Sede perfeitos como o
vosso Pai celeste é perfeito é a recomendação que Jesus deixa aos discípulos, a
cada um de nós em particular, na sua circunstância de vida.
Recomendação que à
primeira vista nos parece exagerada, pois sabemos que frequentemente fazemos as
coisas de modo imperfeito, atabalhoado, sem pensarmos muito. A sabedoria
popular diz mesmo que a pressa é inimiga da perfeição, e fazemos tanta coisa à
pressa.
Recomendação que assumida
de forma irreflectida nos pode conduzir a um perfeccionismo, a um exagero em
que o centro está em nós, ou em que apenas nos interessa o seu alcance,
desprezando tudo o mais. A perfeição é um fétiche que nos satisfaz, que
exclusivamente nos orienta e conduz.
E contudo a
recomendação permanece, apesar dos perigos e desvios, como algo a que não nos
podemos subtrair. A perfeição é o nosso fim, e é-o inevitavelmente, na medida
em que o nosso fim é Deus, a suma perfeição.
Deste modo, temos que
olhar com atenção para a perfeição que nos é exigida e oferecida, pois devemos
ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito. A perfeição do Pai joga-se no
amor, na misericórdia, nessa capacidade de fazer chover sobe justos e injustos,
de amar mesmo aqueles que não o amam ou até o desprezam e negam.
A perfeição que nos é
pedida é assim a da liberalidade, a da capacidade de nos descentrarmos de nós
próprios para olhar e estar com os outros, para os compreender e aceitar, para
os acolher com todas as suas falhas e misérias. A perfeição que nos é pedida é
a do amor sem medida e sem contrapartidas, a da nossa humildade face aos
desaires dos outros porque não somos melhores que eles.
A perfeição é assim
fazer algo de extraordinário com o nosso amor, com o acolhimento que o outro
nos solicita à semelhança de Deus que se apresenta para ser acolhido e amado.
“A conversão de Maria Madalena”, de Paolo Veronese, National Gallery, Londres
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