O Evangelho de São
Mateus informa-nos que a parábola dos vinhateiros homicidas se dirige aos príncipes
dos sacerdotes e aos anciãos do povo, que eles perceberam bem a mensagem e só
não prenderam Jesus porque tiveram medo do povo.
Na parábola está
entendida a história da revelação, os profetas que Deus tinha enviado e não
tinham sido escutados, que tinham sido assassinados, mas está também e de forma
profética a realidade que se perfila no horizonte para Jesus, o filho e
herdeiro enviado numa última tentativa de colecta dos frutos.
Assim, face a esta
primeira leitura, podemos assumir que a parábola pouco tem a dizer-nos,
fala-nos de acontecimentos do passado, dirige-se a destinatários concretos que
somos capazes de identificar e não somos nós. Mas será bem assim?
Sãos os príncipes dos
sacerdotes e os anciãos do povo, surpreendentemente, que nos colocam em jogo,
ao dizerem que o dono entregará a sua vinha querida a outros vinhateiros que
lhe entreguem os frutos a devido tempo. Nós sabemos que somos nós, que a pedra rejeitada
por aqueles homens, e que é o Filho, se tornou para nós pedra angular.
Cumpre-nos assim
perguntar como estamos a cuidar a vinha, que frutos dispomos para entregar, mas
também como estamos a acolher os servos que o dono da vinha nos envia hoje para
receber esses frutos? Porque o Senhor continua a mandar os seus servos.
A vinha nova, cuidada
e murada que nos foi confiada, é a vinha da graça divina, da filiação divina
alcançada por Jesus Cristo. Os frutos que somos chamados a apresentar são os
frutos do Espirito Santo, a caridade, a alegria, a paz, a paciência, a benignidade,
a bondade, a longanimidade, a mansidão, a fé, a modéstia, a continência e a
castidade.
Os nossos irmãos,
homens e mulheres que se cruzam connosco todos os dias na intimidade da família,
nos postos de trabalho, no anonimato da rua, são os servos que o Senhor continua
a enviar para que possam recolher os frutos da sua vinha. O dono da vinha não
vem por si próprio recolher os frutos, mas envia os seus servos, os homens e
mulheres.
Que amor lhes
retribuo? Que alegria lhes partilho? Que paz lhes concedo? Como os acolho com
paciência? Como sou capaz de perdoar a falta cometida? Que tempo lhes concedo
para mudarem? Como lhes testemunho a minha fé? Como as minhas atitudes e modos
de ser os provocam? Que castidade desenvolvemos nas relações que estabelecemos?
Os servos do Senhor
continuam a vir bater à porta, a procurar os frutos devidos, que tenho eu para
lhes dar, sabendo que cada um deles é tão proprietário da vinha como eu pela
morte do Filho que nos fez herdeiros.
“Parábola dos vinhateiros homicidas”, de Andrey Mironov, 2013.
Os Evangelhos destas semanas da Quaresmas são intensos e indicam-nos o caminho a seguir. Às vezes pela negativa, como no caso dos vinhateiros ingratos ou do pedido despropositado da mãe dos filhos de Zebedeu. Mas depois a lição: necessidade de disponibilidade, de desprendimento,de partilha, de amor. Obrigado por nos chamar a atenção para a necessidade de estarmos atentos e responder com generosidade e humildade aos dons de Deus.Inter pars.
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