A caminho da Páscoa o momento da transfiguração, depois das tentações do deserto a manifestação da glória de Jesus, uma nova revelação da sua natureza e filiação divina.
Para nós e aos olhos humanos é uma cena extraordinária, algo verdadeiramente sublime e por isso como Pedro desejamos e desejaríamos construir três tendas para continuar a usufruir do privilégio da contemplação da glória de Deus.
Contudo, do outro lado, para os outros olhos, os de Deus e da corte celeste, de que Elias e Moisés são cidadãos, esta transfiguração é algo tão normal como banal, ou até extraordinária na medida em que acontece por momentos aquilo que para eles é uma realidade constante. Os cidadãos do céu contemplam a glória da transfiguração constantemente, participam dela e dela recebem a sua glória.
A transfiguração de Jesus é no entanto algo inquietante porque nos deixa nessa expectativa e nessa interrogação do porquê ali, só ali e só para aqueles três, Pedro, Tiago e João. Porque não se transfigurou Jesus diante dos outros discípulos? Porque não se transfigurou mais vezes? Porque não deixou que a sua glória se manifestasse mais vezes?
A ressurreição foi o outro momento da manifestação da sua glória mas a verdade é que ninguém estava lá presente, ninguém a pôde ver para a testemunhar como viram e testemunharam Pedro, Tiago e João esta transfiguração que o Evangelho de Lucas registou.
Jesus passou a sua vida com uma grande discrição, quase um anonimato de que os milagres são apenas pequenos sinais, como estrelas na noite escura, da sua natureza e poder divino. Porque foste tão discreto Senhor? Porque não te manifestastes mais gloriosamente? Certamente outros e muitos mais teriam acreditado em ti.
E aqui é que reside o problema, aqui é que está a questão, no acreditar, na fé em Jesus Cristo, porque a sua vida, a sua revelação foi um processo que deixou e deixa ao homem a possibilidade e a liberdade de acreditar.
Assumindo a nossa condição humana, revelando-se na nossa carne, o Filho de Deus não se nos quis impor, bem pelo contrário, levemente como quem chama por nós, sussurrou-nos a sua glória e deixou-nos a liberdade para o aceitarmos ou não, para o reconhecermos ou não. Deus quer a nossa fé e não a nossa subjugação, quer a nossa adesão livre e não a nossa escravatura temerosa.
Por isso mesmo Jesus nunca se impôs a ninguém e mesmo depois da ressurreição quando apareceu aos discípulos, àqueles que o tinham acompanhado, nunca se lhes manifestou de modo glorioso, apoteótico, de modo a deixá-los presos mais pelo medo que pela fé. Bem pelo contrário manifestou-se como eles o conheciam, como o tinham conhecido, caminhando à beira do mar, comendo com eles o peixe que tinham pescado.
O Jesus glorioso da ressurreição, o transfigurado pela vitória da morte aparece aos seus amigos e discípulos como humanamente sempre o haviam conhecido.
A transfiguração é assim o inverso, ou a negação da própria glória, e se por momentos Jesus se manifesta na condição da sua essência e natureza não é para assustar os discípulos, para os aprisionar na sua relação, mas para confortá-los, sustentá-los na sua fé que dentro de muito pouco tempo iria ser posta à prova.
A transfiguração é neste sentido mais um gesto de amor de Jesus, um gesto para fortalecimento da pouca fé daqueles que estavam destinados a serem as colunas da Igreja. Um gesto de amor porque se adapta e limita à condição daqueles mesmos que são testemunhas, porque como era de todos sabido, do próprio Deus que se manifesta, ninguém pode ver o rosto de Deus, a sua glória, e continuar vivo. Deus manifesta-se a Pedro, Tiago e João na medida em que lhes era possível contemplar a sua glória.
Nesta caminhada penitencial para a Páscoa a transfiguração aparece-nos assim como uma revelação da dimensão do Deus que veio e vem ao nosso encontro para nos salvar, uma dimensão humana, uma dimensão que somos capazes de suportar. E neste sentido não podemos nem devemos procurar Deus com o objectivo de nos subjugarmos, de prescindirmos de nós, de nos perdermos. Deus quer-nos livres, filhos, e sobretudo inteiros, íntegros naquilo que nos constitui como homens e mulheres de verdade. Deus não quer nem necessita de marionetas, de bonecos de sombra chineses, Deus quer e necessita de homens e mulheres que se transfiguram revelando na sua humanidade a glória divina que os habita e à qual estão destinados para toda a eternidade.
É este o caminho para a Páscoa, o mais poderá ser alienação e não o queremos viver.
Para nós e aos olhos humanos é uma cena extraordinária, algo verdadeiramente sublime e por isso como Pedro desejamos e desejaríamos construir três tendas para continuar a usufruir do privilégio da contemplação da glória de Deus.
Contudo, do outro lado, para os outros olhos, os de Deus e da corte celeste, de que Elias e Moisés são cidadãos, esta transfiguração é algo tão normal como banal, ou até extraordinária na medida em que acontece por momentos aquilo que para eles é uma realidade constante. Os cidadãos do céu contemplam a glória da transfiguração constantemente, participam dela e dela recebem a sua glória.
A transfiguração de Jesus é no entanto algo inquietante porque nos deixa nessa expectativa e nessa interrogação do porquê ali, só ali e só para aqueles três, Pedro, Tiago e João. Porque não se transfigurou Jesus diante dos outros discípulos? Porque não se transfigurou mais vezes? Porque não deixou que a sua glória se manifestasse mais vezes?
A ressurreição foi o outro momento da manifestação da sua glória mas a verdade é que ninguém estava lá presente, ninguém a pôde ver para a testemunhar como viram e testemunharam Pedro, Tiago e João esta transfiguração que o Evangelho de Lucas registou.
Jesus passou a sua vida com uma grande discrição, quase um anonimato de que os milagres são apenas pequenos sinais, como estrelas na noite escura, da sua natureza e poder divino. Porque foste tão discreto Senhor? Porque não te manifestastes mais gloriosamente? Certamente outros e muitos mais teriam acreditado em ti.
E aqui é que reside o problema, aqui é que está a questão, no acreditar, na fé em Jesus Cristo, porque a sua vida, a sua revelação foi um processo que deixou e deixa ao homem a possibilidade e a liberdade de acreditar.
Assumindo a nossa condição humana, revelando-se na nossa carne, o Filho de Deus não se nos quis impor, bem pelo contrário, levemente como quem chama por nós, sussurrou-nos a sua glória e deixou-nos a liberdade para o aceitarmos ou não, para o reconhecermos ou não. Deus quer a nossa fé e não a nossa subjugação, quer a nossa adesão livre e não a nossa escravatura temerosa.
Por isso mesmo Jesus nunca se impôs a ninguém e mesmo depois da ressurreição quando apareceu aos discípulos, àqueles que o tinham acompanhado, nunca se lhes manifestou de modo glorioso, apoteótico, de modo a deixá-los presos mais pelo medo que pela fé. Bem pelo contrário manifestou-se como eles o conheciam, como o tinham conhecido, caminhando à beira do mar, comendo com eles o peixe que tinham pescado.
O Jesus glorioso da ressurreição, o transfigurado pela vitória da morte aparece aos seus amigos e discípulos como humanamente sempre o haviam conhecido.
A transfiguração é assim o inverso, ou a negação da própria glória, e se por momentos Jesus se manifesta na condição da sua essência e natureza não é para assustar os discípulos, para os aprisionar na sua relação, mas para confortá-los, sustentá-los na sua fé que dentro de muito pouco tempo iria ser posta à prova.
A transfiguração é neste sentido mais um gesto de amor de Jesus, um gesto para fortalecimento da pouca fé daqueles que estavam destinados a serem as colunas da Igreja. Um gesto de amor porque se adapta e limita à condição daqueles mesmos que são testemunhas, porque como era de todos sabido, do próprio Deus que se manifesta, ninguém pode ver o rosto de Deus, a sua glória, e continuar vivo. Deus manifesta-se a Pedro, Tiago e João na medida em que lhes era possível contemplar a sua glória.
Nesta caminhada penitencial para a Páscoa a transfiguração aparece-nos assim como uma revelação da dimensão do Deus que veio e vem ao nosso encontro para nos salvar, uma dimensão humana, uma dimensão que somos capazes de suportar. E neste sentido não podemos nem devemos procurar Deus com o objectivo de nos subjugarmos, de prescindirmos de nós, de nos perdermos. Deus quer-nos livres, filhos, e sobretudo inteiros, íntegros naquilo que nos constitui como homens e mulheres de verdade. Deus não quer nem necessita de marionetas, de bonecos de sombra chineses, Deus quer e necessita de homens e mulheres que se transfiguram revelando na sua humanidade a glória divina que os habita e à qual estão destinados para toda a eternidade.
É este o caminho para a Páscoa, o mais poderá ser alienação e não o queremos viver.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarA nossa fé sofre abalos muitas vezes provocados por vivências menos positivas.
Assim é um privilégio ter quem nos desperte para a realidade de Deus humanizado,partilhando a fraternidade com os discípulos num gesto de amor, fortificador da fé.É igualmente consolador o apelo à nossa integridade que deve prevalecer na nossa conduta cristã.
Grata pela seu blogue,uma próxima e cómoda fonte de inspiração, ao partilhar fraternalmente o pão da palavra para mais virtuosamente seguirmos o caminho da Páscoa.
GVA
Frei José Carlos,
ResponderEliminarTinha-me interrogado sobre a forma como iria ajudar a interpretar o "momento da transfiguração". Não posso deixar de manifestar a satisfação pela interpretação maravilhosa que faz da mesma e a ligação à realidade da condição humana. É um texto para ler e reler, para guardar e partilhar como tantas vezes tem acontecido com amigos não cristãos ou que, por razões diversas, estão afastados da "prática religiosa". Não resisto, se me permite a fazer algumas das muitas frases que connosco quis partilhar. (...)"Jesus passou a sua vida com uma grande discrição, quase um anonimato de que os milagres são apenas pequenos sinais, como estrelas na noite escura, da sua natureza e poder divino. Porque foste tão discreto Senhor? Porque não te manifestastes mais gloriosamente? Certamente outros e muitos mais teriam acreditado em ti." ... "Assumindo a nossa condição humana, revelando-se na nossa carne, o Filho de Deus não se nos quis impor, bem pelo contrário, levemente como quem chama por nós, sussurrou-nos a sua glória e deixou-nos a liberdade para o aceitarmos ou não, para o reconhecermos ou não. Deus quer a nossa fé e não a nossa subjugação, quer a nossa adesão livre e não a nossa escravatura temerosa." ..."A transfiguração é neste sentido mais um gesto de amor de Jesus." ..."Nesta caminhada penitencial para a Páscoa a transfiguração aparece-nos assim como uma revelação da dimensão do Deus que veio e vem ao nosso encontro para nos salvar, uma dimensão humana, uma dimensão que somos capazes de suportar..."
Somente numa vivência de verdade e integridade, assumindo-nos plenamente como seres humanos, seremos capazes de demonstrar a fé e a alegria divina que nos habita.
Muito obrigada por mais este passo na caminhada para a Páscoa. Bem haja, Frei José Carlos. MJS