Depois de ouvir tantas coisas, tantas histórias de milagres e actos considerados no mínimo provocadores, Herodes procurava ver Jesus, procurava ver aquele que tanto debate e discussão gerava entre os intelectuais e autoridades religiosas que frequentavam a sua corte. Queria vê-lo, como quem quer ver algo de bizarro, uma extravagância que é necessário conhecer por si para se acreditar que existe ou é verdade.
Mas não terá essa oportunidade porque o conhecimento de Jesus Cristo é um conhecimento de vida, é um processo em que os olhos não podem ver para que o coração veja, é um processo em que a imagem nos esconde a verdade da realidade e portanto é necessário acreditar, para ver, e saber a verdade que se vê. E o lugar mais propício para esse exercício é a cruz, o corpo entregue ao madeiro, como nos diz Paul Claudel:
Eis o Verbo bem aberto diante de nós. Eis o Verbo desdobrado diante de nós, no qual podemos ler como em livro aberto. Ei-lo consolidado diante de nós, para sempre, nessa atitude essencial na qual fez o céu e a terra.
Todos os heréticos podem atacar-lhe os membros, conseguirão deslocar-lhe o fémur, mas não conseguirão fazer vacilar a união hipostática, essa articulação fundamental, esse outro fémur sobre o qual, diz-nos o Apocalipse, “estão inscritas as palavras: Rei dos reis e Senhor dos senhores”. Eis o convite que nos é dirigido por esses dois braços que fizeram o mundo e que vão ficar estendidos todo o dia até que o tenham reintegrado. Eis essas grandes asas desdobradas que fazem de duas coisas uma só, eis Deus, eis o Amor, livre de todo o pudor, aberto e desvendado ante nós, eis essa profundeza de que fala Habacuc “que levantou as mãos”, eis Jesus crucificado sobre um triângulo e remate da sua própria pessoa, o homem da visão que estende por cima de Jerusalém o nível supremo.[1]
[1] Paul Claudel – O Poeta e a Cruz, Lisboa, Editorial Aster, 1958, 78.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada por esta maravilhosa partilha. “Herodes procurava ver Jesus”, e alguns de nós, pelo menos, por vezes, não vacilamos, não gostaríamos contemplar a Face de Jesus? E nós, como olhamos Jesus? Certamente não como Herodes. Acreditamos que está entre nós, que caminha a nossa lado, que não nos abandona. Mas ... como afirma, ...” o conhecimento de Jesus Cristo é um conhecimento de vida, é um processo em que os olhos não podem ver para que o coração veja, é um processo em que a imagem nos esconde a verdade da realidade e portanto é necessário acreditar, para ver, e saber a verdade que se vê.” …
Queremos, podemos e devemos ver Jesus com os olhos da fé, contemplando-O, amando-O, mas principalmente, sendo Seus seguidores, na oração, no nosso quotidiano, para que seja verdadeiro reflexo de Jesus Cristo.
Que Jesus nos ilumine no caminho da Verdade e do Bem.
Bem haja, Frei José Carlos.
Um abraço fraterno,
MJS
Bom dia Frei José Carlos,
ResponderEliminarTenho-me deleitado com a riqueza do texto desta meditação que connosco partilha.
Um santo e descansado fim de semana,
GVA