terça-feira, 17 de agosto de 2010

São Jacinto da Polónia - Memória Dominicana

Em 1183 nascia ao Conde Konski e a sua mulher Beatriz um filho, o primogénito da família, Jacinto Odrowaz. Como era natural deveria ser ele o herdeiro do título e das terras da família, mas as voltas do mundo e os desígnios de Deus fizeram com que não fosse assim.
Numa viagem a Roma, acompanhando o seu tio bispo de Cracóvia, Jacinto encontra-se com Domingos de Guzman, o fundador da Ordem dos Pregadores. Entre desejos de missionários e missão para além das fronteiras conhecidas, Jacinto incorpora a Ordem recentemente fundada por Domingos e com mais cinco companheiros regressa à sua terra natal da Polónia para exercer o ministério de pregador da Palavra de Deus.
Mas era necessário ir mais longe, levar a Verdade de Jesus Cristo a outros povos e é assim que Jacinto depois de percorrer toda a zona norte da Prússia se encontra em Kiev, na grande cidade das cúpulas douradas, capital do império russo e da Igreja Ortodoxa.
Não foi fácil o convívio entre os dois ramos da árvore Igreja e por essa razão pouco tempo depois Jacinto tem que fugir da cidade, regressando clandestinamente alguns anos mais tarde.
É nesta segunda estadia, quando os Tártaros invadem a cidade de Kiev, e no atropelo da fuga, que acontecem os milagres que fornecem os elementos que permitem a identificação iconográfica de São Jacinto da Polónia.
Jacinto, prior do convento de Kiev, preparava-se para celebrar a Eucaristia. É nesse momento que alguém grita que os invasores estão às portas da cidade e destroem tudo. Agarrando no que mais sagrado tinha, Jacinto foge da igreja com a píxide onde se guardava o Santíssimo Sacramento. Ao sair da igreja, despedindo-se da imagem da Virgem Maria diante da qual tantas vezes tinha rezado, esta pergunta-lhe se a deixa para trás, se a abandona aos bárbaros. Jacinto desculpa-se com o peso da imagem em pedra e é então que a Virgem lhe responde que ele tinha forças para a carregar. A imagem é leve como o papel, e por isso Jacinto não só a retira da igreja como a transporta até Cracóvia, onde readquire o peso natural da pedra que era depois de entronizada na igreja da Santíssima Trindade.
Por este milagre, São Jacinto da Polónia é iconograficamente representado com o hábito branco e negro dominicano, ou paramentado com estola para celebrar a missa, segurando numa mão a píxide com o Santíssimo Sacramento e carregando no outro braço a imagem da Virgem Maria.
Mas os acontecimentos extraordinários não ficaram por aqui, porque vendo-se nas margens do rio Dnieper sem meios para o atravessar e fugir aos Tártaros, Jacinto ousadamente caminha sobre as águas e consegue chegar à outra margem são e salvo, juntamente com os companheiros e os tesouros santíssimos que tinha salvo da igreja conventual.
Por este facto, em muitas pinturas e representações, São Jacinto aparece caminhando sobre as águas, símbolo da sua fé forte e sem vacilações, como podemos ver neste bonito painel de azulejos do século XVIII da igreja do antigo convento dominicano de São Paulo de Almada. Na igreja de São Domingos, ao Rossio, em Lisboa, é possível ver também duas pinturas alusivas a estes acontecimentos da vida de São Jacinto da Polónia, pinturas que infelizmente ainda não consegui fotografar.
Jacinto Odrowaz morreu a 15 de Agosto de 1257, pouco depois das três horas da tarde e após uma vida longa de pregação e sacrifícios. Em 17 de Abril de 1594 foi proclamado oficialmente Santo pelo Papa Clemente VIII. E hoje celebramos a sua Memória na Ordem dos Pregadores.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    A partilha de hoje sobre um dos Santos Dominicanos, São Jacinto da Polónia, ... com ”uma vida longa de pregação e sacrifícios”…, cuja Memória é celebrada hoje, ilustrada com grande beleza e propriedade, ensina-nos que uma “fé forte e sem vacilações” é fundamental para vencer todos os obstáculos, os muitos desafios que se vão deparando ao longo das nossas vidas. E fica também o convite a uma visita e/ou revisita mais atenta e informada à igreja de São Domingos, ao Rossio, em Lisboa.
    Obrigada Frei José Carlos por ficarmos a conhecer aspectos tão importantes da vida de mais um Santo Dominicano que constituem sempre exemplos de vida a seguir. Bem haja.
    Um abraço fraterno,
    MJS

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  2. Frei José carlos,
    É encantadoramente bela esta narrativa que nos enche de ternura o coração à medida que vamos progredindo na sua leitura e na descoberta de mais um santo dominicano.
    Na ingenuidade dos seus actos, revela S. Jacinto uma fé inabalável e uma condicional entrega que nos convidam à sua imitação.
    E por si, somos conduzidos a espaços dominicanos aqui tão próximos,como o da Igreja de S.Domingos, um refúgio de retempero espiritual e cultural, durante qualquer incursão consumista pela Baixa de Lisboa.
    Tenha uma santa noite,
    GVA

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