terça-feira, 21 de setembro de 2010
Cristo Partido
Há muitos cristãos que tranquilizam a sua consciência beijando um Cristo belo, obra de arte e de museu, enquanto ofendem, mutilam e roubam o pequeno Cristo de carne, que é o seu irmão… Esses beijos repugnam-me e causam-me asco. Tolero-os e aguento-os, forçado, nos meus pés de imagem talhada em madeira. Ferem-me porem o coração. Tendes demasiados Cristos belos, demasiadas obras de arte da minha imagem crucificada, demasiados Cristos completos, perfeitos, apolíneos… E estais em perigo de vos ficardes na obra de arte. Um Cristo belo pode ser um perigoso refúgio, para vos esconderdes da dor alheia, tranquilizando ao mesmo tempo a consciência com um mentido amor a Deus crucificado.
Por isso deveríeis ter mais Cristos partidos, mais Cristos mutilados. Um à entrada de cada igreja, um em cada procissão da semana santa, que vos gritasse sempre, com os seus membros partidos e a cara sem formas, a dor e a tragédia da minha segunda Paixão nos meus irmãos, os homens… Por isso te suplico: não me restaures. Deixa-me partido. Aguenta-me partido junto de ti, ainda que amargure um pouco a tua vida. Beija-me partido ![1]
[1] Ramon Cué – O Meu Cristo partido, Porto, Editorial Perpétuo Socorro, s.d., 32.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Frei José Carlos,
ResponderEliminarQue bonita e profunda partilha ao dar-nos a conhecer um excerto do “Meu Cristo Partido” de Ramon Cué que nos desafia.
...” Um Cristo belo pode ser um perigoso refúgio, para vos esconderdes da dor alheia, tranquilizando ao mesmo tempo a consciência com um mentido amor a Deus crucificado.”
Que Jesus nos ilumine no nosso quotidiano, dando-nos a força e a coragem para sermos coerentes nos nossos pensamentos e acções.
Obrigada por nos interrogar em permanência, no Caminho da Verdade e do Bem. Bem haja.
Um abraço fraterno,
MJS