Carta 183 de Santa Catarina de Sena
Ao Arcebispo de Otranto, Jacomo d’Itri
Em nome de Jesus Cristo crucificado e da doce Maria.
Meu querido e reverendo pai em Cristo Jesus, eu, vossa indigna filha Catarina, serva e escrava dos servidores de Jesus Cristo, escrevo-vos no seu precioso sangue, desejosa de vos ver um bom pastor, fiel a Cristo Jesus, na luz e no conhecimento da sua bondade.
Vós sabeis que aquele que caminha na noite com uma lanterna não tropeça; da mesma forma a alma que é iluminada por Deus não pode tropeçar, porque ela abre os olhos da inteligência e da razão, considerando o caminho que segue o seu doce Mestre.
De tal forma que, desde que ela descobre este caminho, pelo desejo e pela vontade que tem de seguir o Mestre, se lança nele rapidamente com zelo e sem negligência. Ela não pára para virar a cabeça, ou seja, para se olhar a si mesma. Pelo conhecimento que tem dos seus pecados e dos seus vícios ela vê-se perfeitamente, ela reconhece-se como não-ser, e conhece em si a infinita bondade de Deus que lhe deu todo o ser que ela possui. Tal é o conhecimento para o qual se deve voltar e onde sempre deve permanecer.
Eu digo que ela não deve voltar-se para se olhar a si mesma por amor-próprio, por complacência ou pelo prazer de qualquer criatura. Eu digo que a alma, iluminada pela verdadeira luz, não se volta por acaso; desde que ela se viu e encontrou a bondade de Deus empenha-se no caminho e percorre todas as vias que tomou o doce Jesus e os santos que o seguiram. Ela toma Jesus por modelo, ela deseja e ama tanto seguir a via directa para alcançar o seu objectivo, o seu doce fim, que ela não se importa nem dos espinhos, nem das tribulações, nem dos ladroes que a querem despojar; ela não se preocupa nem tem medo de nada; o que quer que seja que encontra no caminho não segue atrás. O amor retirou-lhe todo temor servil.
A alma caminha então nos passos daqueles que seguiram Cristo, ela vê bem e conhece que eles eram criaturas como ela, que eles foram saciados e alimentados da mesma maneira, porque a bondade e as liberalidades que ela encontra em Deus hoje são as mesmas das quais ele fez prova no passado.
Ao Arcebispo de Otranto, Jacomo d’Itri
Em nome de Jesus Cristo crucificado e da doce Maria.
Meu querido e reverendo pai em Cristo Jesus, eu, vossa indigna filha Catarina, serva e escrava dos servidores de Jesus Cristo, escrevo-vos no seu precioso sangue, desejosa de vos ver um bom pastor, fiel a Cristo Jesus, na luz e no conhecimento da sua bondade.
Vós sabeis que aquele que caminha na noite com uma lanterna não tropeça; da mesma forma a alma que é iluminada por Deus não pode tropeçar, porque ela abre os olhos da inteligência e da razão, considerando o caminho que segue o seu doce Mestre.
De tal forma que, desde que ela descobre este caminho, pelo desejo e pela vontade que tem de seguir o Mestre, se lança nele rapidamente com zelo e sem negligência. Ela não pára para virar a cabeça, ou seja, para se olhar a si mesma. Pelo conhecimento que tem dos seus pecados e dos seus vícios ela vê-se perfeitamente, ela reconhece-se como não-ser, e conhece em si a infinita bondade de Deus que lhe deu todo o ser que ela possui. Tal é o conhecimento para o qual se deve voltar e onde sempre deve permanecer.
Eu digo que ela não deve voltar-se para se olhar a si mesma por amor-próprio, por complacência ou pelo prazer de qualquer criatura. Eu digo que a alma, iluminada pela verdadeira luz, não se volta por acaso; desde que ela se viu e encontrou a bondade de Deus empenha-se no caminho e percorre todas as vias que tomou o doce Jesus e os santos que o seguiram. Ela toma Jesus por modelo, ela deseja e ama tanto seguir a via directa para alcançar o seu objectivo, o seu doce fim, que ela não se importa nem dos espinhos, nem das tribulações, nem dos ladroes que a querem despojar; ela não se preocupa nem tem medo de nada; o que quer que seja que encontra no caminho não segue atrás. O amor retirou-lhe todo temor servil.
A alma caminha então nos passos daqueles que seguiram Cristo, ela vê bem e conhece que eles eram criaturas como ela, que eles foram saciados e alimentados da mesma maneira, porque a bondade e as liberalidades que ela encontra em Deus hoje são as mesmas das quais ele fez prova no passado.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLeio e reflicto na carta 183 ao Arcebispo de Otrante de Santa Catarina de Sena. Hesito se devo comentá-la. O que desencadeia esta carta ao Arcebispo? ..."desejosa de vos ver um bom pastor, fiel a Cristo Jesus, na luz e no conhecimento da sua bondade". Não importa. "A priori" não devo, não posso, fazer "juízos de valor". O importante é a fé e a determinação de Santa Catarina de Sena no projecto que abraçou e a actualidade desta carta. (...) Vós sabeis que aquele que caminha na noite com uma lanterna não tropeça; da mesma forma a alma que é iluminada por Deus não pode tropeçar, porque ela abre os olhos da inteligência e da razão, considerando o caminho que segue o seu doce Mestre".
Frei José Carlos, não somos "Santos", somos frágeis, conquanto isto não sirva como álibi para continuarmos a pecar, pergunto como "caminhar sempre sem tropeçar"?
Que Jesus Cristo nos ilumine para que sigamos o caminho do Bem.
Obrigada por nos questionar em permanência. Bem haja. MJS
Boa noite Maria José
ResponderEliminarNão sei dizer-lhe o motivo particular que desencadeia esta carta de Santa Catarina. A obra de onde a retirei e traduzi não dá o contexto histórico da sua origem. Contudo, creio que se insere na grande preocupação e missão que orientou Catarina na reforma da vida eclesial no século XIV. A paz da Igreja e a vida fiel e coerente dos seus pastores foi uma preocupação constante. Não podemos esquecer que estamos a viver o Sisma do Ocidente com a existência de dois Papas.
Quanto "a caminhar sem tropeçar", só seguindo os passos de Cristo, confiantes na sua graça, podemos ter essa esperança. A continuação da carta de Catarina creio que nos dá também uma resposta, uma ajuda nesse sentido. Amanhã colocarei mais um trecho da mesma.