Estou a lembrar-me de
alguns filmes americanos em que assistimos ansiosos a uma perseguição a alta
velocidade e ficamos surpreendidos como os vilões conhecem tão bem as saídas
das auto-estradas. Em outros filmes, geralmente catastróficos, vemos as longas
filas paradas nas imensas auto-estradas americanas sem nenhum movimento de avanço
que permita a fuga.
São surpreendentes as
auto-estradas, com os seus painéis de sinalização, com os quilómetros que nos
faltam, com as saídas que se aproximam, com a indicação do destino final. Por vezes,
gostávamos que a nossa vida fosse como as auto-estradas, com sinais bem
precisos de quanto nos falta andar e onde devemos sair. Era tudo tão mais
fácil, tudo avançaria impecavelmente.
Mas a nossa vida não é
uma auto-estrada, é mais como uma estrada regional, que serpenteia no meio da
montanha ou da planície, na qual tantas vezes os sinais desaparecem, nas quais
sem nos aperceber já nos perdemos.
Recordo com graça uma
viagem para Castelo Branco, no início da década de noventa do século passado; íamos
para a ordenação do Padre Marcelino, quando nos deparámos no meio de um caminho
rural, apesar de o mapa pelo qual nos guiávamos indicar uma estrada naquele
lugar. Ao ver-nos desgarrados do caminho certo alguém nos disse que de facto se
podia passar por ali, mas apenas de jipe, e nós tínhamos um pequeno Corsa.
Nas auto-estradas não
corremos o risco de nos desgarrarmos, mas nas estradas rurais isso pode
facilmente acontecer. Contudo, estarmos desgarrados não significa que estamos
perdidos, porque aquele que se desgarrou não perdeu tudo, tem no mínimo a
oportunidade de voltar atrás, de refazer o caminho, vai necessitar de estar
atento, de ver com olhos de ver e pode até encontrar alguém que lhe indica qual
o caminho a seguir.
O risco de nos perdermos
acontece inacreditavelmente nas auto-estradas, porque aí, se não estivermos
atentos aos sinais para sairmos na saída certa, se não estivermos atentos aos
quilómetros que nos faltam e aos litros de combustível que nos restam, podemos
perecer no meio do nada, sem possibilidade de voltar atrás e sem alguém para
nos dizer o que quer que seja de como prosseguir.
Nos extravios da nossa
vida, misteriosamente, vem ao nosso encontro Aquele que nos indica o caminho
certo, o que fazer e como fazer, como necessitamos fazer uma estrada no deserto
ou aplanar os nossos montes de orgulho. Deus vem ao encontro dos extraviados e
desgarrados, porque para eles nada está perdido, há um olhar que se pode
apurar, há um caminho que se fez e pode ser refeito, há um desejo de encontro
com alguém que nos pode salvar.
Alegremo-nos neste
Advento de cada vez que nos desgarrarmos dos nossos propósitos aferrados e
firmemente ancorados porque é por esse caminho misterioso que a promessa de
salvação chega ao coração das nossas existências imprevisíveis, é por eles que
a misericórdia do Pai nos espera.
Sinais em cruzamento,
Ithaca, Nova York.
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