segunda-feira, 14 de junho de 2010

A morte da violência


Olho por olho, dente por dente, se me fazes mal eu faço-o também a ti.
Esta é a lógica da nossa imaginária justiça, a lógica da solução dos nossos problemas de violação do que é nosso e de quem somos. Uma lógica que encerra uma espiral de violência, de uma violência crescente, porque o mal com que pagamos o mal do outro é sempre e já superiormente diferente do mal recebido. Contudo, como é mais fácil, como é simples pagar na mesma moeda, ainda que saibamos que o pagamento é imparável, que leva ao fim comum de destruição.
Jesus, no sermão da montanha do Evangelho de São Mateus apresenta-nos uma proposta radicalmente diferente, uma proposta que se confronta com os nossos limites, certamente demasiado radical para que a possamos encerrar nos ditos nossos limites humanos, mas que é a única capaz de nos libertar desta espiral de violência crescente.
Se alguém te bater oferece-lhe a outra face, se alguém te exigir a túnica dá-lhe também o manto, se alguém te pedir empresta. No entanto, e apesar da beleza da proposta, do desejo profundo de a vivermos, quantas vezes não nos perguntámos já se aceitá-la não é dar parte de fraco, não é permitir que o outro continue a violação que exerce sobre nós?
Ainda assim é a forma apresentada por Deus, a forma de interrompermos os ciclos de violência pois recusamos o poder da resposta, o poder de exercer uma violência que inevitavelmente será sempre superior à recebida.
É também a possibilidade de entrar num outro universo, numa outra dimensão, a da visão de Deus e da esperança que tem em cada um de nós, de que façamos as coisas com amor e não com ódio e violência. É a possibilidade de vermos o outro como inscrito no projecto de Deus, como nosso irmão e membro do mesmo corpo vivo que constituímos mutuamente.
Para tal necessitamos no entanto de nos libertar, de nos purificar, dos desejos de poder, das frustrações e complexos que nos dominam, das imagens tantas vezes distorcidas que temos de nós próprios e também dos outros. É um exercício doloroso, prolongado, mas necessário para que estejamos aptos a poder dar a resposta da não violência, a viver o mandamento da entrega e da disponibilidade de que fala Jesus no sermão da montanha.
Necessitamos da sua ajuda, da força do seu Espírito, que o Senhor nos conceda essa graça.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Ao recordar-nos as palavras de Jesus, no sermão da montanha do Evangelho de São Mateus, aborda um tema que conhecemos, que nos atinge de múltiplas formas, que sempre tem mergulhado a Humanidade em grande sofrimento: “a violência” (física, psicológica) que é crescente e como quebrar este ciclo de vingança e caminharmos para uma lógica e actuação de justiça e de amor. E mostra-nos esse caminho ...” É também a possibilidade de entrar num outro universo, numa outra dimensão, a da visão de Deus e da esperança que tem em cada um de nós, de que façamos as coisas com amor e não com ódio e violência. É a possibilidade de vermos o outro como inscrito no projecto de Deus, como nosso irmão e membro do mesmo corpo vivo que constituímos mutuamente.”

    Porém, esta outra “dimensão” exige …“um exercício doloroso, prolongado, mas necessário para que estejamos aptos a poder dar a resposta da não violência, a viver o mandamento da entrega e da disponibilidade de que fala Jesus no sermão da montanha.”

    Que Jesus nos ilumine e nos fortaleça para nos libertarmos das nossas frustações, dos nossos complexos, das ilusões, dos preconceitos, das nossas invejas, da nossa mesquinhez, da nossa “concepção limitada” do ser e do estar.

    Obrigada por nos questionar em permanência para que tenhamos a oportunidade de particpar na construção de um mundo mais fraterno, mais justo, mais igualitário. Bem haja. MJS

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  2. Frei José Carlos,
    É um exercício prolongado, inicialmente muito doloroso, mas depois, transforma-se numa profunda e envolvente satisfação física e moral que nos aproxima de Deus e que vale a pena viver.
    Que o Senhor nos dê a graça de não vacilar nestas tentativas de perfeição.
    GVA

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