Se olharmos para os muitos quadros que foram pintados sobre a ressurreição de Jesus, como o de El Greco ou o de Matthias Grünewald entre outros, encontramos nessas representações a figura de Jesus vitoriosa, luminosa, com o seu estandarte de vitória a erguer-se sobre a fuga apavorada dos guardas romanos, afinal uma revolução espacial e temporal que não deixa de nos impressionar.
Mais perto de nós o filme “A Paixão” de Mel Gibson termina a sua narração visual com a imagem de Jesus levantando-se do lugar onde tinha sido colocado no túmulo, deixando para trás as ligaduras e o sudário, que são os únicos elementos que nos aparecem nas narrações evangélicas.
Tudo o mais, tanto do filme como das pinturas não nos é apresentado pelos Evangelhos que mantêm em relação a este momento um silêncio sepulcral. Mas não podia deixar de ser de outra forma, porque de facto ninguém assistiu à ressurreição de Jesus, ninguém testemunhou este acontecimento único na sua vida e na vida da humanidade.
E era inevitável que assim fosse, porque a ressurreição de Jesus é a manifestação mais gloriosa de Deus e, como em tantas passagens do Antigo Testamento é dito, ninguém pode ver a glória de Deus e continuar vivo. Ninguém podia ver a ressurreição, porque ao vê-la perderia a vida e não poderia testemunhá-la.
E a ressurreição é também o acto mais supremo de amor, do amor de Deus, que restitui ao seu Filho a glória que lhe era devida, depois de ter suportado na carne da sua encarnação o peso da miséria humana e da sua infidelidade. A ressurreição é a transfiguração da nossa humanidade na divindade, uma nova criação à qual também ninguém podia assistir porque era um momento divino.
Por isso o que Maria Madalena, as outras Marias, João e Pedro encontram no sepulcro, onde tinha sido colocado o corpo de Jesus, é o vazio de uma outra realidade, são os sinais materiais de que algo de especial se tinha passado ali. Eles não viram a ressurreição de Jesus, e nem sequer o ressuscitado, viram apenas os sinais de que ele já não estava ali, que já não era, ainda que sendo, aquele que eles tinham conhecido.
Sinais que os deixaram confusos, perdidos sem saber muito bem o que pensar. Apesar do que viam eram incapazes de ver pois ainda não tinham compreendido, como nos diz o Evangelho de São João. Por isso quando Maria Madalena se cruza com Jesus apenas vê nele o jardineiro, é incapaz de o reconhecer, e mesmo Pedro quando vê os sinais regressa a casa meditativo, pensativo, fechado consigo próprio e com a incerteza da sua fé ainda por confirmar no Espírito.
É João, o discípulo mais jovem, aquele que chega primeiro ao sepulcro, aquele que tinha descansado sobre o peito do Senhor na última ceia, que vê e acredita, vê os sinais das ligaduras e do sudário e acredita. Tal é-lhe possível porque sabe o que é amor, sabe o que o amor pode fazer, como pode transfigurar as realidades, e aquela ausência e aqueles sinais eram provas de um acto sublime de amor. Mais tarde, já regressados à sua vida habitual, na faina da pesca, ao ver alguém caminhar na margem do lago será esse mesmo amor que lhe permitirá dizer a Pedro e aos outros, é o Senhor, é o Mestre.
Perante a ressurreição de Jesus todos nós somos um pouco como Pedro, como João e como Maria Madalena, buscamos os sinais que nos permitam ver a presença de Jesus, o mistério da sua presença gloriosa. Contudo, e como com eles, tais sinais apenas se tornarão confirmativos, afirmativos dessa realidade, na medida em que procederem da fé. Jesus não quer que o vejamos, quer que acreditemos nele, aliás foi sempre essa a sua grande questão e luta com aqueles que o acompanhavam e o buscavam para obter milagres. O importante é acreditar, acreditar que aquele homem de Nazaré é o Filho de Deus, é o nosso Deus.
E se Jesus ressuscitado mais tarde se faz visível para os seus discípulos, quando estão fechados em casa, para o incrédulo Tomé, junto ao lago, a caminho de Emaús é para que por essa visibilidade eles apreendam e conheçam a invisibilidade, saibam em quem estão a colocar a sua confiança, a sua fé e a sua esperança.
Este é o desafio da ressurreição, para todos os homens e para cada um de nós, que dos sinais de um acontecimento sem testemunhas ultrapassemos a realidade desses mesmos sinais e acreditemos no que eles nos revelam daquele homem que é filho de Deus e que caminhou connosco para nos elevar à condição de filhos de Deus.
Mais perto de nós o filme “A Paixão” de Mel Gibson termina a sua narração visual com a imagem de Jesus levantando-se do lugar onde tinha sido colocado no túmulo, deixando para trás as ligaduras e o sudário, que são os únicos elementos que nos aparecem nas narrações evangélicas.
Tudo o mais, tanto do filme como das pinturas não nos é apresentado pelos Evangelhos que mantêm em relação a este momento um silêncio sepulcral. Mas não podia deixar de ser de outra forma, porque de facto ninguém assistiu à ressurreição de Jesus, ninguém testemunhou este acontecimento único na sua vida e na vida da humanidade.
E era inevitável que assim fosse, porque a ressurreição de Jesus é a manifestação mais gloriosa de Deus e, como em tantas passagens do Antigo Testamento é dito, ninguém pode ver a glória de Deus e continuar vivo. Ninguém podia ver a ressurreição, porque ao vê-la perderia a vida e não poderia testemunhá-la.
E a ressurreição é também o acto mais supremo de amor, do amor de Deus, que restitui ao seu Filho a glória que lhe era devida, depois de ter suportado na carne da sua encarnação o peso da miséria humana e da sua infidelidade. A ressurreição é a transfiguração da nossa humanidade na divindade, uma nova criação à qual também ninguém podia assistir porque era um momento divino.
Por isso o que Maria Madalena, as outras Marias, João e Pedro encontram no sepulcro, onde tinha sido colocado o corpo de Jesus, é o vazio de uma outra realidade, são os sinais materiais de que algo de especial se tinha passado ali. Eles não viram a ressurreição de Jesus, e nem sequer o ressuscitado, viram apenas os sinais de que ele já não estava ali, que já não era, ainda que sendo, aquele que eles tinham conhecido.
Sinais que os deixaram confusos, perdidos sem saber muito bem o que pensar. Apesar do que viam eram incapazes de ver pois ainda não tinham compreendido, como nos diz o Evangelho de São João. Por isso quando Maria Madalena se cruza com Jesus apenas vê nele o jardineiro, é incapaz de o reconhecer, e mesmo Pedro quando vê os sinais regressa a casa meditativo, pensativo, fechado consigo próprio e com a incerteza da sua fé ainda por confirmar no Espírito.
É João, o discípulo mais jovem, aquele que chega primeiro ao sepulcro, aquele que tinha descansado sobre o peito do Senhor na última ceia, que vê e acredita, vê os sinais das ligaduras e do sudário e acredita. Tal é-lhe possível porque sabe o que é amor, sabe o que o amor pode fazer, como pode transfigurar as realidades, e aquela ausência e aqueles sinais eram provas de um acto sublime de amor. Mais tarde, já regressados à sua vida habitual, na faina da pesca, ao ver alguém caminhar na margem do lago será esse mesmo amor que lhe permitirá dizer a Pedro e aos outros, é o Senhor, é o Mestre.
Perante a ressurreição de Jesus todos nós somos um pouco como Pedro, como João e como Maria Madalena, buscamos os sinais que nos permitam ver a presença de Jesus, o mistério da sua presença gloriosa. Contudo, e como com eles, tais sinais apenas se tornarão confirmativos, afirmativos dessa realidade, na medida em que procederem da fé. Jesus não quer que o vejamos, quer que acreditemos nele, aliás foi sempre essa a sua grande questão e luta com aqueles que o acompanhavam e o buscavam para obter milagres. O importante é acreditar, acreditar que aquele homem de Nazaré é o Filho de Deus, é o nosso Deus.
E se Jesus ressuscitado mais tarde se faz visível para os seus discípulos, quando estão fechados em casa, para o incrédulo Tomé, junto ao lago, a caminho de Emaús é para que por essa visibilidade eles apreendam e conheçam a invisibilidade, saibam em quem estão a colocar a sua confiança, a sua fé e a sua esperança.
Este é o desafio da ressurreição, para todos os homens e para cada um de nós, que dos sinais de um acontecimento sem testemunhas ultrapassemos a realidade desses mesmos sinais e acreditemos no que eles nos revelam daquele homem que é filho de Deus e que caminhou connosco para nos elevar à condição de filhos de Deus.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarAs palavras que connosco partilha, recorda-nos que ...” a ressurreição é também o acto mais supremo de amor, do amor de Deus, que restitui ao seu Filho a glória que lhe era devida, depois de ter suportado na carne da sua encarnação o peso da miséria humana e da sua infidelidade”.
E deixa-nos o “desafio da ressureição”…
… “Perante a ressurreição de Jesus todos nós somos um pouco como Pedro, como João e como Maria Madalena, buscamos os sinais que nos permitam ver a presença de Jesus, o mistério da sua presença gloriosa”.
E deixa-nos a chave, para que acreditemos nela …”Contudo, e como com eles, tais sinais apenas se tornarão confirmativos, afirmativos dessa realidade, na medida em que procederem da fé.”
…”O importante é acreditar, acreditar que aquele homem de Nazaré é o Filho de Deus, é o nosso Deus”, (…) “e que caminhou connosco para nos elevar à condição de filhos de Deus.”
De uma forma aparentemente simples mas complexa não escamoteia a dificuldade com que todos os homens e cada um de nós se confronta.
Que Deus nos ilumine para que a fé que nos habita se reforce e que …”dos sinais de um acontecimento sem testemunhas ultrapassemos a realidade desses mesmos sinais e acreditemos no que eles nos revelam daquele homem que é filho de Deus”. Bem haja. MJS
P.S. Se me permite gostaria de assinalar quão importante foi para muitos de nós, toda a "partilha" de preparação ao longo da Quaresma. Pela palavra, realizada através do nosso quotidiano, certamente conseguimos aperfeiçoar-nos, numa permanente caminhada "espiritual". Um grande obrigada, Frei José Carlos. MJS
Frei José Carlos,
ResponderEliminarTerminadas as cerimónias religiosas de grande beleza formal na Igreja do Convento e que nos motivaram para uma intimidade mais profunda com Deus feito Homem, é tempo de recolhimento, de silêncio, de alimento da fé para para que não deixemos de acreditar "...que aquele homem de Nazaré é o Filho de Deus, é o nosso Deus."
A palavra que nos oferece a exemplo das mensagens de Greco, Grünewald e Gibson será também alimento espiritual para a caminhada agora recomeçada.
GVA