O seu nome não é
referido, como se fosse uma personagem de segundo plano, mas José está lá, no
templo de Jerusalém, junto de Maria, procurando Jesus, sofrendo pela incerteza
do sucedido. No momento do encontro uma palavra remete-o ainda mais para o
anonimato: não sabíeis que eu devia estar na casa de meu pai?
A casa de meu pai, o
templo de Jerusalém! E a casa de Nazaré? Aquelas humildes quatro paredes que o
acolhiam e lhe davam protecção, entre as quais aprendia o ofício de carpinteiro
e a fé dos patriarcas? Aquela casa que Maria alegrava com a sua ternura como o
lírio do campo alegra os vales e que ele cuidava como um templo divino, o lugar
sagrado da habitação do amor!
Podemos assumir que José
compreendeu as palavras de Jesus, a sua referência a Deus como Pai, pois Deus é
o pai amoroso de todo o povo eleito, mas também não podemos deixar de assumir
que ainda assim as palavras de Jesus foram como uma espada que lhe trespassou o
coração.
Todos criamos
expectativas, todos desejamos os filhos como propriedade nossa, como uma
realização pessoal, e afinal como Jesus para José eles são apenas um dom, um
desafio ao medo e ao amor. Quem nunca sentiu o medo da responsabilidade face à
contemplação do filho amado?
Ver crescer Jesus
junto de Maria, partilhando a intimidade do lar e aprendendo a profissão de carpinteiro,
deve ter sido uma alegria e uma fonte de acção de graças para José. No silêncio
e na humildade, nesse quase anonimato, o homem justo participa do projecto de
Deus cooperando sem pretensões, assumindo as responsabilidades com amor,
procurando ser o servo fiel que espera a vinda do seu senhor para o servir,
para lhe entregar o fruto do seu amor transfigurado pela renúncia à vontade
própria.
Nesta nossa caminhada
quaresmal o encontro de Jesus no templo entre os doutores e a resposta que dá a
Maria e a José põem de relevo o sacrifício pedido a José, a abnegação dos seus
projectos e sonhos para viver uma aventura de amor no silêncio e na humildade
do anonimato.
José na vida de Jesus
e na história da nossa salvação convida-nos a morrer para nós próprios, a
morrer na nossa vontade, para que em nós nasça e viva o Filho de Deus.
“A morte de São José”, de Bartolomeo Altomonte, Dorotheum, Viena.
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