Saímos de Nazaré e fizemo-nos ao caminho, a este trilho calcado pelos pés dos homens e dos animais carregados de mercadorias. Parecia que seria fácil, rápido, mas quanto nos falta ainda para chegar a Belém.
O pó do caminho levantado pelo vento frio e agreste colou-se aos nossos rostos e roupas. Por entre a fresta do véu que mostra os olhos pequenos e negros vê-se o pó colado às sobrancelhas de Maria; José tem também a barba polvilhada e por vezes sacode aquele que se lhe agarrou aos pés.
O pó fere-nos a carne e lembra-nos que também nós somos formados do mesmo pó, que um dia num excesso de louco amor criativo Deus criador moldou o primeiro homem deste mesmo pó, pó amassado com a saliva do seu Verbo e vivificado pelo sopro do seu Espírito.
Hoje este pó nos traz essa verdade à memória e a esperança de que este menino transportado no seio de Maria nos liberte desta pobre condição, que restitua a essa forma tão terrena a grandeza que teve no momento da sua criação.
Caminhamos e confiantes cruzamo-nos com aqueles que se cruzam connosco. Podem ser ladrões, salteadores, simples viajantes temerosos como nós, não sabemos, mas ainda assim arriscamos cruzar-nos com eles, partilhar esse olhar de quem viaja, de quem se sabe fora de toda e qualquer protecção. Todos estamos no mesmo caminho, no mesmo processo, e isso dá-nos uma solidariedade, um espírito de partilha que não se encontra em outros lugares e momentos da vida. O viajante é sempre um solidário, acompanha-o a graça de Deus e a sua presença angelical, e por isso se cruza com os outros, arrisca uma palavra, uma saudação, até a partilha da parca merenda.
Um dia partilharemos outra mesa, a mesa celestial, onde o pão será de todos e para todos, onde todos saberemos que fomos convidados e temos um lugar porque partilhámos a nossa parca merenda com o outro que se cruzou connosco no caminho.
O menino salta de alegria no seio de Maria, também ele projecta e sonha reunir um dia todos os homens à volta da mesma mesa, não no céu mas já aqui na terra, e para isso entregará o seu corpo como alimento, como mesa de reunião, como palavra convidativa. Aceitarão os homens esse alimento e a sua forma de partilha?
À medida que o dia avança e o caminho se vai trilhando começam a aparecer os primeiros sinais de desconforto, são já muitas horas de viagem para Maria e ainda que acomodada nas costas do pobre burrito o corpo não deixa de sentir o cansaço da viagem. É tempo de uma pausa, de um descanso, pois não se pode correr o risco do menino vir ao mundo neste descampado, neste deserto, ainda que seja no deserto, neste mesmo deserto que um dia já adulto fará a experiência da tentação, essa experiência tão intrínseca ao próprio homem, e que descobrirá a sua filiação divina e a sua missão redentora. Contudo, agora ainda não é tempo, ainda não chegou a hora. Tudo seria precipitado neste momento.
Retemperadas as forças, saciada a sede e recomposto o corpo através de uns passos frágeis e equilibrados retomamos a viagem, pois falta ainda muito para chegar a Belém, um dia mais de viagem. E não sabemos o que nos espera no caminhar que temos por diante, só Deus sabe e só Deus poderá saber. O caminho é uma surpresa, uma dádiva, um desafio, mas também uma possibilidade aberta a Deus através da paisagem, dos outros e da própria meta que nos propomos alcançar, de Belém.
José sente os pés já cansados da jornada mas como está habituado ao dia a dia da sua marcenaria, do caminhar lento atrás das madeiras, não se queixa. Maria pelo contrário começa a expressar a sua apreensão, a sua preocupação, pois o seu corpo não deixa de dar sinais do cansaço e do menino que parece querer antecipar-se à data prevista do seu nascimento.
Como é difícil caminhar neste estado! Mas será que não caminhamos todos neste estado de esperanças, de gravidez de uma realidade que nascerá um dia, no dia em que nos entreguemos totalmente a ela. O homem transporta em si um mundo novo por nascer, um mundo que espera a luz, mas é necessário fazer o caminho para que ele nasça, arriscar-se à viagem pelo desconhecido de si e dos outros que se cruzam no caminho. Belém está logo ali, ao virar da esquina, mas pode estar também muito longe, a anos-luz. A distância é equidistante à nossa capacidade de arriscar caminhar nos trilhos dos homens e no trilho de Deus.
O pó do caminho levantado pelo vento frio e agreste colou-se aos nossos rostos e roupas. Por entre a fresta do véu que mostra os olhos pequenos e negros vê-se o pó colado às sobrancelhas de Maria; José tem também a barba polvilhada e por vezes sacode aquele que se lhe agarrou aos pés.
O pó fere-nos a carne e lembra-nos que também nós somos formados do mesmo pó, que um dia num excesso de louco amor criativo Deus criador moldou o primeiro homem deste mesmo pó, pó amassado com a saliva do seu Verbo e vivificado pelo sopro do seu Espírito.
Hoje este pó nos traz essa verdade à memória e a esperança de que este menino transportado no seio de Maria nos liberte desta pobre condição, que restitua a essa forma tão terrena a grandeza que teve no momento da sua criação.
Caminhamos e confiantes cruzamo-nos com aqueles que se cruzam connosco. Podem ser ladrões, salteadores, simples viajantes temerosos como nós, não sabemos, mas ainda assim arriscamos cruzar-nos com eles, partilhar esse olhar de quem viaja, de quem se sabe fora de toda e qualquer protecção. Todos estamos no mesmo caminho, no mesmo processo, e isso dá-nos uma solidariedade, um espírito de partilha que não se encontra em outros lugares e momentos da vida. O viajante é sempre um solidário, acompanha-o a graça de Deus e a sua presença angelical, e por isso se cruza com os outros, arrisca uma palavra, uma saudação, até a partilha da parca merenda.
Um dia partilharemos outra mesa, a mesa celestial, onde o pão será de todos e para todos, onde todos saberemos que fomos convidados e temos um lugar porque partilhámos a nossa parca merenda com o outro que se cruzou connosco no caminho.
O menino salta de alegria no seio de Maria, também ele projecta e sonha reunir um dia todos os homens à volta da mesma mesa, não no céu mas já aqui na terra, e para isso entregará o seu corpo como alimento, como mesa de reunião, como palavra convidativa. Aceitarão os homens esse alimento e a sua forma de partilha?
À medida que o dia avança e o caminho se vai trilhando começam a aparecer os primeiros sinais de desconforto, são já muitas horas de viagem para Maria e ainda que acomodada nas costas do pobre burrito o corpo não deixa de sentir o cansaço da viagem. É tempo de uma pausa, de um descanso, pois não se pode correr o risco do menino vir ao mundo neste descampado, neste deserto, ainda que seja no deserto, neste mesmo deserto que um dia já adulto fará a experiência da tentação, essa experiência tão intrínseca ao próprio homem, e que descobrirá a sua filiação divina e a sua missão redentora. Contudo, agora ainda não é tempo, ainda não chegou a hora. Tudo seria precipitado neste momento.
Retemperadas as forças, saciada a sede e recomposto o corpo através de uns passos frágeis e equilibrados retomamos a viagem, pois falta ainda muito para chegar a Belém, um dia mais de viagem. E não sabemos o que nos espera no caminhar que temos por diante, só Deus sabe e só Deus poderá saber. O caminho é uma surpresa, uma dádiva, um desafio, mas também uma possibilidade aberta a Deus através da paisagem, dos outros e da própria meta que nos propomos alcançar, de Belém.
José sente os pés já cansados da jornada mas como está habituado ao dia a dia da sua marcenaria, do caminhar lento atrás das madeiras, não se queixa. Maria pelo contrário começa a expressar a sua apreensão, a sua preocupação, pois o seu corpo não deixa de dar sinais do cansaço e do menino que parece querer antecipar-se à data prevista do seu nascimento.
Como é difícil caminhar neste estado! Mas será que não caminhamos todos neste estado de esperanças, de gravidez de uma realidade que nascerá um dia, no dia em que nos entreguemos totalmente a ela. O homem transporta em si um mundo novo por nascer, um mundo que espera a luz, mas é necessário fazer o caminho para que ele nasça, arriscar-se à viagem pelo desconhecido de si e dos outros que se cruzam no caminho. Belém está logo ali, ao virar da esquina, mas pode estar também muito longe, a anos-luz. A distância é equidistante à nossa capacidade de arriscar caminhar nos trilhos dos homens e no trilho de Deus.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNa Meditação de Natal-2 coloca-nos simultaneamente perante a realidade dura da condição humana e a esperança que nos habita por um mundo melhor ...." O pó fere-nos a carne e lembra-nos que também nós somos formados do mesmo pó, que um dia num excesso de louco amor criativo Deus criador moldou o primeiro homem deste mesmo pó, pó amassado com a saliva do seu Verbo e vivificado pelo sopro do seu Espírito. ...... O homem transporta em si um mundo novo por nascer, um mundo que espera a luz, mas é necessário fazer o caminho para que ele nasça, arriscar-se à viagem pelo desconhecido de si e dos outros que se cruzam no caminho" . .... Rezemos para que esta força que nos transmite se torne realidade. Bem haja. MJS
Bom dia Frei José Carlos,
ResponderEliminarEste Natal caminhámos um trilho difícil,o caminho para o Presépio foi muito penoso, mas estivemos mais perto de Deus e sentimos uma imensa Paz, porque nunca duvidámos do seu Amor e da sua ajuda. Uma inexplicável serenidade envolveu a nossa dor, tornando-a mais fácil de suportar.Todo o tempo material será pouco para Lhe darmos graças por tudo o que temos recebido ao longo das nossas vidas."Gloria in excelsis Deo."
GVA
Boa tarde Frei José carlos,
ResponderEliminarEm primeiro lugar que estes dias, mais intensos, da Celebração do Nascimento de Jesus, tenham sido para si, para a sua comunidade e fammília uma grande Benção do Menino Deus.
Saiba que as suas reflexões sobre o Natal, ajudaram-me muito a viver mais e melhor este grande e espantoso Mistério. Que Jesus lhe conceda sempre a sua ternura!... M. F. L.