O convite de São Paulo aos Filipenses “alegrai-vos sempre no Senhor” marca este terceiro domingo do Advento. É esta alegria que atenua a cor litúrgica do roxo, dando-lhe este tom rosa que colocamos nos paramentos, e que também justifica a denominação de domingo “gaudete”, domingo da alegria, que se dá a este terceiro domingo do Advento.
Contudo, o convite de São Paulo à alegria não é um convite fácil, simples, pois a alegria de que São Paulo fala, a que São Paulo nos convida, é uma alegria que nasce do Senhor uma alegria de bondade, é afinal algo mais que um simples estado de espírito ou de disposição psicológica. A alegria cristã a que somos convidados neste terceiro domingo do Advento é a vitória de um combate e o fruto de um sementeira.
Houve tempos, e certamente ainda há pessoas que pensam assim, em que se considerava que a alegria era uma ofensa a Deus. De alguma forma tinha-se esquecido a recomendação de São Paulo e por uma influência jansenista considerava-se a alegria como um estado contrário ao ser cristão. A mentalidade e a espiritualidade deixaram-se marcar profundamente pela dor e pela tragédia da sexta-feira santa, pelo peso do pecado, por um sentido trágico da vida em que Deus aparece como um tirano e um justiceiro implacável. Não havia lugar nem para a felicidade nem para a alegria pois elas atentavam contra Deus.
Hoje, pelo contrário, a vida cristã e a espiritualidade estão incondicionalmente marcadas pela alegria, pela alegria da manhã de Páscoa e da ressurreição. Contudo, devemos interrogar-nos se esta alegria é verdadeiramente cristã ou um simples estado psicológico. Será que não nos colocámos nos antípodas da espiritualidade jansenista, esquecendo que a alegria cristã é também ela marcada e profundamente marcada pela dor, e não o pode deixar de ser? Resiste, ou resistirá a nossa alegria aos momentos de dor e de deserto em que a vida tantas vezes nos coloca?
A nossa concepção e construção da vida espiritual, da relação com Deus, assenta hoje muito na ideia de bem-estar, de satisfação, na ideia de uma tranquilidade e uma calma incomparáveis, de um estado “soft” em que a alegria é mais uma das manifestações desse mesmo estado. De alguma forma é como se na vida espiritual não houvesse problemas, como se na nossa intimidade e proximidade com Deus ficássemos livres dos problemas. Nesta concepção presume-se que na relação com Deus se elimina todo o mal, desaparecem todos os conflitos, que não existem acidentes.
Ora, a verdade é que não é assim, e a alegria que se vive ou que buscamos viver só pode ser o resultado de uma vitória, de um dom que nos chega de Deus depois de vencermos o combate. A nossa relação com Deus não é uma sesta tranquila, um encontro mágico e prazenteiro, é uma luta de corpo a corpo, como a de Jacob e o anjo ou como a de Jesus no jardim das oliveiras quando teve que confrontar a sua vontade com a vontade do Pai. E quando vencemos e nos vencemos no combate contra o mal então a alegria surge, a alegria verdadeira que é dom de Deus pela vitória alcançada.
Esta luta corpo a corpo torna-se ainda mais acutilante quando se processa na nossa existência comunitária, quando temos que nos relacionar uns com os outros, quando nos vemos confrontados com a necessidade de colocar a questão que as multidões colocavam a João Baptista depois de ouvirem a sua pregação junto ao rio Jordão: “o que devemos fazer” para, vivendo uns com os outros, alcançar a alegria?
A resposta de São João não é propriamente extraordinária, porque de facto o que recomenda, e nos recomenda também a nós, é que nos demos conta daqueles que estão ao nosso lado, que partilham a nossa vida e o nosso mundo, e vivamos na justiça e na solidariedade com eles. São João não pede nenhuma ascese, nem penitências dolorosas, nem exercícios de piedade balofa, mas apenas que partilhemos o que temos e vivamos em justiça, uns com os outros, ou seja, que vivamos a caridade fraterna. E quando vivemos em caridade, quando semeamos a bondade e o amor nas nossas relações familiares, comunitárias, alcançamos também aí o fruto da alegria que é dom de Deus.
A realidade do nosso dia a dia parece no entanto querer contradizer que esta vitória e este fruto sejam possíveis, que aconteçam de facto. Tal deve-se a essa falta de consciência, da nossa parte, daquilo que nos é dito pelo profeta Sofonias “o Senhor teu Deus está no meio de ti”. Acreditamos muito pouco nisto, que Deus está de facto no meio de nós e por essa razão não nos entregamos completamente ao combate contra o mal nem nos deixamos guiar pela bondade na nossa sementeira da caridade. A nossa fé e a correspondente alegria estão ainda manietadas pela ideia de um Deus distante e uma alegria que lhe é ofensiva. Necessitamos por isso de continuar a viver uma conversão que nos transforme, de continuar por mais algum tempo neste Advento preparatório para o nascimento do Senhor e no qual este domingo da alegria é uma paragem alentadora.
Desta forma e nesta caminhada para o Natal, para a celebração da vinda de Deus até nós na nossa condição humana, peçamos a São João que nos alcance de Deus o sentido da sua presença actual entre nós e em nós e a alegria de exultar como ele exultou no seio de sua mãe Isabel perante tal presença.
Contudo, o convite de São Paulo à alegria não é um convite fácil, simples, pois a alegria de que São Paulo fala, a que São Paulo nos convida, é uma alegria que nasce do Senhor uma alegria de bondade, é afinal algo mais que um simples estado de espírito ou de disposição psicológica. A alegria cristã a que somos convidados neste terceiro domingo do Advento é a vitória de um combate e o fruto de um sementeira.
Houve tempos, e certamente ainda há pessoas que pensam assim, em que se considerava que a alegria era uma ofensa a Deus. De alguma forma tinha-se esquecido a recomendação de São Paulo e por uma influência jansenista considerava-se a alegria como um estado contrário ao ser cristão. A mentalidade e a espiritualidade deixaram-se marcar profundamente pela dor e pela tragédia da sexta-feira santa, pelo peso do pecado, por um sentido trágico da vida em que Deus aparece como um tirano e um justiceiro implacável. Não havia lugar nem para a felicidade nem para a alegria pois elas atentavam contra Deus.
Hoje, pelo contrário, a vida cristã e a espiritualidade estão incondicionalmente marcadas pela alegria, pela alegria da manhã de Páscoa e da ressurreição. Contudo, devemos interrogar-nos se esta alegria é verdadeiramente cristã ou um simples estado psicológico. Será que não nos colocámos nos antípodas da espiritualidade jansenista, esquecendo que a alegria cristã é também ela marcada e profundamente marcada pela dor, e não o pode deixar de ser? Resiste, ou resistirá a nossa alegria aos momentos de dor e de deserto em que a vida tantas vezes nos coloca?
A nossa concepção e construção da vida espiritual, da relação com Deus, assenta hoje muito na ideia de bem-estar, de satisfação, na ideia de uma tranquilidade e uma calma incomparáveis, de um estado “soft” em que a alegria é mais uma das manifestações desse mesmo estado. De alguma forma é como se na vida espiritual não houvesse problemas, como se na nossa intimidade e proximidade com Deus ficássemos livres dos problemas. Nesta concepção presume-se que na relação com Deus se elimina todo o mal, desaparecem todos os conflitos, que não existem acidentes.
Ora, a verdade é que não é assim, e a alegria que se vive ou que buscamos viver só pode ser o resultado de uma vitória, de um dom que nos chega de Deus depois de vencermos o combate. A nossa relação com Deus não é uma sesta tranquila, um encontro mágico e prazenteiro, é uma luta de corpo a corpo, como a de Jacob e o anjo ou como a de Jesus no jardim das oliveiras quando teve que confrontar a sua vontade com a vontade do Pai. E quando vencemos e nos vencemos no combate contra o mal então a alegria surge, a alegria verdadeira que é dom de Deus pela vitória alcançada.
Esta luta corpo a corpo torna-se ainda mais acutilante quando se processa na nossa existência comunitária, quando temos que nos relacionar uns com os outros, quando nos vemos confrontados com a necessidade de colocar a questão que as multidões colocavam a João Baptista depois de ouvirem a sua pregação junto ao rio Jordão: “o que devemos fazer” para, vivendo uns com os outros, alcançar a alegria?
A resposta de São João não é propriamente extraordinária, porque de facto o que recomenda, e nos recomenda também a nós, é que nos demos conta daqueles que estão ao nosso lado, que partilham a nossa vida e o nosso mundo, e vivamos na justiça e na solidariedade com eles. São João não pede nenhuma ascese, nem penitências dolorosas, nem exercícios de piedade balofa, mas apenas que partilhemos o que temos e vivamos em justiça, uns com os outros, ou seja, que vivamos a caridade fraterna. E quando vivemos em caridade, quando semeamos a bondade e o amor nas nossas relações familiares, comunitárias, alcançamos também aí o fruto da alegria que é dom de Deus.
A realidade do nosso dia a dia parece no entanto querer contradizer que esta vitória e este fruto sejam possíveis, que aconteçam de facto. Tal deve-se a essa falta de consciência, da nossa parte, daquilo que nos é dito pelo profeta Sofonias “o Senhor teu Deus está no meio de ti”. Acreditamos muito pouco nisto, que Deus está de facto no meio de nós e por essa razão não nos entregamos completamente ao combate contra o mal nem nos deixamos guiar pela bondade na nossa sementeira da caridade. A nossa fé e a correspondente alegria estão ainda manietadas pela ideia de um Deus distante e uma alegria que lhe é ofensiva. Necessitamos por isso de continuar a viver uma conversão que nos transforme, de continuar por mais algum tempo neste Advento preparatório para o nascimento do Senhor e no qual este domingo da alegria é uma paragem alentadora.
Desta forma e nesta caminhada para o Natal, para a celebração da vinda de Deus até nós na nossa condição humana, peçamos a São João que nos alcance de Deus o sentido da sua presença actual entre nós e em nós e a alegria de exultar como ele exultou no seio de sua mãe Isabel perante tal presença.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNa homília longa e profunda de inspiração e reflexão que proferiu neste "domingo da alegria", tomo a liberdade de respigar algumas das frases que me tocaram particularmente ...
"Esta luta corpo a corpo torna-se ainda mais acutilante quando se processa na nossa existência comunitária, quando temos que nos relacionar uns com os outros, quando nos vemos confrontados com a necessidade de colocar a questão que as multidões colocavam a João Baptista depois de ouvirem a sua pregação junto ao rio Jordão: “o que devemos fazer” para, vivendo uns com os outros, alcançar a alegria?
A resposta de São João não é propriamente extraordinária, porque de facto o que recomenda, e nos recomenda também a nós, é que nos demos conta daqueles que estão ao nosso lado, que partilham a nossa vida e o nosso mundo, e vivamos na justiça e na solidariedade com eles. São João não pede nenhuma ascese, nem penitências dolorosas, nem exercícios de piedade balofa, mas apenas que partilhemos o que temos e vivamos em justiça, uns com os outros, ou seja, que vivamos a caridade fraterna. E quando vivemos em caridade, quando semeamos a bondade e o amor nas nossas relações familiares, comunitárias, alcançamos também aí o fruto da alegria que é dom de Deus." ... "A nossa fé e a correspondente alegria estão ainda manietadas pela ideia de um Deus distante e uma alegria que lhe é ofensiva. Necessitamos por isso de continuar a viver uma conversão que nos transforme, de continuar por mais algum tempo neste Advento preparatório para o nascimento do Senhor e no qual este domingo da alegria é uma paragem alentadora." ... Rezemos para que nesta "caminhada para o Natal, para a celebração da vinda de Deus até nós na nossa condição humana, peçamos a São João que nos alcance de Deus o sentido da sua presença actual entre nós e em nós e a alegria de exultar como ele exultou no seio de sua mãe Isabel perante tal presença." Peço desculpa pela longa transcrição.Bem haja.
MJS
Boa noite Frei José Carlos,
ResponderEliminarRealmente após a luta contra o mal em que "vencemos o combate e nos vencemos no combate então a alegria surge, a alegria verdadeira que é o dom de Deus pela vitória alcançada". É também a alegria de perceber que a sementeira não foi em vão e que sem ela não haveria predisposição para Deus nos abençoar no acto do combate, da conversão.E este coração renasce renovado para viver com os outros em justiça e fraternidade. Quanto bem- estar espiritual pela verdadeira aceitação do outro.
Espero que esteja bem, porque quem nos fala desta maneira tem de ter alcançado o fruto da alegria que é dom de Deus. Rezo por si e por todos.
GVA
Boa tarde, Frei José Carlos
ResponderEliminarQue bom seria que procurássemos a Alegria onde ela verdadeiramente se encontra?!... Tudo seria bem diferente: nas relação com mundo e com os outros,sobretudo, com aqueles que nasceram só para sofrer... Sofonias tem muita razão no que diz! Obrigada Frei José Carlos por nos ajudar a pensar e a tomar consciência disto. M.L.