Iniciámos ontem a
nossa caminhada quaresmal e hoje, sem quaisquer rodeios o Evangelho de São
Lucas questiona-nos sobre o sentido da nossa caminhada. Sabemos para onde
vamos? Sabemos como vamos? Sabemos o que levar?
Em poucas linhas o
Evangelho de hoje recorda-nos que a nossa caminhada tem como destino a paixão e
morte de Jesus. Caminhamos durante quarenta dias para nos prepararmos para esta
experiência, na pessoa de Jesus e na memória que fazemos, na nossa própria pessoa
quando chegar a horada nossa Páscoa.
Caminhamos descentrando-nos
de nós próprios para fazer a experiência do amor, tal como Jesus fez quando
acolheu a vontade do Pai, para mergulhar nessa torrente de amor que nos
libertará da aniquilação da morte pela ressurreição, tal como realizou com
Jesus. Caminhamos na memória do milagre do amor porque é na memória do amor que
permanecemos vivos para a eternidade.
Caminhamos de mão vazias
e estendidas, como peregrinos sem tecto nem pão, mas cheios de confiança porque
sabemos que o nosso nada não nos perderá. A ruina e a ferrugem não alcançarão o
nosso tesouro porque ele se constitui de boas obras, de palavras de ternura, de
gestos de libertação. Caminhamos na esperança do Pai que nos espera de braços
abertos para nos fazer tomar parte na sua alegria, a nós que fomos fiéis no
pouco.
Caminhamos carregando
a nossa cruz, a cruz de todos os dias com o seu peso e a sua dimensão por vezes
desproporcionada à nossa pequenez. Tropeçamos nela tantas vezes e vamos até ao
chão esmagados pela totalidade do seu poder sobre a vida que esperamos nossa e
não nos pertence. Os nossos olhos rasos de água olham o pó, o pó que somos, e os
veios da madeira que se dilatam como querendo escorrer o que nos resta de
fôlego.
Um grito ecoa, de
desespero, de solidão, “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?” E no
silêncio o amor, e depois um sussurro leve de entrega porque acolhemos o amor
da cruz, aprendemos a amá-la, “Pai nas tuas mãos entrego o meu espirito!”
O amor é o nosso
destino, o amor é o nosso caminho, o amor é o que levamos. A cruz recorda-nos
que o amor se entrega, totalmente, e nessa entrega é ressuscitado. A caminhada
da Quaresma é uma aprendizagem da crucifixão do amor que conduz à sua
ressurreição gloriosa.
“São Francisco abraçando Cristo crucificado”, de Bartolomé Esteban Murillo, Museu de Belas Artes de Sevilha.
É nessa aprendizagem de confiança e de esperança que podemos caminhar, no Amor,para a Ressurreição, através da cruz, não é verdade? Inter pars
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