Estavam reunidos para
celebrar a Páscoa, a alegria transparecia no rosto de quase todos, e sem se
perceber muito bem como o Mestre sentiu-se intimamente perturbado. O seu
semblante alterou-se e sem qualquer preparação psicológica anunciou aos seus
amigos ali reunidos que um deles o ia trair.
Podemos imaginar o
murro no estômago que todos sentiram, o nó que se formou na garganta e lhes
embargou a voz, ao ponto de apenas o discípulo amado ser capaz de perguntar: “quem
é Senhor?” Olharam-se uns aos outros numa tentativa de percepção de quem seria
o traidor.
Pedro, na sua habitual
rusticidade, não aceita o que Jesus diz, e afirma que ainda que alguém possa
trair o Mestre ele está disposto a dar a vida, está disposto a seguir Jesus até
ao fim, a ser fiel inquestionavelmente. A tal disposição Jesus responde com o
anúncio da negação, uma negação tripla ainda antes do galo cantar, ainda antes
da noite terminar.
As palavras de Jesus
feriram, devem ter sido um outro murro e muito mais forte no estômago e no
coração de Pedro. Como era possível que o Senhor dissesse que ele o trairia
ainda essa noite? Ele que tinha já deixado tanta coisa para o seguir. O orgulho
de Pedro desmoronou-se!
Mas é esta ferida no
orgulho de Pedro que lhe permitirá não cair na tentação do desespero, que lhe
permitirá reconhecer o amor incondicional de Jesus, a porta aberta por este
anúncio de traição. O Mestre sabia já o que ele faria, conhecia as suas
fraquezas, e não o condenava nem o excluía, bem pelo contrário anunciava-lhe a realização
da sua pretensão de entrega e fidelidade, embora para mais tarde e de outra
forma.
Deus conhece as nossas
fraquezas e potencialidades de infidelidade, mas não nos condena nem nos fecha
a porta, bem pelo contrário, por causa delas oferece-nos a mão estendida do
perdão, da misericórdia, para não soçobrarmos nas nossas infidelidades. Não é
um conjunto de homens e mulheres perdidos que lhe interessam, mas aqueles que
estão dispostos a fazer a experiência do perdão, a retomar o caminho onde foi
abandonado.
Neste dia da Semana
Santa ousemos apresentar ao Senhor as nossas próprias negações e traições para
dessa forma sermos acolhidos por Ele e acolhermos a graça de uma vida nova que
é já ressurreição.
“A negação de Pedro”, de Andrey Mironov.
Que o nosso orgulho, como o de Pedro se desmorone, para podermos ver a mão estendida de Cristo, pronto a acolher-nos e a perdoar-nos.Será que conseguimos viver, nestes dias,a certeza de que o caminho do Calvário é também a via para a Ressurreição? Inter pars
ResponderEliminar