Quando um peregrino está no Caminho de Santiago tem apenas um objectivo, chegar a Compostela; e em cada dia, a cada passo, esse objectivo traduz-se nessa necessidade diária de caminhar, de dar um passo a seguir a outro. Não há mais nada, apenas caminhar e em consonância com o caminhar a necessidade de estar em sintonia com tudo o que nos rodeia e faz parte do Caminho e também com aqueles que connosco caminham e fazem a mesma experiência.
De regresso a casa, à base de onde partimos, os objectivos diversificam-se ou pelo menos deixam de ser tão únicos e nasce assim a ressaca ou nostalgia do Caminho, uma ressaca física e espiritual, uma nostalgia do tempo sem tempo, dessa vastidão e desses horizontes onde nos guia um objectivo, uma meta a atingir.
De regresso a casa, à base de onde partimos, os objectivos diversificam-se ou pelo menos deixam de ser tão únicos e nasce assim a ressaca ou nostalgia do Caminho, uma ressaca física e espiritual, uma nostalgia do tempo sem tempo, dessa vastidão e desses horizontes onde nos guia um objectivo, uma meta a atingir.
Sem sabermos muito bem porquê hoje sentimos mais cansaço que no Caminho, doem-nos mais os pés que na caminhada e o corpo pede uma força que parece perdida. E a desorientação parece atingir-nos como um dardo, andamos às voltas como perdidos e sem norte. Ainda não encontrámos o caminho de regresso a casa, ou então encontrámos outros caminhos nos quais nos sentimos desfasados, deslocados.
Têm sido mais ou menos assim os meus dias depois de terminado o Caminho a Santiago, os meus dias de regresso a casa, ao convento. E para somar a essa realidade o trabalho que devíamos ter feito e esperou por nós, a solicitações que a cada momento nos aparecem.
Neste estado de coisas, nesta realidade e nossa circunstância, é necessário renascer, como que ressuscitar para a vida que sendo a mesma não pode jamais continuar a ser a mesma porque é outra, encerra em si a experiência da caminhada. Os dias de retiro espiritual, para acompanhar um irmão que se prepara para a ordenação presbiteral, nesta semana que termina ajudou-me a recuperar as forças para voltar ao caminho que é este nosso do dia a dia.
Estamos assim de volta para retomar as nossas funções, as nossas tarefas, e para dentro das possibilidades continuar a partilhar convosco esta mesma caminhada cibernética de fé e de esperança. Que Deus nos ajude a todos nos nossos caminhos, que Ele seja o nosso amparo e bordão nas fraquezas e desânimos, a nossa luz na travessia das noites escuras.
PS: A todos os amigos e amigas que partilharam o Caminho a Santiago o meu sincero agradecimento pelas suas orações, pelo seu interesse e preocupação; e o meu pedido de desculpas por vos ter deixado tanto tempo sem notícias, nesse deserto do desconhecimento dos meus passos. Prometo desde aqui trazer-vos as memórias do que foram esses dias, esse Caminho.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarRegozijo-me pela maneira como viveu a experiência de verdadeiro Peregrino do ponto de vista “espiritual” e “convivial”.
Foi uma oportunidade que o Espírito Santo lhe prorcionou mas também as características pessoais do Frei José Carlos foram determinantes.
Nunca tive dúvidas que a experiência que realizou no Caminho a Santiago provocou e provocará transformações no irmão Frei José Carlos, muitas delas “invisíveis” mas que se manifestam e continuarão a fazer-se sentir no quotidiano.
É compreensível que o cansaço tenha-se agravado no regresso até por
razões de ordem psicológica e voltar a determinadas rotinas não é fácil.
…” Sem sabermos muito bem porquê hoje sentimos mais cansaço que no Caminho, doem-nos mais os pés que na caminhada e o corpo pede uma força que parece perdida. E a desorientação parece atingir-nos como um dardo, andamos às voltas como perdidos e sem norte. Ainda não encontrámos o caminho de regresso a casa, ou então encontrámos outros caminhos nos quais nos sentimos desfasados, deslocados.” …
Com fé e confiança , Jesus caminha com o Frei José Carlos, ajudando-o a retemperar forças, a ordenar os pensamentos, a renascer …” Neste estado de coisas, nesta realidade e nossa circunstância, é necessário renascer, como que ressuscitar para a vida que sendo a mesma não pode jamais continuar a ser a mesma porque é outra, encerra em si a experiência da caminhada.”
Agradeço-lhe de maneira especial a partilha que decidiu fazer connosco. Vivemo-la com interesse e verdadeira amizade, tendo-o presente nas nossas orações e preocupações diárias.
Um grande bem haja por tudo.
Que Jesus o ajude a restabelecer-se como merece e o ilumine para que possa retirar desse sacrifício o que pretende alcançar.
Saudações amigas. MJS
P.S. Frei José Carlos,
Quando ontem comentei a Homilia da Solenidade do Imaculado Coração de Maria, não me apercebi do “post” “De regresso a Casa”. Esta tarde é que dei conta. Não posso deixar de manifestar-lhe que estava mos preocupado (a)s pelo silêncio conquanto era compreensível que tivesse razões para tal. Todos nós já passámos por diferentes experiências com resultados semelhantes. Por tudo isso, se aceito (amos) o pedido de desculpas que teve a humildade de apresentar, o mesmo nem se coloca, dado que os seus amigos (as) imaginavam que o silêncio tinha motivos fortes.
O Frei José Carlos conta e contará sempre com a nossa amizade fraternal, a nossa ajuda. É assim a “partillha”, é viver no quotidiano a palavra que Jesus nos ensinou. MJS
Frei José Carlos,
ResponderEliminarEste seu desabafo veio dar corpo às nossas cogitações, ao nosso fraterno receio do seu reencontro com a rotina. Já nos tínhamos questionado de como teria sido a readaptação. É com satisfação que descobrimos uma corajosa humildade ao partilhar connosco os seus sentimentos, mas o deleite de se ter encontrado mais perto d’Ele ao longo do Caminho vai-se reflectir nos outros e já frutificou no acompanhamento do Irmão que vai ser ordenado presbítero. E concordamos consigo quando diz que “…é necessário renascer, como que ressuscitar para a vida que sendo a mesma não pode jamais continuar a ser a mesma porque é outra, encerra em si a experiência da caminhada.” A caminhada foi desgastante e é necessário que se alimente bem e que descanse, pois a fraqueza física não é boa conselheira e alimenta a angústia, inimiga da alegria que nos aproxima de Deus.
Queremos continuar consigo nesta caminhada cibernética de Fé e de Esperança.
Tenha uma santa noite,
GVA