A mãe dos filhos de
Zebedeu, Tiago e João, aproxima-se de Jesus para lhe fazer um pedido, que o
mestre ordene que no seu reino os seus filhos se sentem à sua direita e à sua
esquerda. Pedido motivado certamente pelo amor de mãe, mas ainda assim
surpreendente e até estranho no grupo dos discípulos de Jesus. Tendo em conta a
reacção dos outros discípulos, da sua indignação, a mãe de Tiago e João tinha
ido longe de mais no que estava a pedir.
Esta ousadia da mãe
dos filhos de Zebedeu torna-se ainda mais gritante e provocadora na medida em
que pouco antes Jesus tinha anunciado, pela terceira vez, o fim que o esperava
em Jerusalém, a sua paixão e morte, a negação e rejeição por parte de todos. Como
poderia aquela mulher estar a fazer tal pedido face ao anunciado?
O despropósito do
pedido agrava-se ainda mais se tivermos em conta tudo o que o Evangelho de São
Mateus nos apresenta previamente das palavras e encontros de Jesus. É o
encontro com o homem rico que não é capaz de se separar das suas riquezas, é a
pergunta de Pedro sobre a recompensa daqueles que como eles deixaram tudo para
seguir Jesus, e por fim é a parábola dos trabalhadores do final do dia que
recebem tanto como os da manhã, pois os últimos serão os primeiros.
Jesus já tinha vindo a
colocar as coisas no devido sítio, a apresentar a radicalidade do seguimento e
como era necessário desprender-se de muito, até do que se poderia considerar
justo, para o seguir, para ter um lugar consigo, um lugar no último lugar que é
o primeiro. Mas enquanto Jesus falava de serviço e humildade, de dom de si
próprio sem esperança de recompensa, os discípulos apenas pensavam na promoção,
nos lugares de poder e governo.
Na lógica e nos planos
de Jesus ser o primeiro significa ser o servo de todos, ser aquele que é capaz
de se desprender das coisas que lhe são mais caras e esperar confiante que a recompensa
virá, não pelo trabalho realizado, mas pela justiça do amor vivido. O importante
é o vivido verdadeiramente. E Jesus abre-nos o caminho deste processo de vida
através do seu dom total, do dom até à cruz.
Seguir Jesus é assim
partilhar com ele os nossos sofrimentos, eliminar os dos nossos irmãos, amar e
perseverar nesse amor apesar das dificuldades, é entregar a sua vida no serviço
humilde do quotidiano, muitas vezes sem qualquer agradecimento, sem qualquer
glória, escondidos como o fermento na massa. Neste silêncio o Pai mede o peso do
nosso amor e chama-nos a entrar na sua intimidade, a partilhar a glória do
mistério da encarnação.
A mãe dos filhos de Zebedeu
e todas as circunstâncias que tornam o seu pedido despropositado, infeliz,
convidam-nos a repensar a nossa oração e o que pedimos a Deus. Estaremos a
pedir o que nos convêm, ou estaremos a pedir que em nós se faça vida a vontade
de Deus? Senhor afasta de mim este cálice, contudo não se faça a minha vontade
mas a tua!
Ilustração:
“Encontro de Jesus com os filhos e mulher de Zebedeu”, de Paolo Veronese, Musée de Grenoble.
Obrigada,Frei José Carlos pela maravilhosa e bela partilha,muito profunda que gostei muito.As suas palavras são bem-vindas,para nos ajudar a refletir mais profundamente e estarmos mais unidas a Jesus nesta Quaresma.
ResponderEliminarQue o Senhor o ilumine e o proteja.
Um abraço fraterno.
AD