O cerco vai-se
apertando, os ânimos vão ficando mais exaltados e nas veias circula o ódio
contra Jesus. O medo apodera-se dos corações, é preferível um homem morrer, um
inocente, a perder-se o poder que se tem. As autoridades decidem a morte de
Jesus, é um perigo para eles e para o poder que possuem.
Jesus aceita a morte,
ainda que distante de toda esta trama de violência que se gera à sua volta,
Jesus aceita o papel que lhe compete, aceita entregar a sua vida nas mãos dos
homens, ser julgado por homens sem qualquer sentido de justiça, condenado por
eles sem escrúpulos a uma morte ignominiosa.
Ele morre por ter
anunciado aos homens o amor sem medida de Deus, o amor eterno que desde o
primeiro momento da criação Deus mantém pela sua obra, e de modo particular
pela obra que é sua imagem e semelhança. Ele morre por ter revelado um Deus que
se apaixona, que perdoa, que sente as dores da maternidade por um filho que se
perde. Ele morre por ter apresentado Deus humano.
A cruz elevada no alto
do Gólgota revela-nos esse amor abissal de Deus pela humanidade, o seu coração
amante para que todos os homens o saibam e possam amar sem medo. A cruz
revela-nos que o amor vence o mal, o ódio, a violência, que Deus se entrega
para vencer o mal que nos corrompe.
Quando traçamos sobre
nós o sinal da cruz, no início de cada oração, de cada celebração da Missa, era
bom que nos recordássemos desse amor, de como estamos e fomos mergulhados na
mesma cruz em que Jesus esteve pregado, como ao traçá-la sobre nós estamos a
assinalar a habitação do amor de Deus. Pela sua cruz Jesus deu-nos a vida
divina que nos habita, fez de nós habitação de Deus.
Que o saibamos cuidar
e assinalar dignamente, que descubramos todo o significado e poder deste gesto
tantas vezes banalizado no seu traçar desajeitado e sem sentido.
“O pagamento de Judas pela traição”, Giotto di Bondone, fresco da Capela dei Scrovegni, Pádua.
Sem comentários:
Enviar um comentário