quarta-feira, 22 de setembro de 2010

E disse-lhes: não leveis nada para o caminho. (Lc 9,3)

Depois de os ter chamado a cada um individualmente e de lhes ter dado poder sobre os demónios e de curar as doenças, Jesus envia os Apóstolos com esta recomendação, “não leveis nada para o caminho”.
Para nós, homens da sociedade urbana e de consumo, habituados a carregar-nos de sacos e malas esta é uma recomendação que nos deixa desalentados, desapontados, pois sentimos necessidade de levar a casa atrás de nós, temos até um certo prazer em nos carregarmos de coisas supérfluas.
Contudo, quando fazemos a experiência física e concreta do caminho, de caminhar, percebemos o quanto são verdadeiras as palavras de Jesus e o quanto as devemos procurar seguir fielmente. Para quem já fez a experiência de caminhar horas e horas, dias após dias com uma mochila carregada com aquilo que apenas consideramos necessário e que nos pode fazer falta, sabe o doloroso que se torna aguentar com tanto peso, com tanta carga tantas vezes dispensável.
É difícil, porque libertar-se do peso, desse peso das coisas a que nos prendemos por uma necessidade inconsciente, ou nem tanto, de segurança, não é fácil. Estamos sempre com medo que algo nos falte, que sejamos apanhados desprevenidos. E contudo o Senhor Jesus disse-nos que nem um só cabelo da nossa cabeça se perde sem conhecimento de Deus.
Como é difícil confiarmo-nos à vigilância de Deus, em depositarmos nele a nossa segurança; gostamos e queremos ter esse poder de saber que tudo está sob o nosso controlo, nada nos pode apanhar desprevenidos. E no entanto, quão frágeis somos e quantas vezes somos apanhados mesmo no meio das nossas maiores seguranças.
Ajuda-nos Senhor a libertar-nos de tudo o que nos prende, de tudo o que nos tolhe de te seguirmos livremente, ágeis e independentes como desejas que sejamos.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Que texto importante que partilha connosco a partir do Ev (Lc 9,3<9. Como me sinto espelhada nele como fazendo parte daqueles que por prevenção vão sempre carregando algo mais em viagem, nos livros para consulta, no Kit x ou y que pode ser necessário, nos papéis que vou acumulando, nas justificações que faço a mim própria com a imprevisibilidade do amanhã, etc. É um defeito quase geracional mas também representa o que afirma ...” É difícil, porque libertar-se do peso, desse peso das coisas a que nos prendemos por uma necessidade inconsciente, ou nem tanto, de segurança, não é fácil. Estamos sempre com medo que algo nos falte, que sejamos apanhados desprevenidos.” …”Como é difícil confiarmo-nos à vigilância de Deus, em depositarmos nele a nossa segurança”… Mas até tenho uma consciência forte da nossa fragilidade, da brevidade desta passagem, da “gota de água” que somos e que rapidamente desaparece no Oceano que nos envolve …
    Recordo a Homilia que escreveu no Domingo XII do Tempo Comum (20 de Junho de 2010) e da qual passo a citar o último parágrafo …”Seguir implica inevitavelmente e como também nos diz Jesus ir-se libertando, ir perdendo desta vida alguma coisa para ganhar outra vida. Não é fácil, Jesus sabe-o bem e avisou-nos sobre o assunto, mas é necessário para que sejamos cada vez mais membros vivos e bem vivos do Corpo glorioso de Cristo.”
    Que Jesus fortifique a minha (nossa) fé para que possamos libertar-nos de “tudo o que nos prende” para podermos fazer verdadeiramente parte da construção do Reino de Deus.
    Obrigada pela partilha. Bem haja.
    Um abraço fraterno, MJS

    ResponderEliminar