Ainda que seja domingo, dia do Senhor, celebramos nesta cidade de Lisboa a memória de Santo António, a memória desse homem do século treze que deixou a sua terra natal, esta cidade, para calcorrear os caminhos da Itália anunciando o Evangelho, vindo a morrer em 1231 em Pádua.
Mas para compreendermos este santo, a sua vida e o que ela hoje nos desafia no nosso ser cristão, é inevitável que percorramos alguns acontecimentos, ou pelo menos aquele que o levou a deixar esta cidade e a sua vida tranquila de cónego regrante no mosteiro de São Vicente de Fora.
António nasceu em Lisboa e bastante jovem entrou na ordem dos cónegos regrantes de Santo Agostinho no mosteiro de São Vicente de Fora. Ali fez a sua formação académica e diz-nos a história que era já sacerdote quando, por causa das relíquias dos mártires franciscanos de Marrocos que entretanto chegaram a Lisboa, deixou o mosteiro para ingressar numa ordem quase desconhecida e onde a pobreza era considerada a esposa amada. António deixava a estabilidade do mosteiro para aventurar-se na numa missão onde nada era garantido e onde o sangue do martírio tinha já tingido a pobreza da vida.
Neste sentido Santo António encarna as palavras de São Paulo a Timóteo que escutámos na segunda leitura, ou seja, sente-se impelido a pregar a propósito e a despropósito, a anunciar a palavra de Deus em qualquer circunstância e por todos os meios. Mas encarna também uma outra realidade que o Padre António Vieira, trezentos anos mais tarde, vai salientar no Sermão da Sexagésima, o mérito dos passos dados por causa dessa mesma pregação. A pregação é desejável, é necessária, é meritória, mas aquela que se segue a passos dados por causa dela é ainda mais meritória.
E Santo António não poupou esforços a estes passos dados. Num primeiro momento, e com a chegada dos mártires, foi a saída do mosteiro, os passos para uma nova realidade de vida, posteriormente foram os passos dados por toda a Itália para tentar converter aqueles mesmos que pelo facto de serem baptizados deviam viver de uma forma mais coerente, mais fiel às palavras do Evangelho. Foram também os passos da vida intelectual, a inserção do estudo e da formação académica numa ordem religiosa que privilegiava mais o testemunho das obras e da pobreza que o discurso intelectual e a pregação fundamentada. Eram tempos novos, realidades novas, em alguns aspectos marcadas pelo exagero, pelo traço quase indelével da heresia ou da loucura e Santo António marcou inevitavelmente as fronteiras.
Santo António encarnou assim, e fazendo face a todos os desafios, essa missão do sal e da luz de que nos fala o Evangelho. Ele não se deixou vencer pelas circunstâncias mais ou menos adversas, bem pelo contrário nelas procurou temperar as vidas dos homens e iluminar as suas consciências, e quando eles não o escutaram pela dureza do coração, virou-se para os peixes, para aqueles que não tendo necessidade o escutariam com todo o gosto.
Face a estas realidades, à sua vida e obra, Santo António deixa-nos a interrogação dos nossos esforços, dos passos que damos para anunciar o Evangelho de Jesus aos nossos irmãos. Interrogação que é para nós pregadores em primeiro lugar, mas que é também para todos os baptizados e cristãos, pois todos estamos mandatados por Cristo a ser anunciadores da sua Boa Nova. Deixa-nos também o desafio da pregação aos peixes, da pregação a propósito e a despropósito, porque se o anúncio é feito, se a Palavra é lançada ao campo, ainda que o terreno seja difícil e haja espinhos e abrolhos, pela força e graça de Deus haverá um dia uma resposta, uma conversão, ainda que não perceptível aos nossos olhos demasiado humanos e milimétricamente calculistas.
É assim urgente e obrigatório anunciar a Boa Nova do Reino de Jesus, é urgente dar passos, caminhar no sentido do outro a quem queremos transmitir a Boa Nova. E como diz o Padre António Vieira então a nossa pregação terá outro mérito, terá outro sabor indubitavelmente, para nós e para os outros.
É assim urgente e obrigatório anunciar a Boa Nova do Reino de Jesus, é urgente dar passos, caminhar no sentido do outro a quem queremos transmitir a Boa Nova. E como diz o Padre António Vieira então a nossa pregação terá outro mérito, terá outro sabor indubitavelmente, para nós e para os outros.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarAo relembrar-nos alguns acontecimentos da vida de Santo António fala-nos da pregação, do anúncio da palavra de Deus, das suas circunstâncias e dos resultados que podem não dar fruto no imediato.
... “Ele não se deixou vencer pelas circunstâncias mais ou menos adversas, bem pelo contrário nelas procurou temperar as vidas dos homens e iluminar as suas consciências, e quando eles não o escutaram pela dureza do coração, virou-se para os peixes, para aqueles que não tendo necessidade o escutariam com todo o gosto.”
E deixa-nos com uma interrogação …”dos nossos esforços, dos passos que damos para anunciar o Evangelho de Jesus aos nossos irmãos” e que concerne a todos.
Em primeiro lugar aos pregadores, “mas que é também para todos os baptizados e cristãos, pois todos estamos mandatados por Cristo a ser anunciadores da sua Boa Nova”.
Que importante reflexão a fazer. Permito-me, perguntar-lhe, Frei José Carlos, como fazer, na realidade tão adversa que vivemos à escuta da palavra de Jesus Cristo, e que não nos desculpabiliza das nossas obrigações?
Que Jesus nos ilumine na descoberta do(s) caminho(s) para que possamos transmitir a Boa Nova do Reino de Jesus.
Bem haja por esta partilha que nos “desinstala”.
Saudações amigas. MJS
Frei José Carlos,
ResponderEliminarÉ admirável Santo António ao deixar o certo pelo incerto animado pelo desejo da divulgação da Boa Nova do Reino de Jesus, pregando a palavra a propósito e a despropósito para alcançar os objectivos finais. Vem ele sempre a propósito de ser português e de vir em nosso auxílio neste momento difícil da vida dos portugueses.
Até amanhã se Deus quiser,
GVA