quinta-feira, 31 de julho de 2014

Pausa para ouvir o vento

 
A pausa estival pode ser um momento de reflexão e de escuta do Espirito, um momento para sentir de onde vem o vento e onde ele sopra. Que o Senhor nos dê corações abertos e ouvidos para escutar!
Katell Berthelot,

Ilustração: Troço medieval do Mosteiro de São Domingos em Caleruega.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

O preço da vida

 
Feitas todas as contas, nunca a vida valerá alguma coisa. Ela está para além do preço e do desprezo, uma vez que ela é o fundamento de todos os valores. Para a julgar definitivamente, é necessário situar-se fora dela. E é por essa razão que aquele que a julga, a menos que seja a Vida em pessoa, está já morto.
Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte, 153.
 
Ilustração: Tons castanhos e dourados outonais no Jardim de Serralves.

terça-feira, 29 de julho de 2014

O valor da vida

 
Todo o discurso sobre o “valor” da vida é sem qualquer dificuldade niilista, mesmo quando se conclui em favor dela. O que “vale”, vale “tanto”. Esta quantidade ou esta qualidade mede-se a partir dum critério exterior ou duma equivalência universal. A vida deverá então valer por outra coisa que não ela própria. Mas que é essa outra coisa para além da vida, senão a morte ou o nada? E que será a sua indexação numa gelha tarifária senão a destruição da sua individualidade? Esta avaliação geral, mesmo positiva, corresponderia à destruição da sua singularidade em cada um.
Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte, 153.
 
Ilustração: Bagas vermelhas de arbusto do Jardim de Serralves.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ser tocado pelo horror

 
Para ser tocado pelo horror do mundo é necessário previamente ter vislumbrado a sua beleza.
 
Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte, 150.

Ilustração: Pintura nas abóbadas da Catedral de Lamego.

domingo, 27 de julho de 2014

Homilia do XVII Domingo do Tempo Comum

Terminada a leitura do Evangelho temos que assumir que a palavra tesouro suscitou em nós, em cada um de nós, uma panóplia de imagens e recordações. Todos temos um tesouro, maior ou menor, mais valioso ou menos valioso, umas vezes exposto para admiração de todos, outras vezes escondido para que não nos seja roubado.
Tal como no conto do Ali Babá e dos quarenta ladrões, todos temos a nossa caverna do tesouro, que tanto pode ser o cofre no qual se guardam as jóias de família, como a caixa velha de sapatos na qual se guardam os cromos de jogadores que coleccionámos no último mundial de futebol.
O tesouro fascina-nos, tal como fascinou aquele homem que trabalhava o campo e foi vender tudo quanto possuía para adquirir o terreno no qual o tesouro se encontrava escondido. Atitude em certa medida insensata, e ainda mais para o negociante de pérolas, uma vez que se desfaz de tudo quanto tem para ficar com algo que não poderá usar, de que não se poderá servir ou tirar qualquer benefício material.
Para o bem e para o mal, o tesouro tem este magnetismo, tem esta capacidade de nos fazer perder a cabeça, de nos tornar loucos, uma vez que face ao tesouro tudo perde valor, tudo passa a ser relativo. Por definição o tesouro não tem preço e por isso, para possuir o tesouro, é necessário renunciar a muitos outros bens, deixar outras coisas para trás, perder o que já se tem. O tesouro exige opções radicais.
O tesouro e a pérola que um e outro homem encontram, e pelos quais se desfazem de tudo o que possuem, coloca em evidência uma outra realidade, uma realidade que nos atinge no nosso dia a dia e no nosso caminhar na fé. O tesouro que Deus nos oferece do Reino encontra-se já na nossa vida, no nosso campo, ele precede-nos e de certa maneira espera-nos, aguarda que o saibamos encontrar.
O Reino de Deus não se encontra assim escondido em qualquer lugar mágico ou sagrado, mas bem pelo contrário encontra-se escondido no coração do nosso dia a dia, da nossa vida quotidiana. É no mundo do trabalho, no mundo da família, no mundo das relações de amizade, no nosso existir quotidiano que se encontra o tesouro do Reino.
Contudo, e face ao preço do tesouro, inacessível a cada um de nós, para o encontrarmos temos que comprar o campo, temos que nos desfazer de tudo aquilo que nos impossibilita de aceder ao tesouro, temos que nos empobrecer para sermos enriquecidos. A descoberta do tesouro exige de nós rupturas, cortes com aquelas realidades que inviabilizam o seu acesso, um compromisso total. Aceder ao tesouro exige ser dono do campo.
Neste sentido não podemos deixar de fazer a Deus o mesmo pedido que fez o rei Salomão, ou seja que nos conceda o dom da sabedoria, pois só com esse dom podemos de facto discernir o que nos impede de chegar ao tesouro, de encontrar os meios para ultrapassar essas barreiras e apreciar com todo o gosto o valor do tesouro que nos é oferecido e aplicar os esforços necessários para adquirir o campo.
É esta sabedoria que nos ilumina também no processo de ascensão e identificação com o dono do campo e do tesouro, uma vez que na medida em que nos vamos desprendendo dos bens que temos para possuir o tesouro vamos passando de servos a amigos e de amigos a herdeiros do senhor e proprietário do campo e do tesouro.
Peçamos por isso ao Senhor que a nossa herança, o nosso tesouro, seja cumprir as suas palavras, amar os seus mandamentos, pois valem mais que milhões em ouro e prata.

 
Ilustração: “O Tesouro escondido”, gravura de Millais, na Tate Britain.

As alegrias da vida

 
As alegrias na minha vida não são da minha vida, como se as tivesse sacado do meu próprio terreno. Elas procedem duma fonte mais alta e é por isso que elas tendem sempre a dilatar-se numa alegria mais vasta e mais expandida.
Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte, 140.

Ilustração: Azáleas do jardim da casa dos meus pais.

sábado, 26 de julho de 2014

Entrar na alegria

 
Entrar na Lei, quer dizer na Alegria, é antes de mais reconhecer que não o podemos por nós próprios, e que é previamente necessário sofrer o Outro até ao excesso.
Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte, 139.

Ilustração: Azáleas do jardim da casa dos meus pais.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Sobre o desprezo da vida

 
Ao desprezar o ser e a vida testemunhamos contra nós próprios e contra os próprios sentimentos, e se nos desgostamos com a vida misturada com a morte, é esta mistura que é odiosa, e não a vida verdadeira.
Plotino, in Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte, 151.
 
Ilustração: Lago gelado no jardim das Eaux-Vives em Genebra.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

O desespero necessita da esperança

 
O desespero psicológico pressupõe uma ontológica esperança. Desesperar não é tão atroz como isso se não nos arrancar continuamente do coração uma esperança que sem cessar teima em renascer. Morta esta esperança nada mais para há para desesperar. A esperança é necessariamente o fundo e o terreno do desespero.
Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte, 150.

Ilustração: Figura da Esperança na cúpula da igreja da Abadia de Sainta Gallen.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Investigar Deus

 
Sou uma investigadora de Deus. Não o encontrei e tanto melhor, porque assim continuo a questionar-me!
Jacqueline Kelen,

Ilustração: Tons de Outono nos Jardins de Serralves.

terça-feira, 22 de julho de 2014

A memória que nos constitui

 
Memória histórica, memória das origens: cada cultura possui as suas, como um património imaterial que determina a sua identidade e a de cada um dos indivíduos, passados, presentes e futuros, que a compõem.
Ysé Tardan Masquelier,

Ilustração: Aspecto da galeria superior da biblioteca do Convento de Mafra.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O que a nudez revela

 
O que a nudez revela é um corpo sexuado, um corpo objecto dum desejo totalmente animal, e sujeito por isso, uma vez que não somos bestas, à vergonha.
André Comte-Sponville,

Ilustração: Estátua do Rapto de Prosérpina nos jardins do palácio de Queluz.

domingo, 20 de julho de 2014

Força da alma

 
Uma das maiores forças da alma religiosa é o silêncio.
Emmanuel D’Alzon

Ilustração: Jardim coberto de neve em Vernier, Suíça.

sábado, 19 de julho de 2014

Querer ser igual

 
Quero parecer-me com o que ela é. Inspirar-me na sua capacidade de amar, na sua atenção aos outros, na sua simplicidade, no seu bom humor, no seu cuidado face aos pequenos gestos do quotidiano, e também na sua piedade. Nesta maneira que ela tem de amar o que faz antes de procurar fazer o que ama.
Anne-Daphine Julliand,

Ilustração: Imagem da Virgem Maria na esplanada do Santuário de Lourdes.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Mudar de vida

 
O dia em que decidi mudar de vida, comecei a amar-me!
Geneviève de Taisne

Ilustração: Recanto junto à pérgola do Jardim de Serralves no Outono.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Deus chama para partir

 
Deus chama-nos por vezes a grandes partidas, a deixar uma actividade profissional, um lugar de vida, uma região onde tínhamos feito o nosso ninho. A fé é confiança nos projectos de Deus, na sua louca criatividade, frequentemente distante da sabedoria dos homens, mas tecida para nós com audácia e paciência.
Katell Berthelot,

Ilustração: Auto-estrada no País Basco me Outubro de 2013.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O nosso Deus é um Deus vivo

 
Um ídolo é mudo, não fala, enquanto Deus é um Deus vivo, é um Deus que me fala. A palavra de Deus desceu no contexto da história.
Karima Berger,

Ilustração: Mosaico do Mistério do Nascimento na Basílica do Rosário em Lourdes.

terça-feira, 15 de julho de 2014

A atitude diante de Deus

 
É um gesto espontâneo, quase primitivo. Quando estamos diante do nosso Deus, humilhamo-nos no sentido mais nobre do termo, no sentido de nos abandonarmos. Eu, diante de Deus, não estou numa atitude viril, fálica, triunfante, mas de recolhimento, de acolhimento, de prosternação, para que ele venha até mim.
Karima Berger,

Ilustração: Rosa dos jardins de Ávila.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Não vim trazer a paz mas a espada! (Mt 10,34)

Em cada celebração da Eucaristia, quando nos preparamos para receber o Corpo do Senhor, somos convidados à paz, a partilhar a paz de Cristo com os nossos irmãos.
Face a este convite é inevitável que fiquemos perplexos, até de certo modo perturbados, quando ouvimos Jesus dizer que não veio trazer a paz mas a espada.
De que modo nos podemos situar face a estas palavras? Que paz afinal nos traz Jesus e que paz somos convidados a partilhar?
Para compreender estas palavras de Jesus não podemos perder o contexto do texto evangélico, não podemos perder de vista que esta afirmação aparece no seguimento das perseguições que Jesus anuncia aos seus discípulos.
E não podemos perder de vista também uma outra frase de Jesus, uma outra expressão extremamente similar e que se encontra no mesmo Evangelho de São Mateus. Quase logo no início da sua vida pública Jesus diz que não veio revogar a Lei ou os profetas, mas levá-los à perfeição.
Jesus apresenta-se desde o primeiro momento como alguém que não é um revolucionário, mas como alguém que visa a perfeição, a plenitude, que vive e convida a viver de forma radical as diversas realidades que se nos apresentam.
Assim, se a Lei e os profetas são levados à perfeição por Jesus, a espada a que ele se refere representa a radicalidade do seguimento, uma radicalidade que implica dor e sofrimento, mas igualmente a paz da fidelidade, a consciência de se saber fiel até ao fim, combatente do bom combate.
Quem se coloca no seguimento dos passos de Jesus não pode esperar a paz do mundo, a paz das conciliações, porque o seguimento representa uma luta, um combate constante no discernimento de uma resposta fiel e verdadeira.
Contudo, para aquele que perseverar no gume da espada, no campo do combate, espera-o a paz da vitória, a paz do testemunho do Filho diante do Pai. Aquele que arriscar perder a vida tem a garantia que a encontrará!

 
Ilustração: “Jesus expulsando os vendilhões do templo”, de Antoine Jean-Baptiste Thomas, igreja Saint Roche de Paris.

Do que ter medo

 
Não tenho medo de Deus, tenho medo de não o honrar, de não ser suficientemente bela interiormente, suficientemente disposta a acolhê-lo. Deus não é um ídolo…
Karima Berger,

Ilustração: Orquídeas da casa dos meus pais.

domingo, 13 de julho de 2014

Homilia do XV Domingo do Tempo Comum

O Evangelho de São Mateus que acabámos de escutar apresentava-nos a parábola do semeador, uma parábola cujo sentido Jesus explicou aos discípulos em privado quando estes o questionaram sobre o porquê da utilização das parábolas.
Assim sendo, poderíamos dizer que não havia nenhuma necessidade de uma homília neste domingo, pois que podemos nós acrescentar à explicação que o próprio Jesus dá das palavras que utilizou?
Contudo, não podemos ser tão simplistas, porque a explicação da parábola nasce de uma constatação extremamente importante para os discípulos e que nos desafia ainda hoje no modo como anunciamos a Palavra de Deus.
De facto, quando os discípulos interrogam Jesus sobre a utilização das parábolas, o que está em causa, o que está subjacente à questão, são os fracos resultados da pregação de Jesus. Para os discípulos a estratégia e o método usados por Jesus estavam a necessitar de uma revisão, pois não estavam a produzir novos adeptos.
Nesta sentido, a parábola do semeador questiona-nos também a nós como Igreja, e a cada um de nós pessoalmente como enviado por Deus, sobre os fracos resultados das nossas missões, da nossa evangelização, das nossas actividades pastorais. Não estaremos nós a necessitar de uma revisão ou reforma da estratégia e metodologia de anúncio do Evangelho?
Tendo presente o desafio do Concílio Vaticano II, de não deixarmos de estar atentos aos sinais dos tempos, esta revisão é necessária e permanente, pois o mundo em que nos situamos e a Igreja é chamada a estar presente está em constante mudança.
Contudo, nesta adequação aos tempos e desafios não podemos perder de vista o que a parábola do semeador nos ensina, o que nos deixa como eixo central de toda e qualquer actividade, porque afinal é dessa forma que Deus actua na história e foi dessa forma que Jesus nos mostrou que deve ser toda a nossa actividade missionária e pastoral.
A parábola diz-nos que o semeador saiu a semear, confiante e esperançado de uma boa colheita, e nessa confiança não olhou aos terrenos nos quais lançou a semente, bem pelo contrário foi generoso, livre, não teve qualquer preconceito face aos terrenos que encontrou, mesmo perante aqueles que aos olhos humanos estariam excluídos de qualquer sementeira.
Esta liberdade e generosidade apresentam-se-nos como um grande desafio, uma vez que tão frequentemente excluímos terrenos, áreas de intervenção, irmãos nossos, em que não apostamos, em que não temos a ousadia de lançar a Palavra de Deus.
Tal falta de coragem e liberalidade denuncia por outro lado a falta de confiança que temos na Palavra, na sua eficácia, que tal como nos dizia o profeta Isaías na primeira leitura não volta para o seu céu sem cumprir a sua missão. Se arriscarmos sair a semear certamente algum fruto há-de aparecer.
Outro dado importante que deriva da parábola do semeador é o da qualidade do terreno, das condições do terreno no qual a semente é lançada, e que surpreendentemente pode ser alterado, assim haja vontade e disposição para isso.
Esta possibilidade de mudança de terreno é apresentada por Jesus quando faz referência às atitudes dos seus ouvintes, ouvintes que endureceram o seu coração para que não sejam convertidos e sejam curados, ou seja, para que possam dar uma boa colheita.
O semeador sai a semear e fá-lo generosamente, mas espera que da parte do terreno no qual a semente cai haja um acolhimento, uma abertura a que a semente germine, colha raízes, cresça e frutifique. A sementeira da Palavra exige assim a livre colaboração daquele que recebe a semente, exige a colaboração na obra da graça que Deus opera em cada um de nós.
Colaboração, acolhimento e processo de crescimento, que como nos diz São Paulo na Carta aos Romanos não está isenta de sofrimento, à semelhança dos processos de gestação e maternidade. Contudo, quanta alegria se experimenta quando se alcançam os frutos do sacrifício, quando se vê o filho nascido, a obra terminada, o prémio da glória alcançado.
Todo o atleta se sujeita a sacrifícios para alcançar os melhores resultados, ainda que sem garantia nenhuma de os alcançar. Como não sujeitar-nos aos sacríficos que conduzam aos bons frutos, quando temos a garantia da sementeira generosa que Deus opera em nós?
Que a celebração desta Eucaristia e os desafios que a Palavra de Deus nos coloca nos disponha à generosidade nas nossas acções e à confiança nos bons resultados.

 
Ilustração: “O Semeador”, de Ivan Grohar-Sejalec, Galeria Nacional da Eslovénia.   

Exigência de fidelidade geracional

 
Toda a transmissão geracional deve responder ao imperativo de conservar uma herança comunitária constituída em narração fundadora. É submetendo-se a uma exigência de fidelidade ininterrupta que cada geração comunga nas experiências vividas por aqueles que os precederam.
Ysé Tardan-Masquelier,
 
Ilustração: Biblioteca do Convento de Mafra.

sábado, 12 de julho de 2014

A criança que reza

 
Nada é tão belo como uma criança que adormece a fazer a sua oração, diz Deus.
Charles Péguy, Le Mystère des Saints Innocents
 
Ilustração: Presépio de madeira com vela acesa no Natal de 2013.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Preferências por defeitos

 
Prefiro um santo que tenha defeitos a um pecador que os não tenha.
Charles Péguy, Le Mystère des saints Innocents

Ilustração: Escultura de São Bento no pórtico da Basílica de Mafra.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Um mau pensamento

 
Há uma coisa pior que ter um mau pensamento, que é ter um pensamento acabado.
Charles Péguy, Note conjointe sur M. Descartes

Ilustração: Colunas da pérgola do Jardim de Serralves.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A Bíblia fala de nós

 
A humanidade, aquela que nós conhecemos, começa pela lei que ela viola mas sem a abolir, pela animalidade colocada à distância, pelo desejo tanto mais perturbador quanto a perda da sua inocência. Felix culpa! Sem o interdito, que saberíamos nós da liberdade? Sem a transgressão, que saberíamos nós do erotismo? Leia-mos a Bíblia: é de nós que ela fala.
André Comte-Sponville,

Ilustração: Lago do Jardim de Serralves.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Ler a Bíblia como ateu

 
Ler a Bíblia, para o ateu que sou, não é tomar conhecimento das novidades de Deus (podemos supô-las boas, se ele existe) mas reflectir com um ensinamento sobre o homem.
André Comte-Sponville,

Ilustração: Praticante de parapente com motor.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O homem bom

 
Que o homem seja capaz do bem, ninguém duvida. Mas que ele seja essencialmente bom, quem pode acreditar? Acontece que quando assumo este tipo de proposições me julgam pessimista. Mas o Génesis dá-me razão, assim como Pascal ou Kant, e isso interessa-me antes de mais.
André Comte-Sponville

Ilustração: Escultura em bronze de Ajax transportando o corpo morto de Aquiles no Museu de História e Arte de Genebra.

domingo, 6 de julho de 2014

Homilia do XIV Domingo do Tempo Comum


O que a oração provoca

 
A quebra de gelo que a oração provoca não é nada mais que a intensificação do desejo no meio do desastre. A Páscoa é de uma ironia semelhante, pois o machado divino abre um caminho pelo meio do mar Vermelho, mas este caminho desemboca numa quarentena de anos de voltas pelas areias do deserto.
Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte, 135.

Ilustração: Grupo de alunos Maristas de Lisboa a caminho de Fátima a pé.

sábado, 5 de julho de 2014

A perda do paraíso

 
O homem deixou o paraíso terrestre não por uma saída do corpo, com as suas pernas, mas por um desdizer-se da alma, com o seu orgulho.
Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte, 136.

Ilustração: Degraus de um caminho no Jardim de Serralves.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

A paz que vem

 
Que a paz do teu reino venha, porque nós não podemos chegar a ela por nós próprios, apesar de todos os nossos esforços, se ela não vem até nós.
Dante, Purgatório, XI, 7-9.

Ilustração: Rosa do jardim da casa dos meus pais.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A oração pede entrada

 
A oração é semelhante ao machado. Ela quer quebrar o gelo. Ela corresponde exactamente à palavra umbral, pedindo uma entrada que escapa ao nosso poder. É a campainha sobre a qual carregamos uma e outra vez. São os golpes repetidos na porta fechada, ou que abrem para uma outra porta, degrau a degrau.
Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte, 134.

Ilustração: Passagem para escada do Palácio de Versalhes

quarta-feira, 2 de julho de 2014

A fé da vida

 
Não podemos dizer que a fé nos falta. Por si só, o simples facto de vivermos está dotado dum valor de fé inesgotável.
Franz Kafka, “Préparatifs de noces à la champagne”, 65.

Ilustração: grupo de alunos Maristas num momento de paragem na Peregrinação a Pé a Fátima.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Esforços para a salvação

 
Vãos são todos os esforços do homem para se salvar a si próprio. Mas vã é também a tentativa de viver sem se inquietar com a sua salvação.
Fabrice Hadjadj, Le paradis à la porte, 133.

Ilustração: Pórtico da Plaza de Platerias da Catedral de Santiago de Compostela.