As leituras deste quinto domingo do Tempo Comum apresentam-nos três histórias pessoais, três histórias bem diferentes mas com um denominador comum, o encontro pessoal com Deus. Podemos dizer que estamos perante um itinerário vocacional comum ainda que desenvolvido em três momentos e pessoas diferentes. Três experiências paralelas que são ou podem ser também os nossos itinerários e as nossas experiências.
Nestas histórias, de Isaías, de Paulo e de Pedro encontramo-nos perante a descoberta de Deus, mas de um Deus que é totalmente Outro, de um Deus que não corresponde aos nossos esquemas nem às nossas concepções, um Deus que nos revela como é surpresa e como estamos convidados a assumir também essa surpresa, como estamos convidados a transformar-nos de alguma forma em outros, em pessoas diferentes das que somos.
Na leitura do Livro de Isaías encontramos a visão que o profeta tem da liturgia divina, da sua beleza e magnificência, do esplendor que envolve o próprio Deus. Perante tal beleza e esplendor o profeta descobre a sua pequenez, a sua falta de pureza, descobre afinal a distância que o separa do próprio Deus em que acredita, descobre como é um homem de lábios impuros e vive no meio de um povo também impuro de lábios.
Para Isaías, para cada um de nós, para cada homem, e para os homens das histórias das três leituras que escutámos, esta consciência é o primeiro patamar para o encontro transformante com Deus, é a primeira etapa do itinerário vocacional. Não pode haver encontro transformante com Deus se não se descobre esta consciência.
São Paulo sofreu o mesmo processo, ele que tinha sido formado na escola de Gamaliel, que era um judeu zeloso do cumprimento da lei e da vivência de acordo com a sua fé. Quando escreve aos Coríntios, Paulo reconhece que tinha uma imagem e uma concepção de Deus, a imagem dada pela formação doutrinal e intelectual, uma imagem de que ele era senhor, mas que estava muito aquém da realidade de Deus, da experiência que depois pôde fazer a caminho de Damasco quando viu como andava cego fixado naqueles princípios que não eram experienciais mas fruto da tradição.
Foi esta experiência a caminho de Damasco que lhe permitiu perceber como era um abortivo, como estava tão distante do Deus em que dizia acreditar e servir. A caminho de Damasco Paulo percebe quanto Deus era Outro, totalmente Outro. Por isso pode dizer que apesar de todo o trabalho de apostolado, de toda a missão realizada ele era o mais pequeno dos apóstolos. De facto, todo o seu trabalho tinha sido feito pela graça, pela força do Espírito Santo que o tinha transformado, ele era em si mesmo insignificante.
Pedro sofreu também a mesma experiência de se encontrar com um Deus, na pessoa de Jesus Cristo, completamente diferente. Por essa razão pede que o Senhor se afaste dele, uma vez que é pecador. E o pecado de Pedro, o pecado que ele reconhece, prende-se com a sobranceria com que tinha respondido a Jesus quando este lhe mandou que lançasse as redes. Pedro era pescador, homem habituado ao mar e à pesca, como poderiam apanhar alguma coisa depois de uma noite de canseira em vão? E que percebia aquele carpinteiro de pesca e de peixes? Pedro lança as redes na expectativa de um fiasco, mas a rede vem carregada de peixes e então descobre que aquele homem tinha mais conhecimento da pesca e dos peixes que ele, era afinal o criador dos próprios peixes e podia reuni-los em qualquer rede. Pedro faz a experiência das limitações do seu conhecimento e da sua realidade.
Nestas três histórias encontramo-nos perante a realidade de que só face a Deus, só na sua presença descobrimos a nossa miséria e pequenez, o nosso pecado e a distância que nos separa de Deus, da sua santidade e beleza. Perante Deus somos esmagados pela nossa condição, pela nossa própria consciência que nos acusa da distância que nos separa. Nesta situação podemos ficar paralisados, bloqueados, incapazes de fazer alguma coisa porque realmente não há muito a fazer.
Por esta razão e pelas nossas limitações Deus toma a iniciativa e vem ao nosso encontro, parte da sua grandeza para vir ter connosco à nossa pequenez e miséria. Na história de Isaías é o querubim que traz a brasa acesa e purifica os lábios impuros, em Paulo é Ananias que recebe a missão de Deus de ir ao encontro daquele que antes perseguia os cristãos, em Pedro é o convite a não temer o sucedido nem o pecado porque Deus quer fazer dele um pescador de homens.
A experiência do encontro com Deus e da sua santidade transforma-se assim em encontro de chamamento, em encontro de outorga de missão, em encontro vocacional. Abatidos pela grandeza do encontro, no confronto da sua pequenez e miséria com a grandeza e santidade de Deus, Isaías, Paulo e Pedro surgem como novos homens, renascidos para uma nova realidade e vida. Por esta razão é que Saulo se passa a chamar Paulo e Simão se passa a chamar Pedro. Já não são os mesmos e ainda que continuem a ser os mesmos são os mesmos transformados pelo encontro, são outros à semelhança do totalmente Outro com que se confrontaram e perante o qual assumiram as suas limitações.
Podemos interrogar-nos sobre a nossa possibilidade de transformação, sobre a possibilidade de um encontro transformante com Deus na nossa vida e face às nossas misérias e limitações. Mas ao fazê-lo estamos a esquecer-nos que todos os dias essa possibilidade está à nossa disposição, que dentro de pouco ela vai estar ao nosso alcance. A Eucaristia é essa possibilidade real, factual, e se uma brasa trazida pelo querubim pôde purificar os lábios de Isaías quanto mais poder não terá o Corpo e o Sangue de Jesus ressuscitado de que nos alimentamos, esse Corpo e Sangue que nos transforma não só naquilo que somos mas também em outros Cristos vivos sobre a face da terra. E como Cristo não podemos esquecer que temos uma missão, a de resgatar os homens do mundo da mentira e da morte e trazê-los para o reino da luz e da verdade.
Que o Senhor nos possibilite a graça de irmos cumprindo a nossa missão.
Nestas histórias, de Isaías, de Paulo e de Pedro encontramo-nos perante a descoberta de Deus, mas de um Deus que é totalmente Outro, de um Deus que não corresponde aos nossos esquemas nem às nossas concepções, um Deus que nos revela como é surpresa e como estamos convidados a assumir também essa surpresa, como estamos convidados a transformar-nos de alguma forma em outros, em pessoas diferentes das que somos.
Na leitura do Livro de Isaías encontramos a visão que o profeta tem da liturgia divina, da sua beleza e magnificência, do esplendor que envolve o próprio Deus. Perante tal beleza e esplendor o profeta descobre a sua pequenez, a sua falta de pureza, descobre afinal a distância que o separa do próprio Deus em que acredita, descobre como é um homem de lábios impuros e vive no meio de um povo também impuro de lábios.
Para Isaías, para cada um de nós, para cada homem, e para os homens das histórias das três leituras que escutámos, esta consciência é o primeiro patamar para o encontro transformante com Deus, é a primeira etapa do itinerário vocacional. Não pode haver encontro transformante com Deus se não se descobre esta consciência.
São Paulo sofreu o mesmo processo, ele que tinha sido formado na escola de Gamaliel, que era um judeu zeloso do cumprimento da lei e da vivência de acordo com a sua fé. Quando escreve aos Coríntios, Paulo reconhece que tinha uma imagem e uma concepção de Deus, a imagem dada pela formação doutrinal e intelectual, uma imagem de que ele era senhor, mas que estava muito aquém da realidade de Deus, da experiência que depois pôde fazer a caminho de Damasco quando viu como andava cego fixado naqueles princípios que não eram experienciais mas fruto da tradição.
Foi esta experiência a caminho de Damasco que lhe permitiu perceber como era um abortivo, como estava tão distante do Deus em que dizia acreditar e servir. A caminho de Damasco Paulo percebe quanto Deus era Outro, totalmente Outro. Por isso pode dizer que apesar de todo o trabalho de apostolado, de toda a missão realizada ele era o mais pequeno dos apóstolos. De facto, todo o seu trabalho tinha sido feito pela graça, pela força do Espírito Santo que o tinha transformado, ele era em si mesmo insignificante.
Pedro sofreu também a mesma experiência de se encontrar com um Deus, na pessoa de Jesus Cristo, completamente diferente. Por essa razão pede que o Senhor se afaste dele, uma vez que é pecador. E o pecado de Pedro, o pecado que ele reconhece, prende-se com a sobranceria com que tinha respondido a Jesus quando este lhe mandou que lançasse as redes. Pedro era pescador, homem habituado ao mar e à pesca, como poderiam apanhar alguma coisa depois de uma noite de canseira em vão? E que percebia aquele carpinteiro de pesca e de peixes? Pedro lança as redes na expectativa de um fiasco, mas a rede vem carregada de peixes e então descobre que aquele homem tinha mais conhecimento da pesca e dos peixes que ele, era afinal o criador dos próprios peixes e podia reuni-los em qualquer rede. Pedro faz a experiência das limitações do seu conhecimento e da sua realidade.
Nestas três histórias encontramo-nos perante a realidade de que só face a Deus, só na sua presença descobrimos a nossa miséria e pequenez, o nosso pecado e a distância que nos separa de Deus, da sua santidade e beleza. Perante Deus somos esmagados pela nossa condição, pela nossa própria consciência que nos acusa da distância que nos separa. Nesta situação podemos ficar paralisados, bloqueados, incapazes de fazer alguma coisa porque realmente não há muito a fazer.
Por esta razão e pelas nossas limitações Deus toma a iniciativa e vem ao nosso encontro, parte da sua grandeza para vir ter connosco à nossa pequenez e miséria. Na história de Isaías é o querubim que traz a brasa acesa e purifica os lábios impuros, em Paulo é Ananias que recebe a missão de Deus de ir ao encontro daquele que antes perseguia os cristãos, em Pedro é o convite a não temer o sucedido nem o pecado porque Deus quer fazer dele um pescador de homens.
A experiência do encontro com Deus e da sua santidade transforma-se assim em encontro de chamamento, em encontro de outorga de missão, em encontro vocacional. Abatidos pela grandeza do encontro, no confronto da sua pequenez e miséria com a grandeza e santidade de Deus, Isaías, Paulo e Pedro surgem como novos homens, renascidos para uma nova realidade e vida. Por esta razão é que Saulo se passa a chamar Paulo e Simão se passa a chamar Pedro. Já não são os mesmos e ainda que continuem a ser os mesmos são os mesmos transformados pelo encontro, são outros à semelhança do totalmente Outro com que se confrontaram e perante o qual assumiram as suas limitações.
Podemos interrogar-nos sobre a nossa possibilidade de transformação, sobre a possibilidade de um encontro transformante com Deus na nossa vida e face às nossas misérias e limitações. Mas ao fazê-lo estamos a esquecer-nos que todos os dias essa possibilidade está à nossa disposição, que dentro de pouco ela vai estar ao nosso alcance. A Eucaristia é essa possibilidade real, factual, e se uma brasa trazida pelo querubim pôde purificar os lábios de Isaías quanto mais poder não terá o Corpo e o Sangue de Jesus ressuscitado de que nos alimentamos, esse Corpo e Sangue que nos transforma não só naquilo que somos mas também em outros Cristos vivos sobre a face da terra. E como Cristo não podemos esquecer que temos uma missão, a de resgatar os homens do mundo da mentira e da morte e trazê-los para o reino da luz e da verdade.
Que o Senhor nos possibilite a graça de irmos cumprindo a nossa missão.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarDepois de nos iluminar o caminho para a compreensão das três leituras deste V Domingo do Tempo Comum, de nos confrontar com as nossas misérias e limitações, eis que nos desperta para a tomada de consciência do poder transformante do Corpo e Sangue de Jesus ressuscitado que faz de nós Seus seguidores com a missão de darmos testemunho d'Ele.
Que o Espírito Santo nos dê a lucidez para perceber e para enveredar pela conversão.
GVA
Frei José Carlos,
ResponderEliminarAtravés da interpretação das leituras deste quinto domingo do Tempo Comum consubstanciadas em três histórias pessoais de encontro com Deus, na pessoa de Jesus Cristo, lembra-nos as nossas fragilidades e limites, a nossa condição humana. Mas recorda-nos que está à nossa disposição a "possibilidade de nos transformarmos" e que como Cristo temos uma "missão a cumprir". Obrigada por esta partilha, pela forma como nos encoraja a prosseguir um caminho muitas vezes difícil. Bem haja.MJS