Para o paralítico
curado por Jesus uma vida nova começava. Tudo agora seria diferente. Para Jesus
também uma nova fase da sua vida se inicia, pois o milagre realizado fornece
motivos a todos aqueles que o queriam ver morto, que queriam ver-se livre dele,
para agirem de forma mais organizada e sistemática. E tudo isto porque o
milagre foi realizado a um sábado, dia sagrado de descanso, dia em que estava proibido
trabalhar.
Este facto, esta
transgressão de Jesus do preceito sabático, vai dar origem a uma discussão, a
um debate teológico entre Jesus e aqueles que se lhe opunham, que o criticavam.
Neste debate Jesus começa por afirmar que o Pai trabalha sempre,
incessantemente, e ele próprio também trabalha todo o tempo. Afirmação escandalosa,
provocatória, pois coloca em causa o sábado enquanto dia sagrado de descanso e
afirma uma filiação divina impossível de aceitar.
A afirmação de Jesus
revela contudo a acção permanente de Deus Pai na história e na vida de cada
homem, uma acção vivificante, iluminadora, uma acção sempre renovada em cada
dia e em cada momento. Deus trabalha pela salvação dos homens, dá-lhes a vida e
oferece-lhes a ressurreição.
E Jesus trabalha
juntamente com o Pai, pois o Pai age por Jesus, nas suas obras e palavras, na
sua vida transformadora da vida de todos os homens, no cumprimento da vontade
salvadora. E é desta intimidade e unidade de acção que provém todo o poder das
obras de Jesus.
O evangelista São João
regista nesta discussão de Jesus com os judeus, de forma paradigmática, a
filiação divina, a divindade de Jesus, precisando que é esta afirmação da filiação
o motivo porque Jesus será conduzido à morte.
Ao declarar que Deus
era seu Pai e que trabalhava em união com ele, Jesus faz-se igual a Deus,
assume a sua natureza, e isso é intolerável para aqueles que o escutavam e
aceitavam Deus escondido no santo dos santos, mas não mais que isso. Outra presença
real, possível de manifestação aos sentidos era impossível.
Face a esta discussão,
e ao fim a que levou, temos que agradecer a Deus a felicidade e a honra de
sermos convidados a viver como filhos e de acolher a partir de Jesus a vida
divina do Pai. Neste acolhimento fazemos a experiência do trabalho do Pai, a
sua acção na nossa vida, acolhendo-a e transfigurando-a apesar das nossas infidelidades
e faltas.
Deus não deixa de
trabalhar incessantemente para nos conformar à sua imagem, para nos fazer
regressar à natureza gloriosa com que nos criou. Saibamos nós acolher esse
trabalho com humildade procurando viver a vontade de Deus Pai na nossa vida.
“Jesus e a mulher adúltera”, atribuído a Tintoretto, Academia de Veneza.
"Deus trabalha incessantemente para nos conformar à Sua imagem..." Podemo-nos perguntar: Correspondemos a esse trabalho? Qual a semelhança com Deus que já conseguimos? Inter pars
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