Ontem, uma grande amiga e fiel seguidora destas palavras cibernéticas disse-me pessoalmente que se tinha sentido “chocada” com aquilo que tinha escrito na sexta-feira passada, no dia do meu aniversário de ordenação. O choque derivava da exposição em que me tinha colocado, pela amizade que devota aos membros desta comunidade não gosta de nos ver assim expostos.
Sei que hoje esteve presente na Missa Nova do frei Vasyl, meu irmão, membro desta comunidade e grande amigo. Sei que se deu conta, como todos os presentes da emoção e comoção com que o frei Vasyl terminou a sua primeira celebração dominical.
Todos nos demos conta e todos nos surpreendemos porque não estamos habituados, diríamos que não faz o seu género, não é de se expor nem gosta de ser o centro das atenções. Como dizemos aqui em casa, algumas vezes entre nós, parece que o rigor do frio eslavo o moldou e o tornou insensível. Hoje, no entanto, vimos como não é assim, como o gelo eslavo também derrete, como as emoções nos quebram mesmo quando tudo fazemos para não nos deixarmos ir ao tapete, como nos expomos mesmo não querendo.
E foi um momento inesquecível, não por ver o Vasyl chorar, porque já de há muito sabíamos que era um homem de emoções como todos nós, mas por ter sido verdadeira e profundamente dominicano, um momento dominicano, razão pela qual deve ser recordado.
Antes de mais porque foi em comunidade, estávamos todos ali, entre irmãos, e afinal as suas lágrimas eram as nossas lágrimas de emoção, de tantos momentos e lutas partilhadas, de silêncios e palavras, de distanciamentos e abraços, de perdão e alegria partilhadas. Depois, porque mostrou como verdadeiramente somos, como por detrás da nossa carapaça e máscara de cerebrais e intelectuais, de homens fortes, de dominicanos, está um homem com tudo o que é de fragilidade e emoção, de profunda e intrínseca humanidade.
Somos homens, com tudo o que temos e não temos, com as nossas fraquezas e riquezas, e se por vezes parecemos anjos ou santos é porque o mendigamos ser, não fossemos mendicantes, e num laivo de graça o Senhor nos permite sê-lo, ou parecê-lo. Não há outro caminho para Deus senão o da nossa humanidade, o da nossa total humanidade, e como dominicanos sabemos isso desde que São Domingos nos fundou para servir a Igreja. Por essa razão, quando professamos na Ordem pedimos a misericórdia de Deus e dos irmãos, queremos ser santos, ser fiéis ao chamamento de Jesus, mas sabemos que sem a graça de Deus e a ajuda dos irmãos não o conseguiremos jamais.
E depois há a história de cada um de nós, a história pessoal, os caminhos que percorremos na terra e nos trouxeram até aqui e até hoje. Foi um cântico ucraniano, de acção de graças, magnificamente cantado, que soltou as fontes dos olhos do Vasyl. Só ele sabe o que aquelas palavras significam de vida, de dor e alegria, de entrega e amor, de história de Deus na sua vida. Todos nós somos uma história de Deus, contada e a contar. O cântico trouxe essa história indizível à nossa história comum e nas lágrimas partilhámo-la fraternamente.
Podemos dizer que hoje, e uma vez mais, todos estivemos expostos, que nos mostrámos como somos, ou uma faceta mais de como somos. Somos frágeis e somos fortes, rimos e choramos, aguentamos e caímos, procuramos ser santos como Jesus nos diz que procuremos ser, somos anjos porque balbuciamos uma oração e apresentamos sobre o altar as ofertas dos nossos irmãos, mas essencialmente somos homens porque o nosso Deus se fez um como nós para podermos ser um como Ele e com Ele.
Pierre Hugo, um dominicano francês escreveu que “a festa é a abundância da bondade, a partilha da amizade, a vida levada a um tal grau de intensidade que a morte parece esquecida” . Hoje foi para nós um dia de festa, um grande dia de festa. Louvemos a Deus pelo dom da vida e da vocação do Vasyl, nosso amigo e nosso irmão.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarVou centrar-me na parte do texto que se reporta à Missa Nova do Frei Vasyl. Sempre que posso participo na missa das 12h00, pelas razões que já escrevi, oportunamente, lamentavelmente, menos do que gostaria. Hoje havia mais um motivo que me levou a participar na missa. Era a Missa Nova do Frei Vasyl. Cruzei-me algumas vezes com este irmão no Convento e o facto de somente nos saudarmos, é sobretudo para mim, um dominicano, que faz parte da vossa comunidade e de uma ”família à qual me sinto espiritualmente pertença” que nada conhecendo das suas relações pessoais e familiares, algumas vezes, pensara como teria sido a sua adaptação a Portugal e aos portugueses. Acabei de falar com um amigo sobre a redacção de um ensaio sobre a investigação em Artes que já devia estar há muito concluído que é agnóstico e com quem senti necessidade de partilhar a forma como tinha decorrido a missa dominical passando pela emoção do Frei Vasyl que me tocou particularmente e fico por aqui. Durante a semana vou partilhar com outras pessoas que às vezes vão à missa ao convento. O que vou partilhar? Na realidade, não imaginava como iria decorrer. O que me sensibilizou: a participação de todos os frades que estavam presentes, a entreajuda dos irmãos, a presença da Mãe do Frei Vasyl e de amigos, a beleza e a simplicidade da celebração, o carinho e o ambiente que todos vós criaram à volta do Frei Vasyl, a emoção do mesmo, o que para mim, é um excelente sinal dos seus sentimentos, a alegria que irradiava do rosto dele quando o saudámos. Senti alegria por ter podido participar nesta missa.
Permita-me que transcreva o seguinte parágrafo ...” Podemos dizer que hoje, e uma vez mais, todos estivemos expostos, que nos mostrámos como somos, ou uma faceta mais de como somos. Somos frágeis e somos fortes, rimos e choramos, aguentamos e caímos, procuramos ser santos como Jesus nos diz que procuremos ser, somos anjos porque balbuciamos uma oração e apresentamos sobre o altar as ofertas dos nossos irmãos, mas essencialmente somos homens porque o nosso Deus se fez um como nós para podermos ser um como Ele e com Ele." ...
Obrigada a todos vós por todo o empenho neste momento tão dignificante da vida da vossa comunidade. Todos estão de Parabéns.
Que Jesus vos proteja, ilumine e encoraje no desempenho da missão que um dia aceitastes abraçar. Bem haja, Frei José Carlos, por esta partilha. MJS
Frei José Carlos,
ResponderEliminar"Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo", assim termina o seu texto do aniversário da sua ordenação. Assim dou graças a Deus por tudo o que me foi dado por vós como homens de Deus, assim me levaram a amar-vos fraternalmente. É certo que não consigo deixar de pensar em vós mais como santos do que homens. É certo também que ainda não sofri qualquer desilusão nesta minha assunção, considerando o que sei da vida dos santos. A Eucaristia é o maior elo de união entre nós e a permanência diária junto de vós ajuda-nos a caminhar melhor.
Hoje o nosso coração vibrou mais do que nunca nesta entrega do Frei Vasyl em que a forma da cerimónia nos aproximou, por ele, ainda mais de Deus. Para mim, ele foi desde sempre um exemplo de dominicano e a pouco e pouco vimo-lo descongelar no seu sorriso acolhedor. Se nem todos chorámos com lágrimas, os nossos corações vibraram de emoção em união com ele.
Bem hajam pela festa que hoje mais uma vez despertaram nos nossos corações.
Muito obrigada, Frei José Carlos.
GVA
Bonita partilha. desejo a todos e especial ao padre Vasyl as maiores felicidades. Que o Espiríto Santo abençoe e fortaleça a vossa vocação.
ResponderEliminarMaria
Fr. José Carlos y demás lectores,
ResponderEliminarLa fiesta de la lágrima, fue fiesta de la vulnearbilidad humana. Como frailes somos una lágrima frágil y acogida en la Misericordia de Nuestro Padre Dios. Como Santo Domingo hizo con sus frailes. Gracias a fr. Vasyl por su gesto de ternura, por su gesto de entrega, por su gesto de sensibilidad y apertura al Amor. Gracias por la acogida durante mi visita en la comunidad de Lisboa.
fr. Carlos Alberto
Puerto Rico