As chuvas de inverno tinham passado e o campo em flor convidava a sair. Havia no ar uma promessa de fertilidade, de frutos a brotar, de uma felicidade anunciada.
E tu chegastes como uma brisa suave ou um raio de luz quase imperceptível numa manhã de sol e paz. Eras um convite, uma proposta, uma revolução na minha vida já traçada pelos homens, eras uma mudança radical de projectos e futuro. Tudo passaria a ser diferente.
E perguntei como seria possível, se eu não conhecia homem e se estava prometida a um homem que esperava por mim para ser sua esposa e mãe dos seus filhos. Mas como poderia conhecer alguém e estar prometida se era por ti que esperava, se era para ti que desde sempre tinha sido preservada e protegida? E ainda hoje é por ti que sou protegida e preservada.
No momento e apesar das interrogações não alcancei toda a dimensão da proposta e do convite. Ser a mãe de Deus, do Salvador de Israel? Agora olho para ti, frágil menino nos meus braços e uma vez mais me interrogo, serei a mãe de Deus? Que Deus é este que se faz menino? Como nos salvarás lindo menino?
Tomei consciência dos riscos que acarretava a resposta ao teu convite, à tua proposta de maternidade quando José me disse que me repudiaria em segredo. Ele é um homem justo, é um homem que me ama, e por esse amor não quis que sofresse o castigo reservado pela lei de Moisés às mulheres que aceitam ser mães fora da união matrimonial. Foi um sinal do seu amor mas foi também um momento de dor, da dor de me sentir estranha ao homem que amava e me amava. A brisa suave que eras transformava-se em vento de tempestade, revoltando já não as flores do campo mas as folhas velhas e secas das nossas relações organizadas e projectadas pelas leis patriarcais ancestrais.
Mas uma noite tudo mudou. Creio que também a José lhe fizestes a mesma proposta e convite que a mim, alterar a sua vida, entregá-la nas mãos de Deus que com a sua colaboração se fazia Deus connosco em ti. És irresistível nas propostas que fazes de alteração de vida, parece que te comprazes em que deixemos de lado os nossos planos para arriscar e aventurar-nos nos teus planos. Sempre fostes assim e não acredito que mudes algum dia. Gostas que as pessoas nada tenham por certo e garantido senão o amor de Deus e a sua protecção. Pergunto-me que partidas me terás reservadas para o futuro.
Tranquilizadas as nossas vidas nesse projecto que não era nosso mas teu, no qual nós não tínhamos qualquer poder, parti ao encontro da nossa prima Isabel. Foi caminhando pelas montanhas da Galileia que percebi um pouco mais do convite que me tinhas feito, que nos tinhas feito. Tu vinhas ao nosso encontro, eu transportava-te no meu seio, para que nós aprendêssemos a transportar-te nos nossos corações e a ir ao encontro do outro. Se o nosso Deus descia da sua glória para habitar connosco, para ser um connosco e como nós, como nos poderíamos recusar a descer ao nível do outro a visitá-lo e a ser um com ele e como ele?
No entanto quero dizer-te que não é fácil e há poucos dias experimentámos isso, eu e José. É verdade que ninguém sabia que receberia o Salvador do mundo, e não sei se mesmo sabendo nos receberiam, mas passámos uma noite em vão batendo de porta em porta para que nos acolhessem e ninguém nos quis acolher. Estavam todos demasiados ocupados, nas suas hospedarias e casas e também nos seus corações e portanto nada disponíveis para acolher alguém que parecia prestes a dar à luz. Não é fácil acolher o outro em situação problemática, é inevitavelmente uma complicação.
Tu certamente um dia passarás por isso, baterás à porta e não te abrirão, estarão demasiado ocupados com o seu mundo pequeno e ruidoso, com as suas verdades feitas e riquezas adquiridas. Mas acredito que outros te abrirão as portas, aqueles que não são queridos por ninguém, aqueles aos quais também muito poucas portas se abrem, aqueles que buscam com as suas limitações a verdade e a justiça. E quando tal acontecer farás festa com eles. Sei que será assim porque tu és uma festa, um dom, um presente, um banquete destinado a saciar os que têm fome, todas as fomes. Foste-o para mim e para José serás também para aqueles que te acolherem como seu Deus e Salvador.
E tu chegastes como uma brisa suave ou um raio de luz quase imperceptível numa manhã de sol e paz. Eras um convite, uma proposta, uma revolução na minha vida já traçada pelos homens, eras uma mudança radical de projectos e futuro. Tudo passaria a ser diferente.
E perguntei como seria possível, se eu não conhecia homem e se estava prometida a um homem que esperava por mim para ser sua esposa e mãe dos seus filhos. Mas como poderia conhecer alguém e estar prometida se era por ti que esperava, se era para ti que desde sempre tinha sido preservada e protegida? E ainda hoje é por ti que sou protegida e preservada.
No momento e apesar das interrogações não alcancei toda a dimensão da proposta e do convite. Ser a mãe de Deus, do Salvador de Israel? Agora olho para ti, frágil menino nos meus braços e uma vez mais me interrogo, serei a mãe de Deus? Que Deus é este que se faz menino? Como nos salvarás lindo menino?
Tomei consciência dos riscos que acarretava a resposta ao teu convite, à tua proposta de maternidade quando José me disse que me repudiaria em segredo. Ele é um homem justo, é um homem que me ama, e por esse amor não quis que sofresse o castigo reservado pela lei de Moisés às mulheres que aceitam ser mães fora da união matrimonial. Foi um sinal do seu amor mas foi também um momento de dor, da dor de me sentir estranha ao homem que amava e me amava. A brisa suave que eras transformava-se em vento de tempestade, revoltando já não as flores do campo mas as folhas velhas e secas das nossas relações organizadas e projectadas pelas leis patriarcais ancestrais.
Mas uma noite tudo mudou. Creio que também a José lhe fizestes a mesma proposta e convite que a mim, alterar a sua vida, entregá-la nas mãos de Deus que com a sua colaboração se fazia Deus connosco em ti. És irresistível nas propostas que fazes de alteração de vida, parece que te comprazes em que deixemos de lado os nossos planos para arriscar e aventurar-nos nos teus planos. Sempre fostes assim e não acredito que mudes algum dia. Gostas que as pessoas nada tenham por certo e garantido senão o amor de Deus e a sua protecção. Pergunto-me que partidas me terás reservadas para o futuro.
Tranquilizadas as nossas vidas nesse projecto que não era nosso mas teu, no qual nós não tínhamos qualquer poder, parti ao encontro da nossa prima Isabel. Foi caminhando pelas montanhas da Galileia que percebi um pouco mais do convite que me tinhas feito, que nos tinhas feito. Tu vinhas ao nosso encontro, eu transportava-te no meu seio, para que nós aprendêssemos a transportar-te nos nossos corações e a ir ao encontro do outro. Se o nosso Deus descia da sua glória para habitar connosco, para ser um connosco e como nós, como nos poderíamos recusar a descer ao nível do outro a visitá-lo e a ser um com ele e como ele?
No entanto quero dizer-te que não é fácil e há poucos dias experimentámos isso, eu e José. É verdade que ninguém sabia que receberia o Salvador do mundo, e não sei se mesmo sabendo nos receberiam, mas passámos uma noite em vão batendo de porta em porta para que nos acolhessem e ninguém nos quis acolher. Estavam todos demasiados ocupados, nas suas hospedarias e casas e também nos seus corações e portanto nada disponíveis para acolher alguém que parecia prestes a dar à luz. Não é fácil acolher o outro em situação problemática, é inevitavelmente uma complicação.
Tu certamente um dia passarás por isso, baterás à porta e não te abrirão, estarão demasiado ocupados com o seu mundo pequeno e ruidoso, com as suas verdades feitas e riquezas adquiridas. Mas acredito que outros te abrirão as portas, aqueles que não são queridos por ninguém, aqueles aos quais também muito poucas portas se abrem, aqueles que buscam com as suas limitações a verdade e a justiça. E quando tal acontecer farás festa com eles. Sei que será assim porque tu és uma festa, um dom, um presente, um banquete destinado a saciar os que têm fome, todas as fomes. Foste-o para mim e para José serás também para aqueles que te acolherem como seu Deus e Salvador.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarA Meditação de Natal-5 foi o melhor texto que podia completar a Meditação-4. Que excelente reflexão bíblica mas encerra simultaneamente a realidade vivida por um grande número de seres humanos e que está sintetizada neste excelente período ..."Tu certamente um dia passarás por isso, baterás à porta e não te abrirão, estarão demasiado ocupados com o seu mundo pequeno e ruidoso, com as suas verdades feitas e riquezas adquiridas. Mas acredito que outros te abrirão as portas, aqueles que não são queridos por ninguém, aqueles aos quais também muito poucas portas se abrem, aqueles que buscam com as suas limitações a verdade e a justiça. E quando tal acontecer farás festa com eles. Sei que será assim porque tu és uma festa, um dom, um presente, um banquete destinado a saciar os que têm fome, todas as fomes. Foste-o para mim e para José serás também para aqueles que te acolherem como seu Deus e Salvador." Oremos para que saibamos acolher Jesus nos nossos corações estando disponíveis a todos que precisam de uma palavra, uma mão amiga, um momento de atenção, um sorriso, uma porta aberta ... Bem haja, Frei José Carlos, por todos os momentos de reflexão e partilha que nos proporcionou no ano que termina. Se me permite gostaria de manifestar-lhe que pode certamente contar connosco como pôde constatar em tempo. MJS
Bom dia Frei José Carlos,
ResponderEliminarPor vezes a porta só se entreabre e, virando-lhe as costas ignoramos quem quer entrar, mas Ele, amando-nos profundamente, não nos esquece e insiste e entra e acorda-nos para revelar que a adversidade é apenas um caminho menos fácil para a festa. E elevamo-nos em acção de graças pelo dom, pelo presente que invade os nossos corações.
Que Deus o conserve para nos ajudar a participar na festa.
GVA