João, o Baptista, está ainda bem escondido no seio de sua mãe Isabel quando Maria a visita. Levando também já Jesus no seu seio, Maria glorifica o Senhor após a saudação de sua prima dizendo que o Senhor derruba os poderosos e eleva os humildes. Maria está já imbuída da lógica do Reino, o Espirito Santo ilumina e fundamenta as suas palavras à luz das velhas promessas feitas ao povo de Israel.
Com Jesus, e assumida
já nas palavras do Magnificat de Maria, realiza-se uma revolução, uma inversão
radical das hierarquias e por isso quando fala de João o seu primo, Jesus
apresenta-o como o maior entre os filhos dos homens, mas ainda assim e apesar
disso, o mais pequeno no Reino dos céus é maior que ele. Disparidade de
grandezas.
Quando na noite da
última ceia Jesus se levanta e coloca aos pés dos discípulos para lhes lavar os
pés, como um escravo, um humilde servo, ele mostra a inversão das hierarquias,
mostra como no acto humilde do serviço aos outros se realiza a elevação, como
os poderosos são derrubados porque estão encerrados no seu poder, na sua auto-suficiência,
porque são incapazes dessa humildade que leva ao abaixar-se para elevar o outro.
Com Jesus deitado na
manjedoura, cansado junto ao poço de Jacob pedindo água à samaritana, na última
ceia lavando os pés aos discípulos, mesmo ao que seria o traidor, aprendemos
que a verdadeira grandeza é o serviço aos irmãos, um serviço que os alimenta,
que os dessedenta, que os lava e purifica dos seus traumas e os faz
participantes de uma vida nova.
Ao colocarmos no
presépio a manjedoura, na qual deitaremos a imagem do Menino Jesus na noite de
Natal, teremos ainda a coragem de acreditar que não há maior amor que dar a
vida pelos amigos?
Ao falar de João
Baptista, Jesus diz que são os violentos que se apoderam do Reino, e mais tarde
dirá mesmo que não veio trazer a paz à terra mas a guerra, um fogo que deseja
que se expanda, que incendeie todos os homens e mulheres.
A coragem do humilde
serviço aos irmãos, de dar a vida pelos amigos, é um acto de violência,
sobretudo sobre o nosso orgulho e egoísmo. Estaremos nós dispostos a viver essa
violência, a conquistar o Reino pelos nossos braços e combates, ou apenas a
esperar passivamente que ele nos seja concedido pela misericórdia de Deus?
Se a misericórdia
implica colocar-se no lugar do outro, sentir a dor do outro, fazer-se o outro
no seu sofrimento, uma atitude passiva de espera não nos deixará viver
verdadeiramente essas realidades, não nos permitirá ser misericordiosos. Necessitamos
da violência do amor, da violência da inversão das hierarquias e dos valores,
de continuar a realizar a revolução de Jesus. O Natal desafia-nos a essa
revolução!
Ilustração:
Jesus lavando os pés
aos discípulos, Palma il Giovane, San Giovanni in Bragora, Veneza.
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