O Evangelho de hoje apresenta-nos Judas na óptica da redacção do evangelista Mateus, e fá-lo de uma forma que não podemos deixar de ter em atenção.
Assim, ao narrar a traição de Judas, ao dizer que foi ter com os príncipes dos sacerdotes para entregar Jesus por trinta moedas, o evangelista não deixa de frisar que Judas era um dos Doze, um do grupo dos discípulos de Jesus, um daqueles que tinha escolhido e chamado para andar consigo, que tinha partilhado da sua intimidade.
É desta realidade que se desenvolve a traição, mas é também desta realidade que nos podemos ver e nos podemos identificar com Judas. Como chamados por Jesus, cada um à sua maneira, no seu lugar e no seu tempo, fomos chamados com tudo aquilo que temos e somos, com os nossos costados menos bons e os outros melhores. Deus chama-nos a segui-lo na nossa condição, na nossa complexidade e totalidade, não apenas na nossa boa vida, santidade, ainda que seja para a santidade que ele nos chama e nos impele. Deus chama-nos inteiros e quer-nos inteiros para que a sua graça possa agir em nós e transformar-nos. Deus não nos quer super homens, ou super mulheres, quer-nos homens e mulheres que se querem assemelhar cada vez mais a ele.
E por essa razão, porque Deus não desiste de nos assemelhar a Ele, de nos estender a mão, mesmo quando o traímos, é que Jesus no jardim das oliveiras, quando Judas chega com a guarda para o prender, se lhe dirige chamando-o de amigo, “amigo a que vens?”
Tudo estava traçado, não havia volta atrás, mas ainda assim Jesus não desiste de estender a mão, não desiste de oferecer a Judas a sua misericórdia e o seu amor.
“Amigo…”, como é possível ainda chamá-lo de amigo?
Mas a verdade é que Jesus continuou a chamá-lo de amigo e continua a chamar-nos de amigos quando nas nossas fraquezas lhe somos infiéis e o atraiçoamos. E fá-lo porque sabe do que somos feitos, experimentou a nossa condição humana e por isso sabe como é fácil cairmos no desespero, no julgamento e na condenação de nós próprios impedindo-nos e inviabilizando-nos o caminho de regresso. É muito mais fácil permanecermos na nossa noite escura, nas nossas trevas a voltar à luz e ver aí a verdade de nós próprios e das nossas obras.
Contudo, e apesar das trevas, a luz teima em brilhar, teima em vir ao nosso encontro e por isso não podemos deixar de a acolher, porque não há nada, não há miséria maior que não possa ser resgatada por Deus, pelo mistério redentor de Jesus Cristo. Para tal necessitamos não só de uma santa dose de confiança na misericórdia de Deus mas também um reconhecimento e uma aceitação, um consentimento, dos nossos próprios limites no que concerne à fidelidade.
Necessitamos derrubar os nossos limites, as barreiras que construímos para nos protegermos e auto-justificarmos, para que Deus possa entrar, para que a sua misericórdia chegue até nós em toda a sua plenitude. Necessitamos despojar-nos de nós próprios para que Deus nasça ou ressuscite em nós.
Assim, ao narrar a traição de Judas, ao dizer que foi ter com os príncipes dos sacerdotes para entregar Jesus por trinta moedas, o evangelista não deixa de frisar que Judas era um dos Doze, um do grupo dos discípulos de Jesus, um daqueles que tinha escolhido e chamado para andar consigo, que tinha partilhado da sua intimidade.
É desta realidade que se desenvolve a traição, mas é também desta realidade que nos podemos ver e nos podemos identificar com Judas. Como chamados por Jesus, cada um à sua maneira, no seu lugar e no seu tempo, fomos chamados com tudo aquilo que temos e somos, com os nossos costados menos bons e os outros melhores. Deus chama-nos a segui-lo na nossa condição, na nossa complexidade e totalidade, não apenas na nossa boa vida, santidade, ainda que seja para a santidade que ele nos chama e nos impele. Deus chama-nos inteiros e quer-nos inteiros para que a sua graça possa agir em nós e transformar-nos. Deus não nos quer super homens, ou super mulheres, quer-nos homens e mulheres que se querem assemelhar cada vez mais a ele.
E por essa razão, porque Deus não desiste de nos assemelhar a Ele, de nos estender a mão, mesmo quando o traímos, é que Jesus no jardim das oliveiras, quando Judas chega com a guarda para o prender, se lhe dirige chamando-o de amigo, “amigo a que vens?”
Tudo estava traçado, não havia volta atrás, mas ainda assim Jesus não desiste de estender a mão, não desiste de oferecer a Judas a sua misericórdia e o seu amor.
“Amigo…”, como é possível ainda chamá-lo de amigo?
Mas a verdade é que Jesus continuou a chamá-lo de amigo e continua a chamar-nos de amigos quando nas nossas fraquezas lhe somos infiéis e o atraiçoamos. E fá-lo porque sabe do que somos feitos, experimentou a nossa condição humana e por isso sabe como é fácil cairmos no desespero, no julgamento e na condenação de nós próprios impedindo-nos e inviabilizando-nos o caminho de regresso. É muito mais fácil permanecermos na nossa noite escura, nas nossas trevas a voltar à luz e ver aí a verdade de nós próprios e das nossas obras.
Contudo, e apesar das trevas, a luz teima em brilhar, teima em vir ao nosso encontro e por isso não podemos deixar de a acolher, porque não há nada, não há miséria maior que não possa ser resgatada por Deus, pelo mistério redentor de Jesus Cristo. Para tal necessitamos não só de uma santa dose de confiança na misericórdia de Deus mas também um reconhecimento e uma aceitação, um consentimento, dos nossos próprios limites no que concerne à fidelidade.
Necessitamos derrubar os nossos limites, as barreiras que construímos para nos protegermos e auto-justificarmos, para que Deus possa entrar, para que a sua misericórdia chegue até nós em toda a sua plenitude. Necessitamos despojar-nos de nós próprios para que Deus nasça ou ressuscite em nós.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarReconforta-nos esta certeza de que Jesus nos continua a chamar de amigos, apesar das nossas contradições e dos nossos desvios à Sua fidelidade,de que a confiança na misericórdia de Deus é essencial para que Ele ressuscite em nós.
Tenha uma santa noite,
GVA
Frei José Carlos,
ResponderEliminarQue belo texto e profunda meditação sobre a traição de Judas e a nossa identificação com Judas, como Jesus nos aceita como somos, nas nossas fraquezas e complexidades ... "Deus chama-nos a segui-lo na nossa condição, na nossa complexidade e totalidade, não apenas na nossa boa vida, santidade, ainda que seja para a santidade que ele nos chama e nos impele" e ..." continua a chamar-nos de amigos quando nas nossas fraquezas lhe somos infiéis e o atraiçoamos". Mas entreabre-nos uma "janela" lembrando-nos que ..." apesar das trevas, a luz teima em brilhar, teima em vir ao nosso encontro e por isso não podemos deixar de a acolher, porque não há nada, não há miséria maior que não possa ser resgatada por Deus, pelo mistério redentor de Jesus Cristo". Deus é misericordioso, é amor, mas precisamos ser humildes para aceitarmos os ..."nossos próprios limites no que concerne à fidelidade". Bem haja. MJS
Se me permite, Frei José Carlos, vou partilhar um texto, da leitura de QUARTA-FEIRA SANTA e que constitui uma singela síntese do que partilhou connosco.
Escuta, Senhor ...
Quando ceaste com os teus amigos, Jesus,
naquela tarde de Quinta-feira Santa,
estavas de festa
e tinhas dor por dentro,
porque sabias quem Te ia entregar,
quem, fazendo-se passar por Teu amigo,
Te ia vender por umas moedas.
Mas Tu amava-Lo na mesma,
compreendias a sua fragilidade interior,
sentias tudo o que Judas estava sentindo,
e continuavas a querer-lhe incondicionalmente.
O mesmo fazes connosco, Senhor,
Tu que conheces quantas vezes falhamos,
quantas Te esquecemos,
quantas Te pomos atrás de outras coisas,
quantas pensamos que não estás porque não te sentimos ...
E Tu sempre nos perdoas, Tu ficas à nossa espera,
sempre à escuta,
sempre à espera,
sempre incondicionalmente,
contando com as falhas
que nem nós nos perdoamos.
Obrigado por Teu amor incondicional, Senhor.
(extraído de Quaresma Dia-a- Dia, 2ª. Edição, Edições Salesianas,Mari Patxi Ayerra e Álvaro Ginel, pág.244)