terça-feira, 24 de outubro de 2017

De mãos postas

Fomos ensinados assim e nunca parámos para pensar a razão de ser.
Foi com as nossas mães ou avós, com os nossos catequistas, que aprendemos que para rezar devíamos juntar as mãos. Aprendemos, e mecanicamente continuamos assim a rezar, a juntar as mãos para elevar as nossas preces a Deus.
Esta atitude, esta postura, tem no entanto um significado profundo, tem raízes antigas, pois já o Talmude nos refere que os judeus utilizavam esta forma física para se recolher e elevar o seu pensamento a Deus.
No mundo romano esta atitude de juntar as mãos era um sinal de submissão, e por isso quando um soldado capturado e condenado à morte juntava as mãos apresentava a sua rendição, a sua submissão àquele que o tinha derrotado.
Este gesto foi assumido na época medieval como manifestação de lealdade e homenagem, de preito ao senhor ou superior. Manifestava igualmente uma submissão, mas uma submissão assumida numa espécie de cooperação com aquele que podia garantir a segurança e subsistência daquele que se submetia.
Ainda hoje, e na liturgia da ordenação presbiteral, o que vai ser ordenado coloca as suas mãos entre as mãos do bispo ordenante e promete-lhe obediência. Há uma submissão numa missão de cooperação.
Desta forma, quando ainda hoje unimos as nossas mãos para rezar estamos a assumir uma submissão, uma submissão a Deus, mas igualmente a assumir a nossa cooperação com a obra de Deus, a manifestar de forma gestual as palavras do Pai Nosso “venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade”.
E porque a nossa oração se faz por Jesus, nosso advogado junto do Pai, ao juntarmos as mãos cruzamos os polegares, para que a cruz da nossa redenção esteja sempre diante dos nossos olhos, presente no sentido da nossa oração.
Que o Senhor nos ajude a cuidar dos gestos da nossa oração, a interiorizá-los de forma consciente, pois também o nosso corpo reza quando o Espirito gera em nós a oração que nos brota nos lábios.

 
Ilustração:
“Mãos em Oração”, desenho aguarelado de Albrecht Durer, in Albertina, Viena.