É diante da multidão
que Jesus fala aos seus discípulos sobre os escribas e os fariseus e a
duplicidade de vida que levam, sobre a hipocrisia do que exigem aos outros mas
se recusam a praticar e viver. É um aviso, um apelo, para que assim não
aconteça com eles.
Jesus inicia esta
série de imprecações e críticas contra os fariseus e escribas, que vai ocupar
todo o capítulo vinte e três do Evangelho de São Mateus, colocando em evidência
o exterior, as marcas externas que apenas têm como objectivo diferenciar,
demarcar-se dos outros, aparentar aquilo que se não é ou vive. São as ricas
vestimentas, as borlas e filactérias, os primeiros lugares, os títulos e
deferências que enganam o outro, a máscara do orgulho para se ser considerado
pelo que se não é.
Com os seus discípulos
tal não pode acontecer, não podem viver à custa da imagem e para a imagem, para
o que os outros podem pensar. E tal não pode acontecer porque antes de mais são
irmãos, são todos irmãos, e viver como irmãos supõe humildade e verdade, calor
humano, um espirito de serviço e sobretudo um dom de entrega muito forte.
Os irmãos que vivem
como irmãos não estão dependentes do que os outros podem pensar, vivem em
liberdade porque se conhecem e reconhecem, porque o outro é parte de si, porque
sabem que o que entregam e confiam uns aos outros é verdadeiro e irrepetível, inegociável.
E como viver como
irmãos representa um esforço, uma aplicação contínua, Jesus apresenta-se como
modelo a seguir, mostra-nos a verdadeira fraternidade em termos práticos, de
uma forma radical humilhando-se até à morte pelos seus irmãos, pelo amor de os
resgatar da morte.
Sabemos que os discípulos
não participaram deste último momento, com excepção de João e as mulheres que
acompanharam Jesus até à crucifixão, mas sabemos como foram objecto de um gesto
que os transtornou e os marcou de forma indelével neste aprender da humildade e
do serviço aos outros, de ser o maior sendo o servo de todos.
Quando o mestre se
ajoelhou diante de cada um deles para lhes lavar os pés a transformação
aconteceu, no fundo do coração aqueles homens pressentiram o que mais tarde
perceberam, que o amor não tem limites, que o amor serve na maior humildade,
que o amor se entrega totalmente.
Não era o maior de
entre eles que se humilhava, pelo contrário esse até teve alguma dificuldade em
perceber o gesto de Jesus, mas era o próprio Mestre que se inclinava e como um
servo lhes lavava os pés, até àquele que depois o traiu e entregou. Como poderiam
eles aspirar a maior glória que a glória da humildade do serviço manifestada
pelo Mestre? Como podemos nós aspirar a outras glórias?
“Jesus lavando os pés aos apóstolos”, de Palma Giovane, San Giovanni in Bragora, Veneza.
Frei José Carlos,obrigada pela maravilhosa partilha tão profunda, que nos ajuda nesta caminhada Quaresmal,para que a nossa vivência seja uma verdadeira conversão.Que o Senhor o ilumine o guarde e o proteja.
ResponderEliminarUm abraço fraterno.
AD