segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Padre Émile-Alphonse Langlais, Mestre de Mestres em Lisboa

Era nosso desejo dar uma informação mais detalhada sobre este dominicano, uma vez que por duas vezes passou por Portugal no ano de 1949, primeiro em Março e posteriormente em Julho, e depois porque foi Mestre da Escola de Mestres de Noviços e Estudantes que a Ordem teve no Convento de Santa Sabina em Roma.
Contudo, depois de umas quantas tentativas frustradas, quer em dicionários e enciclopédias quer no ciberespaço, pouco mais ficámos a saber do que já sabíamos, ou seja, que à data da sua passagem por Lisboa era o primeiro responsável da Escola dos Mestres, que tinha sido Prior Provincial do Canadá e que escreveu um livro dirigido aos Padres Mestres editado em Paris em 1959. Que por qualquer desígnio divino me foi oferecido o outro dia por um amigo na sua edição primitiva.
As suas passagens por Lisboa ficam a dever-se à relação com o Padre Gaudrault, uma relação pessoal muito intensa, pois foi nas suas mãos que o padre Gaudrault fez a primeira profissão a 1 de Fevereiro de 1915, quando por razões de saúde tinha vários superiores contra essa mesma profissão religiosa.
Podemos imaginar e aceitar que estas passagens por Lisboa serviram também para dar alguma informação e formação sobre os requisitos necessários para a selecção de uma casa para noviciado e sobre aquele que deveria assumir a função formativa dos primeiros noviços. Contudo, e por agora, nenhuma documentação pode confirmar esta suposição e possibilidade.
O Padre Langlais nasceu em 1872 e faleceu em 1962, com noventas anos e no mesmo ano em que era restaurada a Província de Portugal. Alguma coisa certamente se lhe deve neste processo, e por isso aqui o recordamos.

O Padre Emile Alphonse Langlais com os Alunos do Curso de Padres Mestres de 1948-1949. Sentado encontra-se o Padre Langlais. De pé e a partir da esquerda para a direita: Bernard Farrely, da Argentina; Salvator Sanchez, da Colômbia; Edouard Marcotte, do Canadá; John Couwell, Santo Alberto dos EUA; Henri Dominique Laxague, da Congregação do Ensino, França; Pierre Ferrech, de Lyon, França; Antoine Haybrecht, da Bélgica; Salvator Buonocuore, de Roma.

O Padre Emile Alphonse Langlais no aeroporto de Lisboa.
A partir da esquerda: Padre Adriano Teixeira, o Padre Langlais, e o Padre Gaudrault.

O Padre Emile Alphonse Langlais no Colégio Clenardo.
Sentados: O Padre Langlais, o Padre Gaudrault com um aluno do Colégio diante de si e o Padre Sylvain.
De Pé: Frei Agostinho da Fonseca, frei António Mendes de Oliveira, Padre João de Oliveira, Padre Adriano Teixeira, Padre Domingos Nunes Martins, Frei Manuel Gonçalves, Padre Alberto Vieira.

Audiência do Papa Pio XII à Escola de Padres Mestres em 2 de Março de 1952, dia de aniversário de nascimento e elevação ao Trono Papal de Pio XII.
Da esquerda para a direita: Eugéne Cachia, Província de Malta; Benoit Breton, Província do Canadá; Michel Perbis, Província de Lyon, Jercutrus? Metherway, Província da Inglaterra; Emile Alphonse Langlais, Director da Escola; Pio XII; Arthur Alonso, Província de Espanha, Benoit Duroux, Província da Suíça; Robert Haro, Província de Quito; Isaac Liquete?, Província das Filipinas.

A vida social da Casa de Santa Filomena

As condições de habitabilidade e o espaço desafogado da Casa de Santa Filomena, à Rua D. João V em Lisboa, permitiram que imediatamente após a instalação dos padres canadianos se transformasse num ponto obrigatório de passagem, visita ou estadia.
É por esta razão que ao longo do seu único ano de existência encontramos diversos registos de passagens ou estadias na Casa, quer no livro de visitas, quer nas fotografias que em alguns momentos foram tiradas para recordação e memória.
Antes de mais, e como seria de esperar numa comunidade proveniente do Canadá, a grande maioria dos hóspedes e visitas são de origem canadiana, a maior parte membros da Igreja, mas não só.
Passaram por ali os bispos e arcebispos, Marie-Joseph Lemieux, Bispo de Gravelbourg, Reginald Duprat, Bispo de Prince-Albert, ambos dominicanos, Michael Cornelius O’Neill, Arcebispo de Regina, Philip Francis Pocock, Bispo de Saskatoon, Rosário Brodeur, Bispo de Alexandria, Alexandre Vachon, Arcebispo de Ottawa, e Joseph-Eugéne Limoges, Bispo de Mont-Laurier.
Passaram também os padres Roland Boyle e Lebel, jesuítas, o padre Brault de Sherbrook, o padre Pairier pároco de Cornwall, o padre Kempt de Ottawa, o padre Gareau assistente da JOC canadiana, o padre Adrien Pauliot Deão da Faculdade de Ciências da Universidade Laval, o padre Jean-Marie Beaumier de Trois-Rivieres, o padre Gagnou de Sherbrook, o padre Mooney de Montreal e o padre Bélanger de Ottawa, os padres Gerin e Quellette de Pont-Vian, os padres Petit e Beaudet do Seminário de Quebec, Olivier Manseault Reitor da Universidade de Montreal, e do Seminário de Quebec os padres René Garneau e Jean-Marie Fortier, e os seminaristas Bernard Marissette e Vachou.
Certamente numa mais que visita protocolar, jantaram com os padres dominicanos o Cônsul do Canadá em Lisboa, Lester Glass e a sua esposa, e o Vice-Cônsul Paul Campeau. Mas não foram as únicas autoridades civis, porque também Maurice Sauné e Henriette Becurque, advogados, e o juiz do Supremo Tribunal do Canadá Thibaudeau Rinfret, ali passaram, bem como Isabelle Hull e Madeleine Aharaud.
Ao numeroso grupo de visitas canadianas seguem-se-lhes os irmãos dominicanos de outras Províncias que passam por Lisboa, bem como alguns irmãos portugueses. Assim, passaram pela Casa de Santa Filomena o Padre Dominique Rambaud, de Lyon, o Padre Jean Courtois, de Paris, o Padre Langlais, Director da Escola de Padres Mestres em Roma, e que passou em dois momentos diferentes.
Do conjunto dos dominicanos portugueses passaram pela casa da Rua D. João V o Padre Tomás Videira, o Padre Francisco Rendeiro e o Padre Adriano Teixeira logo em Janeiro de 1949. No mês seguinte cabe ao Padre Gil Alferes passar por ali e em Março ao Padre Estêvão da Fonseca Faria. A comunidade do Colégio Clenardo, João de Oliveira, Alberto Vieira, Domingos Nunes e o irmão Agostinho passou por ali pelo menos no dia em que os professores do colégio se reuniram com os dominicanos canadianos. Os dominicanos irlandeses do Corpo Santo também não deixaram de marcar a sua presença
Por fim temos alguns outros sacerdotes estrangeiros que certamente teriam alguma relação de amizade ou conhecimento com os padres ali instalados, como são os padres Jacques Rousseau e Adrien Leluc, o padre Labelle da Fraternidade Sacerdotal, todos de Paris, e o padre Bauthal de Limestone USA.
Neste conjunto de visitas não podemos esquecer a visita dos Bispos Auxiliares de Lisboa, D. Manuel Trindade Salgueiro, Arcebispo de Mitilene e Irmão da Terceira Ordem Dominicana, e D. Manuel dos Santos Rocha, Bispo titular de Priene, os únicos membros da hierarquia da Igreja portuguesa a visitarem os padres dominicanos, nem esquecer os professores do Colégio Clenardo que passaram juntamente com os padres e irmãos que trabalhavam no colégio para pelo menos uma reunião de trabalho.
Contudo, e do conjunto de todas as visitas, a mais significativa foi certamente a do Mestre da Ordem, Manuel Suarez, que acompanhado do Padre Aguilar se encontrou com os dominicanos no final de Outubro de 1948, ou seja ainda antes de terminar o primeiro mês de instalação na Casa de Santa Filomena. Era certamente o aferir dos passos a dar, das diligências encetadas.
Os dominicanos estiveram apenas um ano na Rua D. João V e sabemos que desde o primeiro momento a grande preocupação do Vigário Geral Padre Gaudrault e todo o seu trabalho nesse ano se prendeu com a fundação do convento para a abertura do noviciado. Estas visitas foram um contrabalanço a essa preocupação, um desbravar de terreno no sentido da ajuda financeira para a obra a realizar e certamente uma forma de colmatar a distância da terra natal.

Visita dos Bispos e Arcebispo Canadiano 3 de Maio de 1949
Marie-Joseph Lemieux, Bispo de Gravelbourg, Padre Bauthal de Limestone, Michael Cornelius O’Neill, Arcebispo de Regina, Philip Francis Pocock, Bispo de Saskatoon.

Mesa do Jantar oferecido aos Bispos e Arcebispo do Canadá 3 de Maio de 1949
Marie-Joseph Lemieux, Bispo de Gravelbourg, Michael Cornelius O’Neill, Arcebispo de Regina, Philip Francis Pocock, Bispo de Saskatoon.

Passeio dos Bispos Canadianos por Lisboa
Padre Gaudrault de gabardina clara, rodeado dos bispos Pocock e Lemieux, a quem são engraxados os sapatos junto ao Cais das Colunas no Terreiro do Paço.

Jantar oferecido ao Cônsul do Canadá e sua Esposa? 16 Janeiro de 1949
À esquerda o Padre Sylvain, à cabeceira da mesa o Padre Pio Gomes e do lado direito o Padre Gaudrault entre o Cônsul e a esposa.

Grupo do dominicanos portugueses e canadianos
Primeira fila: Padre Alberto Vieira, ainda que não esteja ordenado nesta data, Padre João de Oliveira e Padre Domingos Nunes Martis,
Na fila de trás: Padre Pio Gomes, Padre Sylvain, Padre Gaudrault, Padre Gil Alferes e Padre Adriano Teixeira.

Grupo de Canadianos e portugueses
Primeira Fila. Padre João de Oliveira, Padre Reed, que na fotografia anterior era o fotógrafo e Padre Domingos Nunes Martins.
Fila de trás: Padre Pio Gomes, Padre Sylvain, Padre Gaudrault, Padre Gil Alferes, Padre Adriano Teixeira. O frei Alberto Vieira que estava na fotografia anterior é agora o fotógrafo.

Grupo do jantar com os Padres Irlandeses do Corpo Santo
Na fila de baixo: Desconhecido, Padre Alberto Vieira, frei Tomás Torres, frei Agostinho da Fonseca, Padre Reed, Padre Domingos Nunes Martins.
Fila Superior: Padre João de Oliveira, dois padres irlandeses, Padre Gaudrault, dois padres irlandeses e padre Pio Gomes.

Mesa do jantar com os padres irlandeses
Dois padres irlandeses, Padre Domingos, irmão Tomás Torres, Padre Reed, irmão Agostinho da Fonseca, Padre Alberto Vieira e Padre Pio Gomes.

Lado oposto da mesa do jantar com os padre irlandeses
Padre Gaudrault seguido do Padre Sylvain, três padres irlandeses por identificar e o Padre Domingos fitando a câmara.

Reunião de Trabalho com o Corpo Docente do Colégio Clenardo
Padre Domingos com a tonsura, três professores do colégio, Padre João de Oliveira, Padre Gaudrault, Padre Sylvain, Padre Alberto Vieira e um professor do colégio.

Reunião com os Professores do Colégio Clenardo
Padre Gaudrault, Padre Sylvain, Padre Alberto Vieira e professores do Colégio.

Jantar com os Professores do Colégio Clenardo
Professores, Padre João de Oliveira e Padre Gaudrault.

Fotografia do Grupo do Jantar com os Professores do Colégio Clenardo
Na primeira fila: Padre Alberto, professor por identificar, irmão Agostinho da Fonseca e outro professor.
Grupo central.: Padre Sylvain, Padre Gaudrault e padre João de Oliveira rodeado de professores.
No topo e junto ao quadro de Cristo o Padre Domingos Nunes Martins. Não está presente na fotografia o Padre Reed que uma vez mais faz de fotógrafo.





A Casa de Santa Filomena

A chegada a Portugal, no dia 19 de Setembro de 1948, dos Dominicanos canadianos Sylvain e Reed, o Padre Gaudrault tinha chegado na véspera, suscitou de imediato a questão da sua instalação condigna, uma vez que o Colégio Clenardo, a única casa dominicana em Lisboa, não tinha condições nem infra-estruturas para acolher o grupo dos recém chegados. Envidam-se assim todos os esforços para encontrar uma residência com capacidade e condições para ser a base do trabalho a desenvolver.
Depois de uma instalação provisória de duas semanas no Colégio Clenardo, os Padres Gaudrault, Sylvain e Reed mudam-se para um andar na Rua D. João V, às Amoreiras, para aquela que ficará conhecida com a Casa de Santa Filomena e onde viveram o primeiro ano da sua estadia em Portugal.
É uma casa nova, com boas condições de habitabilidade, que vai permitir que a partir dali se lancem as primeira iniciativas no sentido da restauração e se acolham muitos daqueles que contribuirão de forma significativa para ela.
É também nesse espaço que são instalados alguns dos equipamentos e material que os dominicanos canadianos trouxeram consigo, como a incipiente biblioteca e a pequena capela com todas as alfaias litúrgicas, prontamente modificada para nela poderem comodamente celebrar os três membros da comunidade e as visitas.

Fachada da Casa de Santa Filomena à Rua D. João V em Lisboa.

Fotografias das traseiras do Prédio onde estava a Casa de Santa Filomena.

Vista de Lisboa e da Mãe de Água das Amoreiras a partir da Casa de Santa Filomena.

















Os Padres Gaudrault e Sylvain no corredor e sala biblioteca da Casa Santa Filomena.

Quartos do Padre Gerardo Reed e Sylvain na Casa de Santa Filomena.

Quarto do Padre Gaudrault na Casa de Santa Filomena.

Primeira Capela da Casa de Santa Filomena.

Segunda Capela da Casa de Santa Filomena.

 










Altar de uma e outra capela da Casa de Santa Filomena.




Fotografia da primeira imagem de Nossa Senhora de Fátima adquirida para a Casa.










Fotografias das peanhas da imagem de Nossa Senhora e de Santa Filomena na Capela Nova.



domingo, 30 de outubro de 2011

Homilia do XXXI Domingo do Tempo Comum

As leituras deste domingo parecem dirigidas particularmente àqueles que ocupam lugares de ensino e pregação da Palavra de Deus. A condenação que a profecia de Malaquias apresenta relativamente aos serviços dos sacerdotes do templo de Jerusalém, o testemunho de São Paulo relativamente à sua missão junto dos Tessalonicenses e a chamada de atenção de Jesus face à duplicidade de critérios e atitudes dos fariseus e escribas, colocam na ribalta da nossa atenção os sacerdotes e todos aqueles que trabalham e dirigem a Igreja.
Contudo, não podemos apenas centrar-nos nessas pessoas e nesses lugares, porque se num primeiro momento a denúncia de Jesus se dirige aos que se sentaram na cadeira de Moisés, portanto àqueles que têm poder de ensino e governo religioso, essa denúncia visa no seu fim último colocar os discípulos de sobreaviso relativamente à qualidade das relações e vida que deve existir entre eles.
Neste sentido, não podemos esquecer que ao construir a sua crítica aos fariseus e escribas Jesus não coloca em questão a autoridade do ensino em si mesmo, Jesus não contesta a função que os escribas e fariseus exercem. Bem pelo contrário exorta mesmo os seus ouvintes a cumprirem o que os escribas recomendam e mandam, e se não é pelo exemplo de vida, que parece que não existe, que seja pela autoridade que deriva da própria função que exercem, da própria lei que servem e ensinam. Jesus exorta assim à obediência em virtude do que os fariseus e escribas ensinam, do que lhes é prévio, que é a Lei de Deus.
Não podemos esquecer também que nesta crítica que Jesus tece ao comportamento dos fariseus sobre o dizer e o fazer está patente uma condenação que se reparte e agrava por três âmbitos; ou seja, os fariseus e escribas são condenáveis antes de mais por infringirem a lei, depois por não a ensinarem correctamente aos outros, uma vez que a infringem e portanto testemunham erradamente, e por fim porque neste testemunho o seu mau exemplo ganha mais força corruptiva, na medida em que são tidos como mestres e como exemplo.
Mas, como se isto não fosse suficiente, Jesus desmascara ainda um outro comportamento também condenável, que é o sobrecarregar os outros com duros e pesados preceitos, exigências que não se está disposto a assumir, face às quais se permite a liberdade de as não cumprir mas que liminarmente se recusa aos outros.
Jesus coloca assim diante daquela multidão que o ouvia, dos discípulos e de cada um de nós uma oposição entre o que se diz e o que se faz. Contudo, necessitamos ultrapassar esse primeiro nível da evidência e perceber que de facto não existe oposição nenhuma, uma vez que aquilo que os fariseus e escribas não fazem não cria oposição. Não se trata de incoerência, que seria fazer o contrário, mas bem pelo contrário é uma dissociação entre o fazer e o dizer, uma fachada desabitada, um espectáculo vazio.
E para mostrar esta dissociação, este espectáculo, porque não se trata de outra coisa, Jesus apresenta os exemplos das borlas e das filactérias. Criadas pela lei da Aliança para recordarem ao homem a sua relação com Deus, acabaram por se tornar um mero adorno e um meio de manifestação de vaidade. A filactéria diante dos olhos e atada à mão (Dt 6,8) recordariam ao homem que a lei do Senhor deveria guiar as suas acções e deveria ser meditada todos os momentos da vida. As borlas do manto (Nm 15,37-41) tinham também a mesma função recordatória de povo eleito, povo chamado à santidade, e portanto com comportamentos e atitudes únicas.
Como diz São Jerónimo no seu comentário a esta passagem do Evangelho de São Mateus estes objectos tornaram-se “como armários cheios de livros mas sem qualquer conhecimento de Deus” (321). Ou pior ainda, transformaram-se em sinais e meios para buscar apenas a vã glória dos homens, de que os primeiros lugares nos banquetes e nas sinagogas é mais uma manifestação. Os homens passaram a viver em função da aparência, tendo como referência e ponto de consciência apenas o que os outros possam dizer. A alegria que gozam advém-lhes assim apenas da idealização da sua própria imagem.
Perante este desastre e o perigo que os discípulos podiam correr, e que nós também podemos correr, Jesus não se limita à mera condenação do comportamento dos fariseus, da falsidade da sua vida, mas apresenta o caminho para a salvaguarda de tamanha tentação, ou seja apresenta aos discípulos a humildade como forma de vencer essa dissociação entre o que se diz e o que se faz.
Humildade que passa por não permitir um qualquer tratamento de superioridade ou exclusividade, que passa como nos diz Jesus e São Paulo na Carta aos Tessalonicenses por se fazer o mais pequeno de todos, o último de todos. E não porque somos uns pequeninos, uns miseráveis, porque aceitamos viver em sindroma de inferioridade, pelo contrário, porque na nossa força, na nossa grandeza assumimos o amor maternal que nos faz colocar os outros primeiros, assumimos a humilhação do Filho de Deus que se fez homem para exaltar todos os homens à direita do Pai.
A humildade que Jesus nos convida a viver e nos propõe como remédio para essa duplicidade de vida, para a máscara que criamos tantas vezes, é a possibilidade de uma vida de qualidade, de uma vida em que as relações se estabelecem e constroem fundadas nessa certeza de que todos somos iguais porque filhos de Deus e irmãos em Jesus Cristo.
Saibamos nós querer, que é outra falta que Jesus aponta igualmente aos fariseus e escribas, que não querem mover nenhum fardo daqueles que impõem aos outros nem com um dedo. Saibamos nós querer e apliquemos todas as nossas forças e disponibilidade, porque na medida em que o fizermos Deus virá ao nosso encontro com o dom da fortaleza que nos faz enfrentar todos os desafios com esperança e confiança.
E que a Virgem Santa Maria, mulher que tudo fez para apenas ser vista pelo Senhor, interceda por nós.











sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Reginald Duprat Bispo de Prince-Albert em São Pedro de Sintra


O livro de visitas do Convento de São Pedro de Sintra permite-nos ter uma ideia do conjunto de pessoas que passaram por aquele convento e conviveram com a comunidade que o ocupou.
Já aqui nos referimos à pessoa do Arcebispo Marie Joseph Lemieux, e por isso não podemos deixar também de mencionar a passagem de Reginald Duprat, um outro bispo canadiano e igualmente dominicano.
E à semelhança de Lemieux também Reginald Duprat já tinha vindo a Portugal e gozado da companhia dos dominicanos canadianos. Dois anos, pouco mais ou menos, separam as duas visitas.
A primeira vez que Reginal Duprat esteve com os dominicanos canadianos foi em Setembro de 1949, quando ainda habitavam a Casa de Santa Filomena à Rua D. João V e poucos dias faltavam para a mudança para São Pedro de Sintra.
A segunda visita ocorreu estando os dominicanos já instalados em Sintra e fica a dever-se ao encerramento do Ano Santo de 1951 em Fátima, acontecimento para o qual se desloca de propósito a Portugal.
Segundo o Diário do Noviciado chegou a Sintra a 9 de Outubro de 1951 e regressou ao Canadá no dia 16 desse mesmo mês. Para os noviços foi um motivo de festa, pois no dia em que chegou houve “Benedicamos Domino”, ou seja possibilidade de conversa à mesa, e no dia em que partiu deixou chocolates para todos. Não podemos esquecer que as refeições eram em silêncio para se escutar a leitura que um dos irmãos fazia.

D. Reginald Duprat nasceu em 1877 e foi ordenado sacerdote dominicano em 1904. Em 1938 é nomeado Bispo de Prince-Albert, Canadá. Faleceu em 1954, pouco tempo depois de ter vindo a Portugal.
A fotografia é de 30 de Abril de 1947 e mostra D. Reginal Duprat com o Padre Sylvain aquando da visita à Paróquia de que o Padre Sylvain estava à frente.

Fotografia da Visita a Lisboa em 14 de Setembro de 1949. A partir da esquerda encontra-se o Padre Sylvain, D. Reginal Duprat, e duas figuras por identificar, mas que poderão ser Olivier Manseault, Reitor da Universidade de Montreal, e o Padre A. Arés, que assinam no mesmo dia o livro de visitas da Casa de Santa Filomena e são igualmente canadianos.

Fotografia da Procissão em Fátima no dia 13 de Outubro de 1951
Da esquerda para a Direita. Padre Reed, D. Reginald Duprat, Mestre da Ordem Manuel Suarez, Monsenhor Barbado Bispo de Salamanca, Padre Sylvain e na extremidade direita um sacerdote desconhecido.

Carta do Mestre da Ordem Manuel Suarez aos Dominicanos Portugueses

Prosseguindo a divulgação do espólio documental do período da restauração da Província Portuguesa da Ordem dos Pregadores apresentamos a carta que o Mestre da Ordem frei Manuel Suarez dirigiu aos Padres e Irmãos aquando da sua visita a Portugal em Julho de 1948.
É o resultado das diligências levadas a cabo pelo Mestre da Ordem após uma primeira visita, efectuada em Janeiro desse mesmo ano para conhecer a realidade dominicana portuguesa, e da visita à Província do Canadá realizada na primavera desse mesmo ano de 1948, e na qual obteve a ajuda necessária e desejada.
O grande interesse do Mestre da Ordem Manuel Suarez pela obra da restauração levá-lo-á a deslocar-se ainda uma terceira vez a Lisboa nesse mesmo ano de 1948, em Outubro, certamente para aferir das primeiras impressões dos Dominicanos canadianos entretanto chegados a Lisboa e instalados naquela que ficaria conhecida como a Casa de Santa Filomena.

Carta Circular aos Dilectos Padres e Irmãos Dominicanos da Vicararia Portuguesa

Desde o primeiro momento que tomámos sobre Nós o governo da Ordem, lançámos os nossos olhos sobre vós, desejando fazer ressurgir as antigas tradições da Ordem, tão gloriosas nesta vossa Nação.
Maus tempos fizeram que a Nossa Ordem quase se chegasse a extinguir entre vós. No entanto nada deixastes de intentar para lançar os sólidos fundamentos da vossa restauração.
Contudo, para que esta restauração se realize com maior rapidez, julgamos conveniente, como aliás também vós o julgastes, ajudar-vos com Padres de outras Províncias. De facto a Nossa Ordem constitui um corpo orgânico, a ponto de os diversos membros se prestarem mútuo auxílio.
Em primeiro lugar, nomeamos o Reverendíssimo P. Mestre e Ex Provincial, Fr. Pio M. Gaudrault para Nosso Vigário junto de vós. Se considerardes as qualidades deste vosso vigário, podereis também considerar a importância que damos a esta vossa completa restauração. Com efeito, o Reverendíssimo P. Gaudrault foi um professor emérito de Teologia no Estudo Geral da Província do Canadá, sendo laureado, segundo as normas das nossas Constituições, com o título de Mestre em Sagrada Teologia. Depôs foi Provincial da mesma ilustre Província do Canadá, durante oito anos, quando corriam os tempos mais difíceis tendo exercido ao mesmo tempo o cargo de Nosso Vigário junto da mesma Província. E, não obstante, as dificuldades dos tempos, quantas coisas fez para bem daquela Província! É efectivamente um dos Padres mais prestimosos daquela Nação.
Por isso, é para ter muito em conta o sacrifício deste Padre, que, tendo deixado a própria Pátria vos veio ajudar; o sacrifício daquela Província, que o conta entre os seus principais membros; e também o sacrifício da Ordem que o poderia escolher para cargos de maior responsabilidade.
É ainda a mesma Província do Canadá que vos enviará mais outros dois Padres, um dos quais, Doutor em Direito Canónico pelo “Angélicum”, foi Mestre de noviços, e conta-se entre os Padres graves daquela Província.
Por isso, Padre e Irmãos caríssimos, deveis ficar muitíssimo gratos para com essa ilustre e amada Província do Canadá.
Para que mais rapidamente possais conseguir maiores progressos, até a própria restauração da vossa Província, cada um de vós, na esfera da sua influência, deve dedicar a máxima atenção ao recrutamento das vocações dominicanas. Primeiramente atraindo com suavidade os rapazes que conheceis dotados das devidas qualidades. Depois, procurando que esses jovens sejam cuidadosamente formados na vida religiosa dominicana.
De resto, dilectíssimos Padres e Irmãos, trabalhai com perseverança nos diversos ministérios que a obediência vos designar.
Comunicamos-vos a Bênção Apostólica do Santíssimo Padre, Sua Santidade Pio XII, dada muito cordialmente para vós, na audiência privada que nos foi concedida no dia 1 deste mês.
A ela juntamos gostosamente a bênção do Nosso Pai São Domingos.
Dada em Lisboa, no dia 7 de Julho de 1948.
Fr. Manuel Suarez, OP
Mag. Gen.



quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Tomada de Hábito de frei Pedro Agostinho no Convento de São Pedro de Sintra a 17 de Outubro de 1950

A 22 de Março de 2010 divulguei aqui duas fotografias que pouco tempo antes me tinham chegado à mão via frei Vicente. Com elas foram fornecidas algumas informações que necessitamos corrigir, pois há dados que não estão correctos.
Assim, a Tomada de Hábito do frei Pedro Agostinho, no século António Augusto, ocorreu de facto no dia 17 de Outubro de 1950; mas, e contrariamente ao que nos tinha dito o frei Vicente quando entregou as fotografias, o frei Raimundo, o frei Gonçalo e o frei Rosário Francisco Mendes não estavam de regresso dos estudos em Espanha.
Bem pelo contrário, ainda nem sequer tinham ido para Espanha, ainda nem sequer tinham feito a profissão religiosa, que aconteceu apenas a 8 de Dezembro, um ano passado sobre a abertura do Noviciado em São Pedro de Sintra. Portanto, à data da Tomada de Hábito de frei Pedro Agostinho eram ainda todos noviços e estavam todos ainda em Sintra, embora uns a chegar e outros a partir.
Do grupo da fotografia o único que tinha estado fora e tinha regressado de Espanha, mais concretamente de Valência, onde tinha estudado, era o frei Raul Rolo.
Terminado o Noviciado no Convento de São Pedro de Sintra frei Pedro Agostinho seguirá para Camberiaci, Saint-Alban em França para realizar os seus estudos. Aí encontrar-se-á em 1952 com frei Vicente Santos, no ciclo da filosofia, e com frei Jorge Lereno já no ciclo da teologia. Em 1953 integrarão o grupo frei João Leite e frei Armindo da Costa Carvalho. Frei Pedro Agostinho deixará nesse mesmo ano a Ordem.

Fotografia do Grupo à porta do Convento
Primeira Fila: Frei Adriano Teixeira, padre Sylvain com a mão nos olhos, frei Pedro Agostinho, Padre Diamantino, Pároco de frei Pedro Agostinho no Porto, de onde era natural, e frei Bartolomeu Martins.
Segunda Fila: Frei Raul Rolo, frei Rosário Francisco Mendes, frei Teófilo Fróis, frei Vicente Santos
Terceira Fila: Frei Sérgio Astolfi, italiano.
Última Fila: Frei Gonçalo Vaz e frei Raimundo Gonzaga.

Fotografia do Grupo no jardim
Da esquerda para a direita, linha da frente: frei Rosário Francisco Mendes, frei Sérgio Astolfi, padre Sylvain, frei Pedro Agostinho, Padre Reed e frei Gonçalo Vaz.
Linha de trás: frei Teófilo Fróis, frei Raimundo, frei Raul espretiando entre o frei Pedro Agostinho e Padre Reed, frei Adriano Teixeira e frei Vicente olhando para o lado.

Frei Pedro Agostinho com frei Adriano Teixeira.

Frei Pedro Agostinho em Camberiaci, Saint-Alban em Abril de 1953.

Grupo dos Estudantes de Camberiaci, Saint-Albain em 1953
Frei Vicente Santos, frei João Leite, frei Pedro Agostinho, frei Armindo Carvalho e frei Jorge Lereno.

Noviciado em Sintra de frei Vicente António Augusto Vieira dos Santos

No dia 26 de Julho de 1950, dia em que se concluía no Convento de São Pedro de Sintra um retiro pregado pelo Padre frei Francisco Rendeiro e no qual tinham participado todos os frades da Província, tomavam Hábito de noviços dominicanos frei Vicente Vieira dos Santos e frei Teófilo Fróis também chamado por Paulo Gaspar.
Eram mais dois elementos que se juntavam aos outros que já viviam no noviciado, “uma ridente esperança, como diz a Crónica do Noviciado, num noviciado que começava com tantas dificuldades”.
Contudo, estes dois elementos distinguiam-se à partida dos outros quatro elementos que tinham vindo da Escola Apostólica de Aldeia Nova e tinham iniciado o Noviciado no dia da abertura do Convento. Frei Vicente entrava para o noviciado depois do quinto ano do liceu, que deixava de frequentar em Lisboa, e frei Teófilo Fróis natural de Viana do Castelo era já formado em Farmácia.
A idade, ambos mais velhos que os elementos do grupo inicial, e a experiência da vida na cidade de um e outro propiciaram a amizade que se estabeleceu naturalmente entre eles e que de alguma forma os destacou do resto do grupo.

Frei Vicente Vieira dos Santos com duas pessoas da família no dia da tomada de Hábito no Convento de São Pedro de Sintra a 26 de Julho de 1950.

Frei Vicente Vieira dos Santos e Frei Teófilo Fróis (Paulo Gaspar) brincando com a carroça da Quinta de São Pedro de Sintra. Frei Vicente é o que está sobre da carroça.

Frei Vicente à conversa com Ferreira da Silva aquando da passagem deste pelo Convento.

Visita dos Oficiais da Marinha Canadiana ao Convento de São Pedro de Sintra

Como já dissemos, a presença dos dominicanos canadianos em Lisboa e de modo muito particular na bela Quinta de São Pedro de Sintra deu ensejo a que por ali passassem muitas individualidades de origem canadiana.
Assim, no dia 3 de Novembro de 1950 um grupo de Oficiais da Marinha Canadiana com o seu Capelão visitou o convento e a comunidade ali instalada. Através do livro de visitas podemos saber que eram, o Oficial Barlow, Ongsko, Caté, Vaillautcourt, um outro cujo nome não foi registado, e o Capelão Mc. Posaac.
Pelas fotografias podemos confirmar a presença já na comunidade do Padre Joseph Agius, vindo dos Estados Unidos no dia 15 de Outubro com a missão de integrar a equipa da restauração da Província Portuguesa, e a ausência do Padre Gaudrault que estava pelo continente Americano a recolher fundos para a obra do convento e que só regressará a Lisboa no dia de Dezembro, véspera da Profissão Simples dos primeiros Noviços.

Grupo dos Oficiais da Marinha Canadiana com os Noviços
Primeira Fila: Capelão Canadiano Padre Possac e noviço frei Gonçalo Vaz.
Segunda Fila: Oficial Canadiano, noviço Pedro Agostinho, Oficial Canadiano e noviço frei Raimundo Gonzaga.
Terceira Fila ao Centro: Oficial Canadiano e frei Vicente Vieira dos Santos.
Quarta Fila, topo da escada: Oficial Canadiano, noviço frei Rosário Mendes, Oficial Canadiano e noviço frei Teófilo Fróis.

Grupo dos Oficiais da Marinha Canadiana com Noviços e Padre Mestre
Primeira Fila: Noviços frei Teófilo Fróis, frei Pedro Agostinho, frei Rosário Mendes, frei Raimundo Gonzaga e frei Vicente.
Segunda Fila: Noviço Gonçalo Vaz escondido atrás do Oficial Canadiano, Padre Sylvain, Capelão Canadiano e Oficial Canadiano.
Terceira Fila: Padre Reed e três Oficiais Canadianos.

Grupo dos Oficiais Canadianos com os Dominicanos Canadianos
Primeira Fila: Padre Sylvain, Capelão da Marinha, Padre Reed e Oficial Canadiano.
Segunda Fila: Oficiais Canadianos.

Grupo dos Oficiais Canadianos com o seu Capelão na entrada do Convento de São Pedro de Sintra 3 de Novembro de 1950

Capelão Canadiano com o grupo dos Noviços de São Pedro de Sintra
Fila da Frente: Frei Pedro Agostinho, Capelão Canadiano e frei Rosário Mendes.
Atrás: Frei Teófilo Fróis, frei Gonçalo Vaz, frei Raimundo Gonzaga e frei Vicente Santos.

Grupo dos Noviços com os Padres da Comunidade
Primeira Fila. Padre Joseph Agius, frei Pedro Agostinho, Padre Sylvain, frei Rosário Mendes, Padre Reed.
Atrás: frei Vicente Santos, frei Raimundo Gonzaga, frei Teófilo Fróis e frei Gonçalo Vaz.

Grupo dos Padres Dominicanos com o Capelão da Marinha Canadiana
Padre Reed, Padre Joseph Agius, Capelão e Padre Sylvain

Grupo dos Noviços Clérigos com o Padre Mestre na Visita dos Oficiais Canadianos
Primeira Fila: frei Pedro Agostinho, Padre Sylvain, frei Rosário Mendes e frei Gonçalo Vaz muito divertido.
Segunda Fila: frei Vicente Santos, frei Raimundo Gonzaga e frei Teófilo Fróis.