa história.
Na Eucaristia podemos também encontrar-nos com este processo de visão, não já reduzido apenas à Palavra, mas explanado nas acções simbólicas e sacramentais que se realizam. Na celebração eucarística, com toda a liturgia que lhe está associada e inerente Deus faz-se também visível, e podemos deixa-nos cegar por aquilo que os olhos vêem ou ir mais além e apesar da pobreza do canto e das falhas do presidente ver a presença de Deus entre nós.
Quando nos encontramos com a Palavra e a Eucaristia Deus faz-se presente entre nós e dá-se cumprimento às passagens da Escritura, da promessa que nos foi feita. Temos assim que assumir que a exemplo de Nazaré a presença é cumprimento do anunciado, e não um cumprimento meramente formal ou exterior mas um verdadeiro e total cumprimento actual, hodierno. Também a nós Deus continua a dizer que se cumpre hoje o anunciado nas Escrituras, para o vermos necessitamos apenas de ter olhos que vêem para além do que é possível ver física e humanamente.
E realizada esta experiência podemos partir para o testemunho, para o anúncio da Boa Nova aos outros homens e mulheres, um anúncio que estará devidamente encarnado porque o teremos assumido como nossa história como nossa carne e nossa vida, e certamente seremos acreditados porque testemunharemos ministerialmente pelas palavras e pelas obras o que vimos e o que é possível ver.
É uma passagem importante para Jesus porque no Evangelho de São Lucas é o momento da viragem na sua vida, o momento do aparecer socialmente, o momento no qual Jesus assume a sua missão e digamos até identidade ao dizer que naquele dia se cumpria o prometido no livro do profeta Isaías que tinha acabo de ler.
Para nós é também uma passagem significativa porque desenvolve a dimensão testemunhal a que estamos intimados pela nossa fé, uma dimensão assente no que se vê e no que está para além do que se vê, e assente na palavra do outro que nos ilumina e abre os olhos para as realidades.
O texto do Evangelho diz-nos que todos os olhos estavam postos em Jesus, embora não se nos diga nem se perceba muito bem porquê. Para os participantes daquela assembleia Jesus não era um estranho, era um deles, um conhecido e pelo que nos diz o evangelista, Jesus também não fez nada de extraordinário, bem pelo contrário segundo o seu costume leu um texto do profeta na sinagoga.
Assim sendo, se os olhos se fixaram em Jesus e esperavam alguma coisa é porque os assistentes tinham a possibilidade de ver mais do que lhes era permitido ver pelos olhos, podiam ver com os olhos da fé. Por esta razão e indo ao seu encontro é que Jesus termina o silêncio, após a leitura, com a afirmação do cumprimento daquilo que tinha sido lido. Aqueles homens e mulheres eram os cegos de que falava a profecia de Isaías e Jesus estava ali presente, no meio deles, para lhes abrir os olhos, para os trazer para a luz, para que integrassem o ano de graça que se iniciava.
Era necessário no entanto dar um salto, ultrapassar as razões do que se via, do conhecido e comum para se entrar na outra dimensão da visão, na dimensão da fé que lhes permitiria ver quem de facto era aquele que eles conheciam desde a infância. Os acontecimentos posteriores testemunham-nos que não foram capazes, que não foram capazes dessa fé e por isso Jesus teve que abandonar a sua terra sem ter feito nenhum milagre nem nenhuma cura porque eles não tinham tido fé. O que os olhos lhes tinham permitido ver tinha-lhes impossibilitado a verdadeira visão.
É para colmatar estar falta, para ultrapassar a limitação da visão que, como o próprio nos diz, Lucas começou a escrever o seu Evangelho. Para tal, e para informar e formar a fé de Teófilo, Lucas procura como um detective exigente encontrar os relatos e histórias das testemunhas oculares. Mas não fica apenas por aí, por esse dado empírico e experiencial, ele procura e procurou também os testemunhos dos ministros da palavra, os testemunhos daqueles que souberam ver para além do que os olhos e os sentidos lhes permitiam captar. Desta forma e com ambos os testemunhos Lucas podia verdadeiramente fornecer um conhecimento seguro.
Para nós, e a exemplo dos homens e mulheres da sinagoga de Nazaré e do próprio Teófilo para quem Lucas escreve, é importante e fundamental perceber e ver o que está para lá do que os nossos olhos nos permitem ver. Temos que ver com os olhos e com o coração, ou alma, para nos encontrarmos com a verdade da revelação.
Podemos e devemos realizar este processo de visão através do contacto com a Sagrada Escritura, da visão da Palavra de Deus plasmada em histórias de encontros e desencontros humanos. Contudo, não nos podemos fixar apenas aí, não podemos olhar e ler com os olhos do corpo, necessitamos ultrapassar essa limitação e ler a história com os olhos dos ministros da palavra, daqueles que ao contrário dos habitantes de Nazaré foram capazes de ver o cumprimento das promessas, foram capazes de ver o Filho de Deus naquele filho de homem que era o carpinteiro de Nazaré. Deus escreve em linhas e letras humanas a sua história na nossa história.
Na Eucaristia podemos também encontrar-nos com este processo de visão, não já reduzido apenas à Palavra, mas explanado nas acções simbólicas e sacramentais que se realizam. Na celebração eucarística, com toda a liturgia que lhe está associada e inerente Deus faz-se também visível, e podemos deixa-nos cegar por aquilo que os olhos vêem ou ir mais além e apesar da pobreza do canto e das falhas do presidente ver a presença de Deus entre nós.
Quando nos encontramos com a Palavra e a Eucaristia Deus faz-se presente entre nós e dá-se cumprimento às passagens da Escritura, da promessa que nos foi feita. Temos assim que assumir que a exemplo de Nazaré a presença é cumprimento do anunciado, e não um cumprimento meramente formal ou exterior mas um verdadeiro e total cumprimento actual, hodierno. Também a nós Deus continua a dizer que se cumpre hoje o anunciado nas Escrituras, para o vermos necessitamos apenas de ter olhos que vêem para além do que é possível ver física e humanamente.
E realizada esta experiência podemos partir para o testemunho, para o anúncio da Boa Nova aos outros homens e mulheres, um anúncio que estará devidamente encarnado porque o teremos assumido como nossa história como nossa carne e nossa vida, e certamente seremos acreditados porque testemunharemos ministerialmente pelas palavras e pelas obras o que vimos e o que é possível ver.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarA partir da passagem significativa de Jesus pela sinagoga de Nazaré encoraja-nos, à semelhança dos" homens e mulheres da sinagoga de Nazaré e do próprio Teófilo para quem Lucas escreve" a ver "para além do que os olhos e os sentidos lhes permitiam captar". Que Deus nos dê sempre fé por forma a que "Também a nós Deus continua a dizer que se cumpre hoje o anunciado nas Escrituras, para o vermos necessitamos apenas de ter olhos que vêem para além do que é possível ver física e humanamente.". Bem haja por esta partilha, por esta força que nos transmite. Obrigada. MJS
Frei José Carlos,
ResponderEliminarA leitura da sua homilia trouxe-me à memória o episódio de Santa Imelda que connosco partilhou há tempos, na medida em que ela escutou e viu nas acções simbólicas e sacramentais a presença do Senhor, que desejou ardentemente.
Que a exemplo dela possamos alhear-nos do que é acidental e viver a experiência de Deus vivo em nós e d'Ele dar testemunho.
"Meu Senhor e meu Deus"...
GVA