A cidade de Lima, no Peru, conheceu no século XVII três santos dominicanos, uma mulher e dois homens, Rosa, Martinho e João, marcados profundamente pela circunstância histórica que lhes foi dado viver e pelas experiências espirituais que desenvolveram. São três santos pobres, vivem na pobreza e com a pobreza, realizam tarefas servis, vivem do trabalho das suas mãos, sem ouro nem prata numa cidade do Eldorado, mas são três santos ricos na experiência profunda que têm da humanidade e da presença de Deus nas suas vidas e na vida dos outros homens.
João Macias é cronologicamente o último desta trilogia e aquele que desde a sua infância, na terra natal da Extremadura espanhola, vive uma amizade secreta com alguém que foi também objecto de uma relação muito especial de intimidade e amizade. É um segredo bem guardado, revelado apenas nos momentos finais da vida quando é necessário confessar a fonte de onde se nutria para enfrentar tantas horas de trabalho na portaria do Convento da Madalena e tantas horas de oração solitária nos claustros e igreja do convento.
Foi um dia, quando ainda menino e guardava o rebanho nos campos extremanhos, que se encontrou com esse companheiro de toda a vida, São João Evangelista. Desde aquele dia acompanhou-o por todas as andanças, por todos os caminhos, nos momentos de maior solidão e privacidade mas também quando servia o pão aos pobres que batiam à porta do convento e não o deixavam descansar com o seu Senhor e o seu amigo.
Para compreendermos São João Macias, a sua experiência espiritual e a sua vida de serviço aos irmãos e aos pobres, temos que ter esta realidade presente, esta relação, que para ele era mais verdadeira, mais real que qualquer outra experiência. O Apóstolo São João forma parte da vida de São João Macias, ainda que para nós e para todos aqueles que se aventuram numa biografia deste santo seja um enigma, um mistério que nos provoca a olhar com outros olhos.
Podemos perguntar, porquê São João Evangelista? Afinal um santo que até nem é muito da devoção popular. Seria mais natural um São João Baptista, habitante de desertos como os campos onde o pequeno João Macias pastoreava os rebanhos. Podemos perguntar, porque razão São João Macias nunca falou a ninguém desta experiência até à hora da sua morte? Sendo uma experiência mística e uma relação tão profunda, porquê nunca revelada? E por fim, como não é possível encontrar traços dos escritos joânicos na sua vida? Ou será que os podemos encontrar de uma forma transfigurada e actualizada às circunstâncias do momento histórico?
O silêncio de João Macias sobre a sua experiência mística com o discípulo amado é um mistério, embora possamos aceitar que lhe era difícil falar dela pela sua ignorância das letras, João não sabia ler, e pelo temor dos inquisidores que por esses tempos vigiavam e controlavam este tipo de realidades. Por outro lado, podemos aceitar também que o silêncio deriva da própria experiência do amigo íntimo, que junto à cruz tudo vê e tudo acolhe em silêncio, e que um dia escreveu a uma das suas comunidades: “a Deus nunca ninguém o viu, se nos amarmos uns aos outros Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós” (1Jo 4,12). As obras de São João Macias testemunham do amor e consequentemente da sua relação e amizade.
Diz o povo, “diz-me com quem anda e dir-te-ei quem és”, São João Macias é possível de dizer na medida em que conhecemos com quem andava, o discípulo amado de Jesus.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarÉ perfumada de ternura esta narrativa que nos oferece, reflectindo o Amor de Deus na força, na resistência, no siLêncio com que S.João Macias se movimentou ao longo da sua vida de Dominicano, guiado pelo discípulo amado de Jesus.
Poderei pensar que a pobreza lhe libertou o olhar para reconhecer o Companheiro de toda a vida? Que lhe libertou o coração para amar Deus nos outros?
Tenha uma santa noite,
GVA
Frei José Carlos,
ResponderEliminarSão João, já com avançada idade quando lhe perguntaram porque dizia sempre “irmãos, amai-vos uns aos outros”, respondeu: “é que esse é o mandamento de Jesus, e se o cumprirmos todo o resto virá além disso”. É este testemunho que São João Macias dá colocando a sua vida ao serviço dos irmãos e dos pobres com os dons que Deus lhe deu numa experiência espiritual única, mística, com um amigo constante, íntimo, São João Evangelista que foi também o “discípulo mais amado de Jesus”.
Obrigada por nos dar a conhecer alguns aspectos da vida de outro Santo Dominicano, cujo exemplo de vida, nos faz meditar, no passado e no presente.
Bem haja, Frei José Carlos.
Um abraço fraterno,
MJS