A liturgia da Palavra através do Evangelho de São Lucas apresenta-nos neste domingo um dos textos mais impressionantes da história da humanidade, um texto que podemos dizer mudou a história, pois milhares de homens e mulheres tentaram viver de acordo com o enunciado nesse texto, enquanto que do lado oposto outros tantos tentaram evitar e impedir que esses enunciados fossem vividos. Estamos assim perante um texto verdadeiramente revolucionário e cheio de consequências.
O texto das Bem-Aventuranças apresentado por São Lucas, ao contrário do texto paralelo do Evangelho de São Mateus, é um texto limpo, depurado de todo o acessório, um texto simples para que possa ser rapidamente assimilado e compreendido. Na sua simplicidade é um texto radical, um texto que se assume como fonte e cume da vida cristã.
O texto de São Lucas, composto de quatro Bem-Aventuranças e quatro Lamentações, porque são lamentações o que encontramos e não condenações, contrapõe-se ao texto do Evangelho de São Mateus composto de oito Bem-Aventuranças e sem nenhuma lamentação. Esta diferença reflecte-se também na localização da proclamação das mesmas Bem-Aventuranças, porque se em Mateus, Jesus as profere no monte, Lucas coloca Jesus a proferi-las num vale, numa zona plana.
Numa leitura simbólica, metafórica, podemos ver este vale como um local de acessibilidade, de fácil acesso, ao contrário do monte que exige sempre um esforço físico para que se possa vencer. Neste sentido podemos ler a proclamação das Bem-Aventuranças de Lucas como um caminho que Jesus propõe aos homens, mas um caminho que não necessita de um esforço maior. A planura coloca as Bem-Aventuranças ao acesso de todos os que as quiserem viver.
As Bem-Aventuranças e a oposição com as Lamentações não podem no entanto ser lidas de uma forma literal, simplista, porque o que está em causa é mais profundo, é uma atitude fundamental que se reflecte em comportamentos e atitudes que depois podem ser bem-aventurança ou maldição lamentável.
A leitura do profeta Jeremias dá-nos a chave de interpretação do fundamento das Bem-Aventuranças porque através dele podemos perceber que a bênção recai sobre aquele que confia em Deus, enquanto que a maldição recai sobre aquele que confia apenas em si próprio, nas suas forças. É a confiança em Deus, na sua acção na nossa vida que nos ajuda a viver bem-aventurados, enquanto que a confiança em nós, a auto-suficiência, nos leva a viver a amargura das nossas limitações e frustrações, porque somos limitados e por isso não conseguimos nem realizamos tudo o que desejamos e nos propomos.
Temos que compreender também que as Bem-Aventuranças não são uma canonização ou exaltação da pobreza, ou uma diabolização e condenação da riqueza. Quando Jesus louva os pobres, os que choram, os que passam fome e são perseguidos não é porque isso é bom, é agradável ao olhos de Deus, mas é porque possibilita ao homem na experiência das suas limitações a entrega e a confiança em Deus, a manter uma esperança para além das suas forças e do seu poder finito. Quando Jesus lamenta os ricos, os que se fartam, os que riem e os que são elogiados, não é porque essas realidades ofendam a Deus ou sejam más, mas porque na sua natureza de satisfação e confiança pessoal não permitem, e até impedem, a abertura do homem ao outro, seja esse outro Deus ou os homens irmãos, impossibilitam uma esperança para além das nossas forças e poder.
Estas são realidades superficiais, tanto uma como outras, e Jesus interessa-se por algo mais profundo, algo mais essencial no homem e que é o que fundamenta a vida, a rocha base sobre a qual construímos a nossa vida, fazemos as nossas opções e até as nossas seguranças.
Neste sentido o texto das Bem-Aventuranças denúncia a mentira dos nossos tempos e do homem contemporâneo, homem que coloca toda a esperança em si mesmo, homem que se exalta a si próprio, homem que se instituí como norma e lei de si próprio. Perante esta realidade podemos perguntar qual o sentido desta vida, qual o seu objectivo. O homem contemporâneo vive para quê, quando a sua concepção de vida se recusa, ou nega, uma esperança para além desta vida e das nossas próprias limitações.
A verdade que Jesus nos transmite com estas Bem-Aventuranças é que a nossa autonomia não nos satisfaz, não nos realiza na nossa natureza em toda a sua totalidade, nem nas nossas potencialidades criativas, é necessário Deus, a fé em Deus e na sua capacidade de vir ao nosso encontro e nos satisfazer nas nossas mais intimas aspirações.
É por esta razão que São Paulo nos diz na Primeira Carta aos Coríntios que se não acreditamos na ressurreição, na ressurreição de Jesus Cristo, a nossa fé, e consequentemente a nossa vida, é vã, é uma vida inútil porque estará unicamente destinada à satisfação momentânea e ao fim poeirento e carcomido dos vermes. E viveremos nós apenas para isso? Triste fim o nosso se é só para isso que vivemos.
Acreditar na ressurreição é acreditar no amor de Deus, é inserirmo-nos nessa cadeia de amor e portanto é tornarmo-nos participes de uma realidade que vem desde toda a eternidade e caminha para a eternidade. E nessa participação, nessa cadeia, o fim não existe nem para nós nem para tudo o que fizermos ou vivermos, sejam as lágrimas ou os risos, seja a pobreza ou a riqueza, seja a fome ou a saciação. Tudo estará marcado pela eternidade do amor e nele permanecerá para a eternidade.
O texto das Bem-Aventuranças apresentado por São Lucas, ao contrário do texto paralelo do Evangelho de São Mateus, é um texto limpo, depurado de todo o acessório, um texto simples para que possa ser rapidamente assimilado e compreendido. Na sua simplicidade é um texto radical, um texto que se assume como fonte e cume da vida cristã.
O texto de São Lucas, composto de quatro Bem-Aventuranças e quatro Lamentações, porque são lamentações o que encontramos e não condenações, contrapõe-se ao texto do Evangelho de São Mateus composto de oito Bem-Aventuranças e sem nenhuma lamentação. Esta diferença reflecte-se também na localização da proclamação das mesmas Bem-Aventuranças, porque se em Mateus, Jesus as profere no monte, Lucas coloca Jesus a proferi-las num vale, numa zona plana.
Numa leitura simbólica, metafórica, podemos ver este vale como um local de acessibilidade, de fácil acesso, ao contrário do monte que exige sempre um esforço físico para que se possa vencer. Neste sentido podemos ler a proclamação das Bem-Aventuranças de Lucas como um caminho que Jesus propõe aos homens, mas um caminho que não necessita de um esforço maior. A planura coloca as Bem-Aventuranças ao acesso de todos os que as quiserem viver.
As Bem-Aventuranças e a oposição com as Lamentações não podem no entanto ser lidas de uma forma literal, simplista, porque o que está em causa é mais profundo, é uma atitude fundamental que se reflecte em comportamentos e atitudes que depois podem ser bem-aventurança ou maldição lamentável.
A leitura do profeta Jeremias dá-nos a chave de interpretação do fundamento das Bem-Aventuranças porque através dele podemos perceber que a bênção recai sobre aquele que confia em Deus, enquanto que a maldição recai sobre aquele que confia apenas em si próprio, nas suas forças. É a confiança em Deus, na sua acção na nossa vida que nos ajuda a viver bem-aventurados, enquanto que a confiança em nós, a auto-suficiência, nos leva a viver a amargura das nossas limitações e frustrações, porque somos limitados e por isso não conseguimos nem realizamos tudo o que desejamos e nos propomos.
Temos que compreender também que as Bem-Aventuranças não são uma canonização ou exaltação da pobreza, ou uma diabolização e condenação da riqueza. Quando Jesus louva os pobres, os que choram, os que passam fome e são perseguidos não é porque isso é bom, é agradável ao olhos de Deus, mas é porque possibilita ao homem na experiência das suas limitações a entrega e a confiança em Deus, a manter uma esperança para além das suas forças e do seu poder finito. Quando Jesus lamenta os ricos, os que se fartam, os que riem e os que são elogiados, não é porque essas realidades ofendam a Deus ou sejam más, mas porque na sua natureza de satisfação e confiança pessoal não permitem, e até impedem, a abertura do homem ao outro, seja esse outro Deus ou os homens irmãos, impossibilitam uma esperança para além das nossas forças e poder.
Estas são realidades superficiais, tanto uma como outras, e Jesus interessa-se por algo mais profundo, algo mais essencial no homem e que é o que fundamenta a vida, a rocha base sobre a qual construímos a nossa vida, fazemos as nossas opções e até as nossas seguranças.
Neste sentido o texto das Bem-Aventuranças denúncia a mentira dos nossos tempos e do homem contemporâneo, homem que coloca toda a esperança em si mesmo, homem que se exalta a si próprio, homem que se instituí como norma e lei de si próprio. Perante esta realidade podemos perguntar qual o sentido desta vida, qual o seu objectivo. O homem contemporâneo vive para quê, quando a sua concepção de vida se recusa, ou nega, uma esperança para além desta vida e das nossas próprias limitações.
A verdade que Jesus nos transmite com estas Bem-Aventuranças é que a nossa autonomia não nos satisfaz, não nos realiza na nossa natureza em toda a sua totalidade, nem nas nossas potencialidades criativas, é necessário Deus, a fé em Deus e na sua capacidade de vir ao nosso encontro e nos satisfazer nas nossas mais intimas aspirações.
É por esta razão que São Paulo nos diz na Primeira Carta aos Coríntios que se não acreditamos na ressurreição, na ressurreição de Jesus Cristo, a nossa fé, e consequentemente a nossa vida, é vã, é uma vida inútil porque estará unicamente destinada à satisfação momentânea e ao fim poeirento e carcomido dos vermes. E viveremos nós apenas para isso? Triste fim o nosso se é só para isso que vivemos.
Acreditar na ressurreição é acreditar no amor de Deus, é inserirmo-nos nessa cadeia de amor e portanto é tornarmo-nos participes de uma realidade que vem desde toda a eternidade e caminha para a eternidade. E nessa participação, nessa cadeia, o fim não existe nem para nós nem para tudo o que fizermos ou vivermos, sejam as lágrimas ou os risos, seja a pobreza ou a riqueza, seja a fome ou a saciação. Tudo estará marcado pela eternidade do amor e nele permanecerá para a eternidade.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarBem haja pela chave de compreensão das Bem-Aventuranças adaptadas às nossas vivências e pela mensagem de conversão na esperança e no consolo no Amor de Deus.
GVA
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNa homília do Domingo VI do Tempo Comum ajuda-nos a interpretar as Bem- Aventuranças à luz da vivência do Homem de hoje e da realidade que nos cerca, mostrando-nos como podemos alterar o percurso de uma vida inútil, sem sentido. (...) "Acreditar na ressurreição é acreditar no amor de Deus, é inserirmo-nos nessa cadeia de amor e portanto é tornarmo-nos participes de uma realidade que vem desde toda a eternidade e caminha para a eternidade. E nessa participação, nessa cadeia, o fim não existe nem para nós nem para tudo o que fizermos ou vivermos, sejam as lágrimas ou os risos, seja a pobreza ou a riqueza, seja a fome ou a saciação. Tudo estará marcado pela eternidade do amor e nele permanecerá para a eternidade." Muito obrigada pela partilha, pelo caminho que nos mostra, pelo conforto que nos transmite. Bem haja. MJS