No regresso de uma
viagem apostólica, respondendo às questões que os jornalistas lhe colocavam, o
Papa Francisco disse: “quem sou eu para julgar?”.
O mesmo somos nós
convidados a dizer quando nos encontramos diante de um irmão que fez alguma
coisa que nos destabiliza, que nos provoca nos nossos esquemas, expectativas e
até valores. Quem sou eu para julgar o outro?
Afinal sou tão frágil
como ele, transporto em mim pulsões e traumas que também me levam a respostas e
actos absurdos, incoerentes. Se em mim há algo que desconheço e em algumas
situações me domina sem que eu queira, como vou saber o que há no coração e na
vida do outro e provocou aquele acto ou situação?
Face às nossas fragilidades,
a misericórdia a que o Senhor nos convoca e desafia é basicamente a de um
espirito de nova oportunidade. Todos temos direito a uma nova oportunidade, e
por isso Jesus diz que se um irmão nos vier pedir perdão sete vezes temos que
estar dispostos a perdoar setenta vezes.
É esta disponibilidade
que também experimentamos na misericórdia divina, pois apesar dos nossos
pecados e infidelidades Deus permanece fiel e disposto a perdoar. No Senhor
está o perdão e a misericórdia, e como conhece o nosso coração, como conhece o
mais opaco de nós próprios, não pode deixar de se compadecer e perdoar.
Esta natureza e
inevitabilidade de Deus não podem contudo deixar-nos à vontade, na medida em
que o perdão e a misericórdia divina exigem um eco da nossa parte, uma
cooperação se assim se pode dizer, e que se traduz no perdão e no acolhimento
dos nossos irmãos que falham e nos ofendem.
Como diz Jesus, não julgar,
não condenar, perdoar, é estender a mão à misericórdia e ao perdão de Deus, é
introduzi-los na nossa vida através da experiência realizada. Só quem perdoa e
se compadece pode perceber e sentir o perdão de Deus e a sua misericórdia.
A medida que usarmos
será a medida usada connosco, e por isso a largueza de acolhimento e
compreensão, a misericórdia entregue será retribuída de forma múltipla e
abundante. Porque fomos fiéis no pouco, que é a nossa condição humana frágil e
pecadora, ser-nos-á confiado o cêntuplo nesta vida e na glória eterna.
Procuremos pois viver
neste espirito, assumindo sem preconceitos, mas com amor, um amor profundo e
divino, as palavras de Jesus na cruz: “perdoa-lhes Pai pois não sabem o que
fazem”.
“A Crucifixão”, de Philippe de Champaigne, Museu do Louvre.
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