Parecia um dia normal, um dia como tantos outros. No templo, naquela manhã, apenas se ouviam os ruídos normais da preparação para o culto. Jesus tinha vindo até ali e sentado procurava ensinar aqueles que o queriam ouvir naquela manhã.
Sem se saber de onde uma multidão de homens irrompe pelos átrios e perturba o silêncio que ainda se respira. Apanharam uma mulher em flagrante adultério e trazem-na a Jesus para que a julgue, para que emita um juízo sobre ela e o pecado em que tinha sido apanhada.
É uma armadilha, uma armadilha bem preparada porque sabiam que ele estava ali, sabiam que podiam apanhar a mulher em flagrante e porque querem uma resposta de Jesus que o coloque em questão, que o conduza à morte, às possibilidades de morte que engendraram nos seus espíritos perversos.
Contudo Jesus, em lugar de lhes responder directamente à pergunta e à provocação, começa a escrever no chão com o dedo. Podemos pensar que Jesus queria ganhar tempo para obter uma resposta satisfatória, uma resposta a dar-lhes, ou também que não era um assunto dele e portanto distanciava-se com esse silêncio e indiferença. Afinal que tinha ele a ver com aquilo? Teria sido ele o companheiro da mulher apanhada em delito e que eles não apresentavam?
Podemos pensar que ao escrever no chão escrevia a sentença que imediatamente proferiria, como faziam os tribunos romanos em qualquer julgamento, que escreviam a sentença antes de ela ser lida em alta voz aos presentes e condenado.
A verdade é que não se sabe o que Jesus escrevia, João não nos diz, e por isso desde a antiguidade, Santo Agostinho, São Jerónimo e Santo Ambrósio, entre outros Padres da Igreja, viram neste gesto uma acção simbólica, semelhante à dos profetas, através da qual Jesus evocava àqueles homens acusadores um versículo do profeta Jeremias: “aqueles que se afastarem de mim serão escritos no pó” (Jer 17,13), ou então, que “o Senhor perscruta os corações, sonda os rins para dar a cada um segundo a sua conduta” (Jer 17,10). Jesus recorda assim àqueles homens o julgamento de Deus sobre os pecados de Israel e portanto o seu próprio julgamento.
São Tomás de Aquino faz uma leitura mais alegórica deste gesto de Jesus e assim vê nele a diferença da lei antiga com a nova lei. Enquanto que no monte Sinai Deus tinha escrito pelo seu próprio dedo os dez mandamentos nas tábuas de pedra apresentadas por Moisés, agora o filho escreve no pó com o seu próprio dedo. A pedra significava a dureza da lei, da antiga lei, o pó no qual Jesus escreve significa a suavidade e a leveza da nova lei de Jesus Cristo (São Tomás, Comentário ao Evangelho de João 1131).
Jesus ao escrever no chão pronuncia uma palavra que não é formalmente um julgamento, um juízo dele sobre eles, mas que inevitavelmente os remete para o tribunal individual da consciência, os remete para o confronto com a verdade.
Quem não tiver pecados que atire a primeira pedra, ou seja, considere-se cada um a si mesmo, entre em si mesmo, ascenda ao tribunal da sua consciência, obrigue-se a confessar, pois sabe quem é, porque nenhum dos homens sabe o que é o homem senão o espírito do homem que está nele (1 Cor 2,11).
E um a um começaram a sair, deixando a mulher apenas com Jesus. A armadilha quebrou-se e tanto a mulher como Jesus ficaram livres, ela para receber o perdão de Deus, ele para o poder dar e resgatar aquela mulher da sua condição de pecadora.
Também nós, o que há em nós de velho e viciado necessita sair para que se possa operar o perdão. Abandonemo-nos à graça e à misericórdia de Jesus.
Sem se saber de onde uma multidão de homens irrompe pelos átrios e perturba o silêncio que ainda se respira. Apanharam uma mulher em flagrante adultério e trazem-na a Jesus para que a julgue, para que emita um juízo sobre ela e o pecado em que tinha sido apanhada.
É uma armadilha, uma armadilha bem preparada porque sabiam que ele estava ali, sabiam que podiam apanhar a mulher em flagrante e porque querem uma resposta de Jesus que o coloque em questão, que o conduza à morte, às possibilidades de morte que engendraram nos seus espíritos perversos.
Contudo Jesus, em lugar de lhes responder directamente à pergunta e à provocação, começa a escrever no chão com o dedo. Podemos pensar que Jesus queria ganhar tempo para obter uma resposta satisfatória, uma resposta a dar-lhes, ou também que não era um assunto dele e portanto distanciava-se com esse silêncio e indiferença. Afinal que tinha ele a ver com aquilo? Teria sido ele o companheiro da mulher apanhada em delito e que eles não apresentavam?
Podemos pensar que ao escrever no chão escrevia a sentença que imediatamente proferiria, como faziam os tribunos romanos em qualquer julgamento, que escreviam a sentença antes de ela ser lida em alta voz aos presentes e condenado.
A verdade é que não se sabe o que Jesus escrevia, João não nos diz, e por isso desde a antiguidade, Santo Agostinho, São Jerónimo e Santo Ambrósio, entre outros Padres da Igreja, viram neste gesto uma acção simbólica, semelhante à dos profetas, através da qual Jesus evocava àqueles homens acusadores um versículo do profeta Jeremias: “aqueles que se afastarem de mim serão escritos no pó” (Jer 17,13), ou então, que “o Senhor perscruta os corações, sonda os rins para dar a cada um segundo a sua conduta” (Jer 17,10). Jesus recorda assim àqueles homens o julgamento de Deus sobre os pecados de Israel e portanto o seu próprio julgamento.
São Tomás de Aquino faz uma leitura mais alegórica deste gesto de Jesus e assim vê nele a diferença da lei antiga com a nova lei. Enquanto que no monte Sinai Deus tinha escrito pelo seu próprio dedo os dez mandamentos nas tábuas de pedra apresentadas por Moisés, agora o filho escreve no pó com o seu próprio dedo. A pedra significava a dureza da lei, da antiga lei, o pó no qual Jesus escreve significa a suavidade e a leveza da nova lei de Jesus Cristo (São Tomás, Comentário ao Evangelho de João 1131).
Jesus ao escrever no chão pronuncia uma palavra que não é formalmente um julgamento, um juízo dele sobre eles, mas que inevitavelmente os remete para o tribunal individual da consciência, os remete para o confronto com a verdade.
Quem não tiver pecados que atire a primeira pedra, ou seja, considere-se cada um a si mesmo, entre em si mesmo, ascenda ao tribunal da sua consciência, obrigue-se a confessar, pois sabe quem é, porque nenhum dos homens sabe o que é o homem senão o espírito do homem que está nele (1 Cor 2,11).
E um a um começaram a sair, deixando a mulher apenas com Jesus. A armadilha quebrou-se e tanto a mulher como Jesus ficaram livres, ela para receber o perdão de Deus, ele para o poder dar e resgatar aquela mulher da sua condição de pecadora.
Também nós, o que há em nós de velho e viciado necessita sair para que se possa operar o perdão. Abandonemo-nos à graça e à misericórdia de Jesus.
Frei José Carlos
ResponderEliminarQuando reflicto nesta armadilha feita a Jesus, levando à Sua presença, uma mulher encontrada em “flagrante adultério” para que a julgue, a reacção de Jesus escrevendo no “chão com o dedo”, considero que este gesto “pronuncia uma palavra que não é formalmente um julgamento, um juízo dele sobre eles, mas que inevitavelmente os remete para o tribunal individual da consciência, os remete para o confronto com a verdade.”
E, se me permite, citarei Ir. Eva Santos, FCM, na “Partilha” para a preparação litúrgica deste V Domingo da Quaresma: “Desde sempre esta cena do Evangelho atrai-me e fala-me de forma muito viva, muito próxima, sinto-me muito lá dentro, umas vezes como protagonista outras vezes como figurante. E desta vez também não foi excepção, cada vez mais me parece que é uma página de hoje, não é "daquele tempo", soa-me quase a uma primeira página de jornal ou abertura de noticiário em tom bombástico. Alguém "foi apanhado em flagrante", (muitas vezes continuam a ser as mulheres o centro da polémica). E logo a seguir fazem-se ouvir as vozes dos acusadores, cheias de argumentos, os círculos de opinião em que não faltam pretextos para acusar, julgar e condenar. Mas não apenas nos media, também no ambiente de trabalho, por vezes na família, e em tantos outros contextos em que as nossas vidas acontecem, surgem estes episódios de maledicência, cumplicidades malfazejas que ferem, destroem e desfiguram as pessoas. (…)
Que a nossa relação com Jesus nos capacite cada vez mais para, no meio dos conflitos, em que tantas vezes nos apetece acusar, condenar e esmagar quem nos difama, quem nos acusa injustamente, nós encontremos o jeito de escrever no chão.”
Que tenhamos a encoragem e a abertura de “nos abandonar à graça e à misericórdia de Jesus”. Bem haja por esta partilha. MJS
"Abandonemo-nos à graça e à misericórdia de Jesus."
ResponderEliminarFrei José Carlos,selecciono esta conclusão, pois só a graça pode dar a força e a coragem de que a nossa frágil condição humana necessita para se manter nas veredas da verdade. Porém não seguindo o caminho, a misericórdia de Jesus será o nosso refúgio para retemperar forças e recomeçar. Que Ele nos ajude a recomeçar sempre.
Tenha uma santa noite.
GVA