quarta-feira, 7 de abril de 2010

Discípulos de Emaús

Foi ao partir do pão que o reconheceram, que reconheceram que aquele que tinha caminhado com eles ao longo do caminho, que lhes tinha explicado as Escrituras, era Jesus, o mesmo Jesus que eles conheciam e com quem tinham compartilhado outros caminhos, de quem tinham escutado tantas vezes explicações das Escrituras.
Foi ao partir do pão que o reconheceram, porque o partir do pão era uma realidade nova, única, especial. É verdade que o tinham visto multiplicar o pão para mais de cinco mil homens, que o tinham visto transformar a água em vinho numas bodas, mas o partir do pão daquela maneira só tinha acontecido uma vez, na última vez que tinham comido juntos e Jesus lhes tinha entregue o pão e o vinho como seu corpo e seu sangue.
Ao partir do pão tudo se clarifica, porque uma vez mais e feito pela mesma pessoa, pelo mesmo Jesus, esta partilha é um acto de amor e portanto reconhecível e identificável porque único.
Quando o reconheceram Jesus desapareceu, ficou o vazio da sua presença física mas o sinal da sua presença eterna, o sinal e a presença do seu amor e da sua vida entregue por todos homens. E como não é possível alegrar-se com tal presença, constante, eterna, acessível a todos?
Tal presença permite o regresso ao lugar do crime e da tragédia, a Jerusalém, porque há uma força e uma vida que explicam todo o sucedido, uma força que permite enfrentar todos os desafios e todas as dores, até a da perda daquele em que se acreditava.
Hoje a presença mantém-se, essa presença de amor e de vida que permite tantas viagens, tantos regressos e tantas forças para enfrentar os desafios. Contudo, como aqueles dois discípulos continuamos ainda presos à tragédia e à dor da ausência física, incapazes de ver o verdadeiro partir do pão e o milagre de amor que nos é oferecido.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    O uso das tecnologias de informação permite, por exemplo, que "nos explique as Escrituras", entre outras partilhas que nos confortam espiritualmente e que elogiamos e agradecemos, em particular para pessoas com poucos conhecimentos e com pouca disponibilidade para dedicar ao estudo dos mais diversos temas religiosos que nos enriquecem, como é o meu caso.
    Na meditação de hoje coloca-nos perante duas interrogações que me tocam e que passo a transcrever: ..."Quando o reconheceram Jesus desapareceu, ficou o vazio da sua presença física mas o sinal da sua presença eterna, o sinal e a presença do seu amor e da sua vida entregue por todos homens.
    E como não é possível alegrar-se com tal presença, constante, eterna, acessível a todos?"
    ..."Contudo, como aqueles dois discípulos continuamos ainda presos à tragédia e à dor da ausência física, incapazes de ver o verdadeiro partir do pão e o milagre de amor que nos é oferecido".
    Posso perguntar ao Frei José Carlos, como é possível explicar este comportamento de alguns de nós (muitos, eventualmente)? Obrigada. MJS

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  2. Frei José Carlos,
    São os olhos da alma animados pela Fé que nos permitem ver para além do Pão e do Vinho consagrados o mesmo Jesus Ressuscitado que vive em cada um de nós. É este alimento que santifica o nosso dia, que acende em nós a centelha da fraternidade para não excluir nem magoar voluntária e pensadamente quem caminha ao nosso lado. Que o outro veja nas nossas palavras, nos nossos gestos, o irmão com quem pode contar, assinalado pelo amor de Deus.
    GVA

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